Omundo da próxima
década
março
/
abril
de
2009 – R e v i s t a d a E S P M
85
}
OBrasil está semostrandobem
preparadoparaaglobalização.
~
elementos fundamentais:aemergên-
cia da China, no final dos anos 80,
com a incorporaçãode centenas de
milhões de pessoas na economia
de mercado, e a queda da
Cortina
deFerro
que tambémadicionouum
grandecontingentepopulacional ao
sistemaprodutivoglobal. Eo impac-
todisso–parausarum termokeyne-
sianoeatépotencialmentemarxista
– foiumaumentobrutaldaeficiência
marginal do capital, o retorno do
capital,mundialmente, subiu.Tanto
que vemos ummovimento de con-
centraçãode rendaedeaumentode
participaçãodos lucrosdasempresas
na renda nacional não apenas nos
EstadosUnidos e na Inglaterra,mas
na Europa Continental com siste-
mas sociais bem desenvolvidos. A
conjunção desses dois fenômenos
gerou um potencial de aumento,
de sensação de riqueza, de retorno
sobre o capital, que levou ao agra-
vamento da montanha de crédito
que,depois,acaboudesmoronando.
Mas esse aumento, essa verdadeira
“festa”, quehouvenos EstadosUni-
dos, de endividamento, certamente
teria sido menor se não houvesse
esse fenômeno chinês: os Estados
Unidoscomoconsumidordeúltima
instância e o chinês como produtor
de primeira instância numa verda-
deira simbiose. Era uma estratégia
políticadoGovernoChinês, deusar
ademandaalheiapara incorporaras
pessoas na economia de mercado;
decerta formacopiandoosistemade
desenvolvimentodos tigresasiáticos
como a Coreia. A grande diferença
– que se percebeu agora – é que a
China é grande demais, a ponto de
alterar, pela sua ascensão, aprópria
lógica do sistema; ela não pode ser
apenas uma Coreia, e aí o sistema
implode sobre simesmo.
JRWP
– Vamos ouvir um pouco o
EmbaixadorMarcosAzambuja.
Marcos
– Essencialmente, todos
nós somosmelhores deautópsiado
quede tratamento; somosmelhores
analistas do que passou, do que
profetas do que vem. O que ouvi
é que os pecados foram-se acumu-
lando, as distorções ficando muito
claras agora – e a perversidade da
sua interação.ComofimdaGuerra
Fria,daUniãoSoviética, aquedado
MurodeBerlim,osistemacapitalista
ocidental teve uma vitória extraor-
dinária. Era oprimeiro impérioque
desaparecia semguerras, sem lutas,
apenas implodia. A vitória do mo-
delocapitalistaocidental não só foi
completa, mas surpreendente pela
velocidade, o que gerou uma série
dedistorções.QuemviveunosEsta-
dos Unidos nesses últimos 20 anos
percebeu que havia uma sensação
quase mágica que havia chegado
(não quero soar “fukuyâmico” ou
sugerir “o fim da história”), mas
havia uma ideia de que as coisas
tinham chegado a uma tal acomo-
dação, que aquilo se não fosse o
fim, pelo menos seria uma grande
pausa na história. Talvez a maior
vítimapessoal da crise tenha sidoo
Greenspan, que –hápoucosmeses
– era visto comoum visionário, um
magoequehojeé responsabilizado
por imprevidência, por hesitação,
por não ter percebido que uma su-
cessão de bolhas se acumulavam.
Houveumacriseanterior–dabolha
da informática –mas parecia ter-se
resolvidomais oumenos bem;mas
achoqueninguémviuoqueacrise
imobiliária continha e que havia
também uma crise embutida nos
cartões de crédito.
Gracioso
– Que não deixam de
ser uma forma demoeda.
Marcos
– Cada vezmais onipre-
sente.OsEstadosUnidosdesistiram
de poupar; os outros poupavam,
a China poupava e investia lá; a
palavra
simbiose
foiusadaapropria-
damente.OsEstadosUnidoseramo
beneficiário de uma vitalidade que
nos incluía,osemergentes–palavra
queestáumpoucoemmodanesses
últimos anos – e, aomesmo tempo,
houve a ideia absurda de que o
mercadodesregulado teriaacapaci-
dade de se autorregular. Como se o
mercado fosseumvalor,nãoapenas
um instrumento;comoseomercado
contivesseuma sabedoria inerentea
sipróprio.Foivistaneleumaespécie
de “virtude”, como se ele soubesse
mais do que Estados, Governos,
burocraciaseoperadores.Asegunda
coisa é que, depois dessa ideia do
mercadosacralizadocomovalor–e
houve a sofisticação crescente dos
instrumentosqueeramnegociados;
derivativos que foram desenhados
por“quasegênios”–pessoasdeuma
imensaastúciaoperacionalmasque
eram controlados, geralmente, por
î