Mesa-
redonda
R e v i s t a d a E S P M –
maio
/
junho
de
2009
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JRWP
–Agradecemos a presença de
cada um de vocês.Vou passar a pa-
lavraaoProf.Gracioso,presidentedo
ConselhoEditorial,paraexporo tema.
Gracioso
–O tema deste debate
baseia-se no título de um livro de
WendellWillkie. Em certomomen-
to, ele não fala de ummundo só,
mas sim de ummundo interdepen-
dente–que talvez sejaacoisamais
próximadaunidade àqual podere-
mos chegar. Se perguntássemos a
um antropólogo se é possível que
o mundo se torne um só, ele riria
de nós – as diferenças genéticas e
culturais são tãoprofundas...Talvez
averdadeiraquestãonem sejaessa:
se é provável ou improvável que o
mundoseaproximeaindamais,mas
sim sabermos se istoédesejável. Eu,
pessoalmente,creioqueobemmais
preciosodahumanidadeéa suadi-
versidadecultural egenética.Assim
como levantam bandeiras: salvem
as focas ou salvem os orangotan-
gos, ou salvem a biodiversidade,
nós deveríamos começar a pregar
“salvem a diversidade cultural da
humanidade”,queéonosso legado
mais precioso. Entretanto, quando
essas culturas diferentes entram em
contato, interagem, sabemos quan-
tos problemas ocorrem. Creio que
podemos começar a partir daí. Por
que os homens são tão diferentes e
oque fazerparaqueessasdiferenças
preservadas cheguem a dar frutos
comuns para todos nós?
JRWP
– Eu só acrescentaria, a essas
várias faixas a que você se referiu,
juntocom salvemas focas, os ursos
etc., eu incluiria uma faixa salvem
a humanidade, para só depois en-
trar com o “salvem a diversidade”.
Comovocêspodemnotar,mesmoos
moderadores não estão ainda cem
por cento de acordo.
JorgeMontecinos
–Eucolocaria
ohomemnocentrodadiscussão.Por
exemplo, quando se faladabiodiver-
sidade,desalvaromico leãodourado,
nodevastamentodaAmazônia, acre-
dito que o homem estaria no centro
deste Grande mundo só. Tem-se a
impressão de que, depois de muito
tempo, voltamos àCavernadePlatão
no sentidodo grande dilema: ou sair
daCavernaouficar sendo seueterno
prisioneiro.Como“prisioneiro”, esta-
mos acorrentados a esse preconceito
que o homem tem para saber quem
é, o homem que nós desejamos. Em
teoria política ou em filosofia, sem-
pre se fala desse homem desejado,
mas pouco se fala do homem real,
sujeito à cobiça e às pressões em
nomeda sociedade, que cada vez se
exacerbammais.Observamos issonos
nossos alunos que dizem “eu quero
serrico,professor,queroganharmuito
dinheiro,queroandardeFerrari”,eeu
respondo: “isso éótimo, eu também;
entãovamos todos lutaremconjunto”.
Masa felicidadeestádentrodele;essa
saídadacavernaéa felicidade.
JRWP
–Édelicado falardo“homem”,
quandosomosseisbilhõesdehomens
emulheres.
Rosa Alegria
– Você usou esta
expressão “felicidade”. Muito opor-
tuna, porque todos sabem que o
PIB – amétrica tradicional demedir
a “riqueza” das nações – está na
berlinda.Elenãoconsegue fazeruma
leitura da complexidade do que é o
conceitode riqueza.Nessemomento
deexaustãode recursos,deexplosão
social e de crise exponencial, acho
muito saudável repensar sobre os
fundamentos do que passou a ser
aceito como verdades cristalizadas
sob a ótica do “desenvolvimento”
– também sob a influência norte-
americana. Tecnicamente falando,
paraoPIB,não importaseumaárvo-
re foicortadapara fabricarummóvel,
que se torna um produto de valor e
éexportado; umacidenteaéreo, por
exemplo, gera pontos no PIB em
função das atividades em torno do
acidente, que cria “valor” em todo
o sistemaeconômicocomo seguros,
transportes, cuidadosmédicos etc.
JRWP
–Sem ir tão longe,oscongestio-
namentosde trânsitoaumentamoPIB.
RosaAlegria
–Naminhaopinião
o conceito de PIB está totalmente
obsoleto por não responder mais à
complexidade domundo e às novas
necessidades da humanidade. Está
havendoum aumentononúmerode
tesesacadêmicas sobreoconceitode
Felicidade – que, de algo subjetivo,
etéreo, passoua ser umaciência.
JRWP
–Felicidadologia?
Rosa Alegria
– São as Ciências
Hedônicas. De oito mil, passamos
para32mil
papers
hoje,publicados
sobreo tema.A felicidade, alémde
ser algo difícil de definir – e que se
baseia em diferentes versões cultu-
rais – adquire certa objetividade,
pormeiodesses estudos científicos.
Elesmostramqueospaísesquemais
cresceramo seuPIB, nosúltimos50
anos, comoEstadosUnidose Japão,
tiveramuma curva exponencial de-
crescenteno índicede felicidade.O
Butão–umpaísquemuitaspessoas
nem sabemqueexiste, estánomeio
dosHimalaias–éoque temo índice
mais alto de “FIB”.