Marco_2005 - page 13

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R E V I S T A D A E S PM–
M A R Ç O
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A B R I L
D E
2 0 0 5
comparativasdoDavidRicardonão
estão alteradasmas substituídas, no
mundo moderno, pelas vantagens
competitivas, tenho de ser compe-
titivo na prateleira do consumidor.
Omeu desafio é colocar o produto
lá. Jámelhoroumuito. No setor de
carne, temos um sistemadeentrega
cuidadosamenteexecutadoem tem-
po, mas é longe e os custos são al-
tos.Aodesenvolvermosomarketing
temosdepensarem logísticaporque
é uma deficiência do Brasil. Como
sempre fomoscompradoseestamos
distantes, muitas vezes não temos
canais de distribuição adequados.
Dependemos de intermediários e –
àsvezes–dedoisou três.Nacarne,
estamos diminuindo, mas ainda há
intermediação,edeixamosumaboa
parteda rendanessa intermediação.
Marketinge logísticasãoosdoisgran-
des desafios.
GRACIOSO
– Você é a favor ou
contra aALCA?
PRATINI
– Jamais seria a favor ou
contraqualquer acordo; sou a favor
danegociaçãoquenospode levar a
umacordocomaALCA, comaUni-
ãoEuropéia,o Japãoouseja láquem
for.Nãoconsidero importanteadis-
cussão–que se transformaem ideo-
lógica – se faço um acordo com os
americanos ou europeus, Hugo
Chávez ou Fidel Castro. Temos de
fazer acordoscomosmercadosque
são importantes paranós.Um acor-
do com os Estados Unidos é fun-
damental. Ele tem de ser bem
negociado e não pode ser ideolo-
gizado.Comopaísque temprecon-
ceitos decolôniaemaniadequerer
ser líder de pobre (quando deveria
querer estar no clube dos ricos), te-
mos resistênciadevários segmentos
quantoaumacordocomosEstados
Unidos. Sóme oporei a um acordo
comosEstadosUnidosseaproposta
delesnão for boa.Temosdever seo
negócioébomparanós.OsEstados
Unidos é ummercado de US$ 11
trilhões. Quer dizer, é o maior im-
portador dos nossos produtos ma-
nufaturados. Temos todo interesse
em fazer acordos com eles. Agora,
se eles pedirem coisas inaceitáveis,
não se faz. A mesma coisa com a
União Européia. A única coisa que
funciona, nocomércio, éopragma-
tismo – o toma lá, dá cá. Não é de
agoraque introduzimoscomponen-
tes político-ideológicos nas nego-
ciaçõescomerciais.Nãoéassim.As
negociações comerciais podem
começar por uma ação política – o
encontro de presidentes, líderes de
países–masdepois, viraumanego-
ciação comercial. As pessoas têm
um pouco de vergonha de falar
sobre o interesse do país. Lembro-
me de quando eu ia negociar e as
pessoas diziam: “Mas você vai
negociar soja, carnedeporco?Tinha
de negociar é alta tecnologia”.Vou
negociar alta tecnologia também se
equandoa tivermos,massoja,carne
de porco nós temos e são boas,
criamempregos.Queremosdiscutir
grandes teses eocomércionão fun-
cionaassim.Oque funcionaé: “Vou
ter umganho se fizer onegócio; ele
terá um ganho”. O negócio sendo
bom para os dois será feito; se não
for, não será. Essa “ideologização”
das negociações comerciais é uma
tragédia. Não posso ser contra um
acordo com os americanos porque
não gosto deles. Quero saber se há
negócio. Eles só pensam em negó-
cios e por isso chegaram aonde
chegaram. Elesadotaramoconceito
weberiano de trabalho – coisa de
protestante – e nós temos outra
visão. Precisamos avançar nisso e
livrar-nosdosgrilhõesdaescravidão,
do espírito de colônia, perder a
humildade e fazer o dever de casa
bem feito. O Brasil é oprimeiro em
café, sucode laranja, açúcar, álcool,
carne de boi, frango, fumo. Somos a
última fronteira agrícola do mundo.
Nenhumanação tem terra livre–não
contando com a Amazônia – para
alimentarpartedomundo–omundo
precisadoBrasilparacomer.Eprecis-
amosadministrar issodireito. Issonão
exclui a importância dos serviços e
da indústria, que são os principais
segmentos da atividade econômica.
Hojeosserviçossãomaisde50%da
economia. Mas se não houver boa
agricultura–comidaparacomeraqui
–nãohámercadospara serviços, ea
mesma coisa serve para a indústria.
Creio que esse é o desafio: mode-
rnizaraestratégiabrasileira.Falamos
muito em pobreza, miséria, fome
zero, mas quando chegam as ações
– elas são difíceis – porque temos
muitaemoçãoepoucopragmatismo,
“NÓSVAMOS SER O GRANDE
BREADBASKET DESSE MUNDO.”
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