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R E V I S T A D A E S PM–
M A R Ç O
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A B R I L
D E
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ganhar,mereço; seperder,preciso”.
Isso mostra como os franceses são
mestres nomarketing.
PRATINI
–Precisamoscriarmarcas
brasileiras noexterior.ASadiaéum
sucesso. Vejo-a, por exemplo, em
Moscou – caminhões distribuindo
com a marca Sadia. É um sucesso
noOrienteMédio,maséumsucesso
no Brasil. Há quantos anos come-
moso frangodaSadia, salsichasetc?
Então, precisamos valorizar as
nossas marcas. Vou dar exemplos.
Quando estava no governo, apoiei
muitoacachaçamineira,deSalinas.
Hoje a cachaça mineira tem pro-
gramasdequalidadeecontrole. Em
2001, abri uma exposição de ca-
chaçaemBeloHorizonteeo jornal
publicou: “Pratini,ocachaceiro”,de
uma forma pejorativa. E respondi:
tenho muito orgulho porque estou
valorizando o produto brasileiro
mais consumido no país.
Hoje, hácontroledequalidade–os
mineiros criaram um selo de qua-
lidade.AcachaçaHavanaévendida
por U$S 150 a garrafa. Preocu-
param-se com qualidade, cons-
truírammarca.Hoje, ascachaçasde
Salinas são conhecidas na Alema-
nha, Dinamarca, Suécia.
GRACIOSO
– Já tomei cachaça
brasileira na Alemanha, servida
como artigo de luxo.
PRATINI
–EmNova Iorque,osbons
cafés, bares ou restaurantes
oferecem caipirinha com boas ca-
chaças.AchurrascariaFogodeChão
– que é brasileira – tem filiais em
Houston, Austin; abriu uma, agora,
emBeverlyHills, obairromais chi-
que deHollywood. Há dezenas de
churrascarias brasileiras no exterior
eestou incentivando issopelaABIEC
porque temos que mostrar a eles
comocomemosanossacarne, valo-
rizandoanossachurrascaria...Gos-
tamos de churrasco, vamos à chur-
rascaria, então temos que vender
isso lá fora. Quer conhecer a carne
brasileira, vá a uma churrascaria. E
ai vendemos a carne, o limão do
Piauí, para fazer a caipirinha com a
cachaça,quepode serdeSãoPaulo,
MinasGerais,RioGrandedoSul ou
Pernambuco, vendemosos sucosde
frutas brasileiros, o açaí, maracujá,
e vendemos, hoje, doces, aipim,
banana para acompanhar o chur-
rasco. Na medida em que vamos
criando o conhecimento e o hábito
de comer àmoda brasileira, o pro-
duto brasileiro vai junto. Foi assim
que os franceses fizeram. Lembro-
me de quando estava em Paris, há
alguns anos, comumgrupodegaú-
chos–calçadistasqueestavam indo
à feiradeParispara tentar vender os
seus calçados. Fomos a um res-
taurante e as pessoas que nos
convidaram – franceses – escolhe-
ram o cardápio, e o primeiro prato
era escargot. Aí, o gaúcho – que
estavadomeu lado–disse: “Eunão
como lesma”.Sóque lesma francesa
vem num prato bonito, com azeite
deoliva, alho, salsinha, vinhoespe-
cial. Émarketing. Éessacapacidade
que ainda não adquirimos; então
vamos adquiri-la. Acho que deve-
mos fazer duas coisas para criar
marcas brasileiras. A primeira é
valorizar o produto brasileiro aqui
dentro,exigircontroledequalidade.
Tenho um amigo que devolve até
Coca-Cola. “Essa está com gás de-
mais; essa com pouco gás.” Ele faz
isso – um pouco em tom de brin-
cadeira–mas paradeixar claroque
precisamos ter opção. Na França, a
gente devolve garrafa de vinho de
500 euros. NoBrasil, somos humil-
des, temos vergonha. Se quisermos
fazer marketing, temos até que ser
umpoucoarrogantes,aprendercom
Buenos Aires como fazer as coisas.
NoBrasil, temosqueperderohábito
da humildade. Por exemplo, num
almoço, o garçom amabilíssimo,
quando termina, diz: “Desculpe al-
guma coisa”. Eu proíbo o pessoal
que trabalha comigo usar essa
expressão. Por que o brasileiro tem
que pedir desculpas por alguma
coisa,mesmosemsaberoqueé?Tira
isso do vocabulário. O Brasil não
precisapedir licençaparaninguém.
Sóprecisaperderahumildade, fazer
odever de casabem feito.Antes de
ir para uma negociação, analisar
bem as posições, o tema, ir bem
preparadoe tercoragemdedefender
osnossospontosdevista sem temor.
Aí conseguiremos avançar. Feliz-
mente, parece que a nova geração
temmais orgulho do seu país; tem
conhecimentodas deficiênciasmas
“BRASILEIROS EMVIAGEM SÃO GRANDES
COMPRADORES DE DIOR, LOUISVUITTON...”
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