Marco_2009 - page 77

FernandoHenrique
Cardoso
março
/
abril
de
2009 – R e v i s t a d a E S P M
77
de ladrõesaqui eeuvouvarrê-los”.A
vassouraeagaiolaviraram símbolos.
Ele não precisava falar nada. Gaiola
e vassoura, já se sabia, era o Jânio.
Ele aparecia com um sanduíche de
mortadelanopalanque, paramostrar
queestavacom fome.Andavacomum
paletópreto edizemquepunha cas-
pa no paletó... Estava falando com a
massaeospolíticosdaépocadiziam:
“éum louco, umdemagogo”. Erade-
magogo sim, claro! Mas demagogia
também fazpartedo jogo.A formada
demagogiaéquemuda.Odemagogo
antigo falavabem.Odemagogomo-
derno faz sinais.
NoMéxico, na semana retrasada, ligo
a televisão, evejooHugoChávez.Co-
nheço-obemeoEmbaixadorLampreia
também. É um personagem bizarro.
Homemsimpático,inteligente,masque
temacabeçademilitarautoritário.Amor
ao povo, todos tem. E ele cantou, no
comício!OlhandopeloângulodeChefe
deEstado–eleéPresidentedaVenezuela
–émeio ridículo.Masamassadelirou.
Elecantava “
amor,amor, tequiero
”–e
emseguida:“
amoresvotarporelsi
”.Ti-
nhadevotarpelosim,pelaperpetuidade
dele.Eganhouaeleição.Não foisópor
isso,claro–maséomodopeloqualas
pessoassecomunicam,hoje.
Oproblemaé: comovamos agir em
relaçãoaumasociedadeque temes-
sascaracterísticas.Como influenciar,
convencer... Posso até imaginar que
estouganhando, emeus amigos vão
dizer:“ocaraé formidável,éótimo,é
professordeCambridge, fantástico”,
mas não ganha a eleição. Há de se
transmitiralgumacoisaàpopulação,
e essa alguma coisa teráde ver com
uma afinidade, uma emoção que
expresseumasituação.Ehádese ter
capacidadeparadescobri-la.Nãohá
uma só formade fazer isso, eelanão
se expressa sempre por ummesmo
lado. E aí, a profissão de vocês é
fundamental;porqueospolíticosnão
são capazes de fazer isso. E vocês
também, sem os políticos, não vão
saber para que lado sopra o vento.
Pode talveznãoseromelhor;precisa
de interação. Precisacriar novas for-
masde fusãoentremeiosdeexpres-
são,conteúdose interessespolíticos.
Oque sechamavadepolíticaperde
muitodo seu interesse.
Se olharmos para o que aconteceu
nos Estados Unidos, de alguma
isso utilizando os instrumentos dos
jovens. Ou seja, se alguém quiser
falar com o jovem, não adianta fa-
lar simplesmente academicamente.
Terá de usar a internet, oOrkut.
Agora, oObama está lá e ontem eu
o vi noGoogle, explicandoodiscur-
so que fez sobre o orçamento. Ele,
como Presidente da República, em
umvídeocurto, explicandoquais são
as mudanças do orçamento, para as
pessoasentenderemsobreorçamento.
Orçamento ninguém entende, só os
especialistas. Então tem de explicar
“por que estou fazendo isso”, ele
maneira, a campanha do Obama
foi uma reinvenção de comunica-
ção com a política. A política dos
Estados Unidos estava tão à mar-
gem da vida americana quanto a
política brasileira. Havia um certo
desprezo pelos “de Washington”.
Todos imaginavamqueopoderioda
família Clinton ia impor ao Partido
DemocráticoacandidaturadaHilla-
ryClinton.Gostomuitodela.Tenho
respeitoporela. Ela temavantagem
de ser mulher; que é uma coisa
nova,um setorqueestavaàmargem
etc. Mas a verdade é que a Hillary
Clinton, sem que ela quisesse, sim-
bolizavaumpoucoumcontinuísmo
de estilo. Enquanto que o Obama
significava outra coisa; também era
minoria, era negro. Mas não foi só
porque era negro (porque vários
negros tentaram e nunca consegui-
ram). Équeele teveacapacidadede
se comunicar com os jovens e fez
vai e fala.OPresidenteLula faz isso.
Não sei se diz ou não a verdade.
Não importa. A verdade é que co-
munica, fala. E faladeum jeitoque
as pessoas entendem. Certamente
aqui no Brasil, como em qualquer
outro lugar que tenha, como nós,
uma massa de gente ligada ao sis-
tema de comunicação via internet,
ouospolíticosaprendemausaresse
sistema de comunicação, ou não
vão fazer nada. Porque, por meio
dele, pode-se conversar com uma
quantidade imensa de pessoas.
Por outro lado, a visão que as
pessoas têm de que, hoje em dia,
a juventude não participa, não lê;
isso tudo é conversa. O que há é
formadeparticipar, de ler.Ou, pelo
menos, de receber e emitir sinais;
que são tão oumais eficientes que
as anteriores. Há algo novo, que
sociologicamente tem importância:
}
A campanha doObama foi uma
reinvenção de comunicação compolítica
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