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R E V I S T A D A E S PM–
M A R Ç O
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A B R I L
D E
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GRACIOSO
– Gostaria de iniciar,
fazendoumapergunta ligadaao seu
setor, como presidente da ABIEC –
AssociaçãoBrasileira das Indústrias
Exportadoras deCarne. Como vai a
exportação de carne brasileira?
PRATINI
– O Brasil assumiu em
2003–eampliouem2004–aposi-
çãode lídermundial emexportação
de carne bovina. Somos um tra-
dicional exportador de carne,
porém, desde a Primeira Guerra
Mundial, o país exportava carne
enlatada. Só recentementepassoua
ser um exportador importante de
carne fresca,congeladaou resfriada.
Foi nesse segmento que tivemos o
maior desenvolvimento, particular-
mente nos últimos quatro anos. Até
1999, a participação do Brasil no
mercado internacional era limitada.
Inclusive,duranteanos, importamos
carnes. Chegamos a importar carne
deChernobyl –carnecontaminada.
MasagoraoBrasilé líderemvolume
e issodecorrede três fatores: Opri-
meiro foi o extraordinário avanço
nos setores de sanidade animal – a
erradicação da febre aftosa, a com-
provaçãoda inexistênciadadoença
davaca loucaeaampliaçãodoscui-
dados no âmbito dos produtores,
municípios,EstadosedaUniãoatra-
vésdoMinistériodaAgricultura,dos
mecanismos de controle e cer-
tificação de qualidade.
GRACIOSO
–Vocêcreditaosbons
resultados na exportação de carne
ao avanço da qualidade.
PRATINI
–Qualidade e sanidade.
São os dois fatores fundamentais.
Separo-os, porqueaquestão sanitá-
ria transformou-se, não sónum ins-
trumentodeacessoaomercado,mas
também num instrumento de res-
trição. “Restrição sanitária”éonovo
nome do protecionismo interna-
cional em relaçãoàcarne.O segun-
do fator é a questão genética – tec-
nologia. Houve uma grande me-
lhoria genética do nosso rebanho,
queéomaior rebanhocomercialdo
mundo – devemos ter hoje 190mi-
lhões de reses nos pastos – e a ge-
nética moderna permitiu carne de
melhorqualidade,animaisprecoces
emelhor oumenor taxadeconver-
são e alimentopara cá, empeso vi-
vo.O terceiro fator foi aaberturade
novos mercados no plano inter-
nacional, viabilizada em função da
melhoria da questão sanitária e da
qualidade da nossa carne.
GRACIOSO
–Eo fator político?A
habilidade de negociar bons acor-
dos comerciais e romper barreiras
protecionistas?
PRATINI
–Nãohádúvida.Hádois
componentes nomarketing da car-
ne: omarketing comercial e omar-
keting institucional, que é a tarefa
do governode abrirmercados. Essa
éuma tarefa fundamental,queexige
uma ação direta, forte, proativa,
insistenteepermanente.Nãosópara
abrir mercadosmas paramantê-los
abertos. Vivi isso no Ministério da
Agriculturaeéumaarticulaçãoentre
osetorprivado,oMinistériodaAgri-
cultura e o Itamaraty. Usei muito a
ação externa, de forma pessoal e
comaajudado Itamaraty,paraabrir
novos mercados para a carne bra-
sileira, vencendo as barreiras técni-
cas e sanitárias impostas anterior-
mente. Hoje, o Brasil vende carne
para143países; vendíamospara40
há sete anos. Isso é fruto de ações,
acordos bilaterais, sanitários – al-
guns acordos multilaterais, mas,
basicamente, é uma ação de mer-
cado-a-mercado, porque a expor-
tação de alimentos – em particular
adecarne–pressupõeaaprovação
dos critérios sanitários de países
exportadores, eaelaboraçãodeum
certificado sanitário acordado entre
os dois países. Isso não se faz por
exemplode formamultilateral;mas
bilateral, e envolve inovação polí-
tica, presença intensaemuitanego-
ciação.OBrasil também foiajudado
por dois fatores: oepisódioda febre
aftosanaEuropa, davaca loucanos
EstadosUnidos enoCanadá–ede-
pois, na Inglaterra e Europa. A de-
terioração das condições sanitárias
dessas regiões,aliadasao fatodeque
nós produzimos um animal de
campo – o boi brasileiro é boi de
capim, portanto, uma carne natural
– ajudaram a transformar a carne
brasileira numa grande alternativa
para o país.
GRACIOSO
–Umavantagemcom-
petitiva, portanto.
PRATINI
– Ao discutir competiti-
“PRECISAMOS EXPORTAR SEMPRE
PRODUTOS COMMAIOR VALORAGREGADO.”
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