Marco_2009 - page 82

Mesa-
redonda
R e v i s t a d a E S P M –
março
/
abril
de
2009
82
JRWP
–Paraestedebate, convidamos
pessoas que não são exatamente
especialistas em assuntos específicos
porque a nossa pretensão é tratar da
“Crise”–entreaspas, semaspas, com
Cmaiúsculoouminúsculo–sejamos
eventos dos últimosmeses queafeta-
ramomundo inteiro.Pretendemosdar
aodebateum rumoquepossaajudar
os leitores da nossa Revista, nossos
professores, alunose–quem sabe–a
cadaumdenós,debatedores,também
a enfrentar o que o futuro próximo
aindanos reserva.
Gracioso
– Proponho que come-
cemos dedicando alguma atenção à
pergunta:qualfoiarazãodestacrise?Já
ouvidizerqueelaaconteceuporqueos
bancos, principalmente,mas também
asempresas,asgrandesmultinacionais,
acharamqueerapossívelmanter inde-
finidamente omundo funcionando a
uma alta taxade crescimento – enão
era bem assim. O Eduardo Gianetti,
num livro recente,
Vícios privados
e
benefícios públicos
, dá outra explica-
ção – até profética, porque escreveu
em 2007 – diz que teria havido, no
SéculoXX,umarupturanopensamento
econômico clássico – que sempre se
mostroupreocupadocomopapel so-
cialdaeconomia;Gianettisustentaque
isso,poucoapouco,foisendopostode
ladoe–comaEscoladeChicago–o
negócio transformou-se noque Fried-
manchamavade“egoísmoético”.Em
outraspalavras“ééticoganhardinheiro
equantomaismelhor,porquese todos
ganharem dinheiro”, raciocinava, “a
sociedade acabará se beneficiando”.
Mas parece que não era bem assim.
Oseconomistasmarxistasdizem“Marx
previa isso”,quandoprofetizavaqueo
capitalismo acabaria se devorando a
si próprio, queos capitalistas se trans-
formariam em especuladores. Qual é
–ouquais são–as verdades? Por que
ninguém enxergou isto com clareza?
LembroqueoGreenspan, de vez em
quando, fazia uma ameaça velada,
discreta, dequealgonão iabem;mas
não passava disso, ninguém ligava.
Enfim, para começode conversa: por
queestamosondeestamos?
Alexandre
– Acho que grande
parte do que aconteceu pode ser
atribuídoao11deSetembro. Quan-
dohouveoataque,emNova Iorque,
a estratégia doGreenspan foi levar
a taxa de juros a um valor muito
baixo, 1%, porque “não sabemos o
que vai acontecer nodia seguinte”.
Então, era natural que o FED esta-
belecesse uma política monetária
frouxa, para estimular a economia.
Mas issogerouum impacto fortenos
preços dos ativos: as ações tiveram
um
boom
e também os preços dos
imóveis. Quando o Bernanke assu-
miu o FED, alguns anos depois, já
havia sinais de inflação, e ele fez o
que o Banco Central deve fazer na
hora em que inflação começa a in-
comodar, aumentoua taxade juros.
Quando ela subiu de 1% para 5%,
isso acabou afetandoos devedores,
as hipotecas, como o empurrão do
dominó. Por isso digo que há o 11
de Setembropor trás de tudo e vejo
poucas pessoas falando sobre isso.
Um outro aspecto é que as pessoas
do mercado financeiro são muito
inventivas – elas criaram muitos
produtos, e, de alguma maneira,
os agentes econômicos faziam, um
pouco, o jogo do contente: “você
tem o risco diversificado, espalha
umpoucoo riscopara todomundo,
asagênciasde“rating”acabam refe-
rendando tudo”. Sóquedeuerrado,
odominó acabou sendoderrubado
e o castelode cartas ruiu.
JRWP
– O 11 de Setembro, por ser
algumacoisa inesperada:umataqueà
principalcidadeamericanapodiasero
primeiropassoparaumaguerra?
Alexandre
–Exatamente. Entãoos
agenteseconômicossepreparampara
uma recessão. O FED seguiu o livro
texto:vamos jogaros juros láembaixo
porque issovaiestimularaeconomia.
Só que, quando você põe a taxa de
juros nesse nível baixo, isso acaba
gerando outras consequências como
inflar os ativos ecriar “bolhas”.
JRWP
–Ou seja, foram seis anos de
free-for-all
, de farra?
Alexandre
– Uma coisa meio de
“farra”decréditogeneralizado.Ficava
todomundofingindoqueestavacon-
tente,mas,nahoraH,ospreços iriam
voltar paraos seus fundamentos...
Gracioso
–Gostariadelembrarque
exatamenteamesmacoisaaconteceu
no Japão: lá também foramashipote-
cas sobre imóveis supervalorizados
queprovocaramumacrisequeparou
o país por dez anos. Naminha opi-
nião,o11deSetembropode tersidoo
gatilho,mashávícios, tendênciasbem
maisprofundasqueestãoemação...
Mário
– Se tivesse de mencionar
alguémmais,nessahistória, incluiriaa
MargarethThatcher eRonaldReagan,
pois foram aqueles que, de verdade,
conseguirammudar a história eco-
nômicaeos seuspadrões.Apartir do
liberalismo – daThatcher na Inglater-
ra e do Reagan nos Estados Unidos
– começou a haver uma confiança
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