Maio_2009 - page 87

Manolita
Correia Lima
maio
/
junho
de
2009 – R e v i s t a d a E S P M
81
buscadeunificar os povos edispor
de uma base capaz de sustentar
a formação de uma identidade
nacional, os governos impuseram
o uso de determinada língua na
expectativa de alcançar uma espé-
cie de padronização do processo
de comunicação por meio do uso
de uma língua oficial pelas insti-
tuições vinculadas àadministração
pública, à educação, à Igreja e ao
comércio. Exemplos disso seria o
desaparecimento ou franco enfra-
quecimento de línguas e dialetos
existentes na Itália, França,Alema-
nha e Espanha
3
.
Os movimentos expansionistas e
respectivosprocessosdecolonização
na Ásia, Oceania, África eAméricas
tambémserviramdecombustívelpara
eliminar ou, nomínimo, enfraquecer
diversas línguas ao impor o uso de
línguas transplantadas de outras geo-
grafias
(SANTOS, 2002, p.109), tam-
bémnomeadasdeas
grandes línguas
coloniais
– inglês, espanhol, francês,
português. Se assim não fosse, como
explicar a existência de países que,
apesar de modestos em território e
população, sua línguaoficialestáen-
treas dozemais faladas nomundo?
Nestecaso,há inequívocoprocesso
de
desterritorialização da língua
usando a terminologia adotada por
Milton Santos (2002) – a exemplo
do português no Brasil, espanhol
noMéxico, francês no Canadá, ou
do inglês naAustrália (Tabela n
o
1).
Na sociedade do conhecimento,
a revolução das tecnologias de
informação incide sobre a rapidez
do registro e acesso aos fluxos de
informação hegemônica por meio
das
infovias globais
– responsáveis
pela subversão na noção de tempo
eespaço.Nestecontexto, apossibi-
lidade de utilizar o próprio idioma
determinaprocessosde inclusãoou
exclusãodos indivíduosàsociedade
do conhecimento. Na tentativa de
alcançaraunificaçãodeuma racio-
nalidade que visa a exploração de
instrumentosdeaçãocapazesdeas-
segurar a implantaçãogeneralizada
dafluidezaserviçodopragmatismo,
o inglês se impõe como o código
comum de linguagem e ameaça as
linguagens territoriais.
Esta constatação autoriza Milton
Santos (2002, p.110), a afirmar
que, “nas condições atuais, tudo o
que se refere às ações hegemôni-
cas na vida econômica, política e
cultural parece sedizer em inglês.”
Contudo, o Autor chama atenção
para um aspecto fundamental: “da
mesma formaquenãoexisteespaço
global, senão espaços de globali-
zação, também não existe língua
universal, senãoapenasuma língua
universalizante” (p.110). Com a
preocupação de ser claro, Santos
esclarece que enquanto os novos
espaços linguísticos são espaços
instrumentais, as linguagens territo-
riais correspondemaespaços vitais
porque orgânicos (p.110).
O fatodediversas línguas nãodispo-
remde conteúdona internet e ainda
nãoexistir ferramentasemcondições
degerar informaçãonessas línguasou
traduzi-la, parece revelador. Conse-
quentemente, extensões importantes
da populaçãomundial estão impos-
sibilitadas de usufruir os benefícios
decorrentes do avanço tecnológico e
de teracessoa informaçõesrelevantes.
“Sem ações que se contraponham a
essa situação, há risco de perda de
diversidadeculturalnasredesde infor-
maçãoedeampliaçãodasexistentes
desigualdades socioeconômicas.”
4
.
Na sequência, discutir-se-á a po-
lítica de multilinguismo na União
Europeia e noBrasil.
União Europeia –
inva-
rietateconcordia
Em suaversãomais recenteaUnião
Europeia é formada por 27países e
envolveaconvivênciade23 línguas
oficiais. Com a preocupação de
aproximaroscidadãoseuropeus in-
centivandoofluxodecomunicação
entre eles
(a)
, desenvolvendo uma
cultura de respeito à diversidade
cultural e linguística entreos países
damacro-região
(b)
,econsolidando
a formaçãodeuma identidadeeuro-
peia
(c),
foi instituída uma política
comprometida com a diversidade
linguística de modo que todo o
cidadãodaEU tenha incentivopara
aprender, pelomenos, duas línguas
além da língua materna. Nessa di-
reção foram criados programas de
cooperação que incluem intercâm-
bios de estudantes e professores,
desenvolvimento de metodologias
AnthonyGiddens afirma
que“o domínio de outras
línguas abre o espírito do
estudioso a outrosmodos de
organizar o conhecimento.”
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