Marcus Vinicius
Pratini deMoraes
15
M A R Ç O
/
A B R I L
D E
2 0 0 5 – R E V I S TA DA E SPM
GRACIOSO
– E põe a perder os
anos de trabalho...
PRATINI
–Eháomarketing.Nunca
soubemos vender porque não
éramosvendedores.Hoje–noBrasil
moderno– sejanaagriculturaouna
indústria, o grande desafio, de um
lado, éde logísticae, deoutro, éde
marketing.Não temosuma tradição
como vendedores. Aqui em SP, vou
em qualquer restaurante, de nível
médio, peço uma garrafa de água
mineralemeperguntamseeuquero
Perrier, Evian, Badort porque esses
sabem vender. Por issodigoque, se
queraprendermarketing,nãováaos
Estados Unidos; vá para a França.
Eles vendem água – e quem vende
água vende qualquer coisa.Vi uma
bolsabonita,emuma lojanaEuropa
– a marca era Louis Vuitton – e
pensei:vou levarparaminhamulher.
Entrei, perguntei o preço: 6.500
euros. Meu Deus! Essa bolsa custa
mais de R$ 20 mil! Olhei a bolsa,
nem era de couro, mas de um
plástico especial. Aquilo não tinha
R$ 500 de bolsa. R$ 19.500 eram
design
,publicidade,
merchandising
,
imagem–era filosofia.OBrasil não
aprendeu, ainda, a gerar riqueza
porque tematévergonhado luxo. É
outracoisaque temosqueaprender:
os brasileiros não produzem luxo e
nãoocompramaqui,mascompram
quando viajam – são grandes com-
pradores deDior, LouisVuitton, Ca-
tarinaHerrera – porque não apren-
demos que produtos de luxo criam
renda, como os italianos aprende-
ram e os franceses exploram com
competência. Isso éumbom exem-
plo demarketing.
GRACIOSO
– Há uma certa
discordância, aesse respeito.Háes-
pecialistas quedefendem a criação,
no exterior, de marcas específicas.
Por exemplo, a Sadia poderia vir a
ser umagrandemarcanoexterior. E
háoutrosquedizem: “Não.Émelhor
criaragrandemarca,o“guarda-chu-
va”Brasil, que vai beneficiar tudoo
que temorigemnoBrasil”.Qual éa
sua opinião?
PRATINI
–Achoessa idéiaequivo-
cada. Não sei de nenhum país do
mundo que venda o nome do país
como marca. Pode-se dizer: calça-
dos feitos na Itália, perfumes da
França, mas amarca éDior, os cal-
çados sãoPrada.Achoque temosde
desenvolver as marcas brasileiras –
Sadia, Natura, Embraer,Vale doRio
Doce, Petrobras, Banco do Brasil,
Bradesco, ABIEC. Criamos uma
marcacomoBrasilqueéoBrazilian
Beef,mascomonomedo frigorífico
ao lado.Amarca temde serespecífi-
ca. Só que, para criar marcas no
exterior,oBrasilprecisaprestigiaros
produtos aqui dentro. Assisti, outro
dia, a um anúncio de uma com-
panhia aérea nossa, vendendo pas-
sagem para BuenosAires e dizendo
que lá havia carnemuito boa. Pedi
que reclamassem desse anúncio,
pois é a carne brasileira que temde
servendida.Venda-seoutracoisade
BuenosAires; hámuita coisabonita
por lá, mas não a carne Argentina,
que é nosso concorrente. Não
sabemos nem proteger o nosso
produto.Cheguei outrodiaemuma
churrascaria em São Paulo e me
oferecerampicanhaargentina.Disse
ao garçom: não vim aqui comer
picanhaargentina;estounumachur-
rascaria brasileira. O Brasil tem o
maior rebanhodomundo, temuma
carne excepcional e os senhores
vêmcompicanhaargentina?Ai veio
o dono da churrascaria e disse:
“Olha Pratini, falamos que é argen-
tinamas não é”. Aí eudisse: vamos
vender a picanha brasileira. Se não
aprendermos a valorizar o nosso
produto, não vamos ter marcas no
exterior.ParaaEvian serumamarca
deáguamineral conhecida,hámais
de cem anos, às margens do Lago
Leman, eles têm um hotel mara-
vilhoso, com instalações fantásticas,
e fazemmuitobommarketing.Tanto
que, no ano passado, realizaram a
reuniãodospresidentesdoG8nesse
hotel. LevaramPutin, Bush, Chiraq.
Eles fazemmarketing há 100 anos
porquevalorizamoqueédeles.Os
franceses brigampelos seus vinhos,
queijos, pelos seus subsídios...
GRACIOSO
– E, quando neces-
sário, inventam histórias. Você co-
nhecea frase famosaatribuídaaNa-
poleão, a respeito do champanhe
francês. A história diz que, em suas
campanhas, levava sempre uma
caixadechampanhe. Edizia: “Seeu
“NA ÁREA INDUSTRIAL TEMOSAINDA
UM GRANDE ESPAÇOA PERCORRER...”
(
(