Marco_2005 - page 115

Pontode
Vista
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R E V I S T A D A E S PM –
M A R Ç O
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A B R I L
D E
2 0 0 5
virada do século 20/21. Mudanças
semelhantes parecem estar ocor-
rendo em outras regiões da Ásia.
Atualmente, acomposiçãodenossa
pautadeexportações (50%produtos
básicos e semi-elaborados, 50%
produtosmanufaturados) é típicade
uma transição incompleta. Dada
nossa dotação natural de fatores de
produção, é provável, e desejável,
que produtos básicos tenham um
papel permanentemente mais im-
portantenoBrasil doqueempaíses
como Japão eCoréia. Se quisermos
avançar na escala de valor adicio-
nado, será preciso aumentar a qua-
lificação da nossa mão-de-obra
(esta ainda passa menos tempo na
escolaque trabalhadoresargentinos
ou chilenos, sem falar daqueles lo-
calizados em países avançados, ou
em rápido desenvolvimento, como
os asiáticos). Ademais, seria impor-
tante obter maior retorno, em
termos de pesquisa tecnológica de
ponta, do que temos obtido até
aqui, se compararmos com países
como Índia e China
.
O montante
total gasto em educação pública
não parece ser insuficiente, levan-
do-seemcontaos três níveis dego-
verno, mas o foco e a eficácia pa-
recem inadequados, afetando a
competitividade brasileira. Precisa-
remos, cada vezmais, ser competi-
tivos internacionalmente. O ca-
minho é a educação.
A
ES
PM
noção de competitividade é fre-
qüentementemencionadanodeba-
te sobrepolíticas públicas noBrasil
e no exterior. Certas abordagens
tratam da competitividade como
um índice que resume vários fato-
res, como o ambiente de negócios,
determinantes para a atratividade
decertopaíscomodestinode inves-
timentos estrangeiros. Nossa carga
tributária relativamente elevada re-
duz a competitividade sob esta óti-
ca. Outra visão afirma que países
sãomais competitivos naprodução
de certos bens ou serviços quando
usammenos recursos na produção
do que em outros. Esta noção é fa-
cilmente aplicada no que se refere
à produção agrícola, usando o
critério de rendimento por hecta-
re, e corresponde,
grossomodo
, ao
que os economistas denominariam
de “vantagens comparativas abso-
lutas”. Mas o comércio internacio-
nal é regido por um conceitomais
sutil, ode “vantagens comparativas
relativas”, segundooqual as trocas
entredois países refletemos termos
de troca internos e não apenas as
diferenças de custo de produção
internacionais.
Vantagens comparativas refletem
as dotações naturais de cada re-
gião. Assim, países que possuem
ampla disponibilidade de terras
agricultáveis, com relativa escas-
sez de mão-de-obra por hectare,
tendem a possuir vantagens com-
parativas, competitividade, na pro-
dução agrícola. Por outro lado,
países comabundânciademão-de-
obra tendem a ter vantagem com-
parativa na produção de bens
intensivos no fator trabalho. Esta é
a situação daChina. Já países onde
o fator capital é relativamente
abundante, comoos EUA, têmvan-
tagens no que se refere à oferta de
bens e serviços capital-intensivos.
Em ummundo “liberal” hipotético,
no qual as dotações de fatores de
produção estão dadas, e livre co-
mércio internacional, o Brasil im-
portaria tecnologia e produtos
trabalho-intensivos dos EUA e da
China, respectivamente, e expor-
taria produtos agrícolas e de ex-
tração mineral a estes países. Esta
organização espacial da produção
tenderia a maximizar o bem-estar
econômico das diversas regiões.
Ocorrequeestamosmuitodistantes
dessa realidade: o comércio inter-
nacional, especialmente de produ-
tos agrícolas, não se dá sobnormas
liberais, e dotações de fatores de
produçãomudamcomo tempo.Por
exemplo, o Japão passou de país
exportador de produtos trabalho-
intensivos, com baixa densidade
tecnológica, na virada do século
19/20, paraumdosmaiores centros
no desenvolvimento e exportação
de produtos capital-intensivos na
Fábio Barbosa – Presidente do Banco Real ABN-AMRO
DO BRASIL
CONSIDERAÇÕES SOBRE
FÁBIOBARBOSA
COMPETITIVIDADE
1...,105,106,107,108,109,110,111,112,113,114 115
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