Manolita
Correia Lima
maio
/
junho
de
2009 – R e v i s t a d a E S P M
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indireta: 45% apreciam a cozinha
estrangeira. Para 88% a cultura e
as trocas culturais podem exercer
grande importância porque aju-
dam a ampliar a compreensão e a
tolerância em relação aos outros –
sublinha-se que
tolerar
equivale a
suportar o diferente, diversamente
de compreender e crescer com a
diferença. E para 84%, a Europa
é reconhecida como uma região
privilegiada em virtude da herança
cultural e dos valores que cultiva e
por esta razão pode contribuir de
forma singular para a tolerância no
mundo. Talvez esta visão eurocên-
trica, inspiradano
darwinismosocial
(que reconhece a cultura europeia
como o estágio mais desenvolvido
dahumanidade), estejadesconside-
randoque, com a desintegraçãoda
União Soviética, a queda doMuro
deBerlimeaexplosãodaatual crise
do sistemafinanceiroumaalteração
da arquitetura geopolítica está em
cursoepromove transformações im-
portantes: odesenhodeum
mundo
unipolar
– na direção do conceito
de
totalitarismodemocrático
global
proposto por Alexandre Zinoviev –
cede lugar para a configuração de
um
mundomultipolar
– na direção
doconceitode
diálogodas culturas
proposto por Mohamed Khatami
(GRESH, 2008; PAVLOV, 2000).
Apesardeoscontatos transnacionais
ocorrerem predominantemente na
mesa, quando interrogados sobre o
interessedeencontrar cidadãosori-
ginários de outros países europeus,
de um total de 63%, manifestaram
muito interesse
(19%) ou simples-
mente
interesse
(44%).Compreensi-
velmente,opercentualde interessa-
dos seamplia sobremaneiraquando
se extraem as respostas de grupos
sociodemográficosespecíficos:76%
dos respondentesqueestãona faixa
etáriade14a24anos têm interesse
em encontrar europeus de outros
países e o percentual alcança 80%
quando se leva em consideração o
grupo formadoporestudantesepro-
fissionaisqualificados. Infere-seque
quantomais jovens, esclarecidos e
expostosaomundodo trabalhomais
atraídos pelo diálogo intercultural.
Neste contexto, não causa surpre-
sa que 60% dos respondentes se
revelem interessados em aprender
ou aperfeiçoar um idioma estran-
geiro. Parece sintomático que o
interesse reveladopor responden-
tes depaíses que têm como
língua
nacional
uma
língua colonial
seja
apenas moderado: classificando
os 27 países por ordem de inte-
resse em aprender uma língua
estrangeira, aFrançaocupouo13
o
lugar (63%), o ReinoUnido ficou
em 14
o
(63%), a Espanha atingiu
o21
o
(52%) ePortugal semanteve
em24
o
(47%).Compreensivelmen-
te, os respondentes mais jovens
(83%), de um nível de escolari-
dade mais elevado (77%), que
nasceram fora da Europa (76%) e
que trabalham (82%) – compara-
tivamente aos aposentados (31%)
– se revelaram particularmente
interessados em aprender uma
língua estrangeira.
Quais seriam os interesses mo-
tivadores da aprendizagem de
uma segunda língua? Apesar de
as respostas variarem, prevalecem
os interesses particulares: 51%
associam o interesse à satisfação
pessoal, 37% associam à possi-
bilidade de compreender melhor
as pessoas provenientes de outra
cultura. Para72%osmotivos estão
associados ao trabalho: possibili-
dade de aplicar o que aprendeu
na realização do trabalho (28%),
ampliar as chances de trabalhar
emumoutropaís (25%) e de con-
quistar umapromoçãoprofissional
(19%). Para 17% a aprendizagem
de uma língua permite o acesso a
bens culturais disponíveis em ou-
tra língua (jornais, livros, cursos,
filmes etc.). Apenas 9% associam
a aprendizagemda língua àpossi-
bilidade de estudar em outro país
e 6% ao fortalecimento de uma
identidade europeia.
Ao serem interrogados sobre a
formamais eficientede aproximar
os europeus e estabelecer um am-
biente propício ao diálogo inter-
cultural, as respostas seconcentra-
ram em duas alternativas: investir
em programas que promovam o
ensinode línguas estrangeiras nas
instituições educacionais (56%)
e na ampliação de programas
que promovam a mobilidade de
estudantes e professores (41%).
Coerentes com as respostas regis-
tradas, os respondentes identifica-
ramos governos nacionais (50%) e
as instituições da EU (44%) como
protagonistas das iniciativas cul-
turais suscitadas.
Como a preocupação com omul-
tilinguismo tem se manifestado
no Brasil? Qual tem sido o papel
de governos e famílias na apren-
dizagem de línguas estrangeiras?
Até que ponto o acesso ao ensino
de línguas estrangeiras tem sido
democratizado no País? São as
î