Revista daESPM – Setembro/Outubro de 2002
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Umaambivalênciaque jáhaviasidobem
compreendida por Freud ao sublinhar a
existência de uma dualidade pulsional
queguiava a condutahumana.Todode-
sejo, dirá a psicanálise, é animado, en-
tre outras coisas, por uma pulsão de
morteque,emhipótesealguma,podeser
eliminada.Umadasmaneirasdeneutra-
lizaropoderautodestrutivodapulsãode
morte é através de uma operaçãode su-
blimação que leve em conta os pro-
cessos estético-expressivos de criação.
Aoutra consiste em sexualizar apulsão
de morte, tal como vimos na utlização
publicitária emidiática do corpo doen-
te. É bem provável que algo nesta via
retorne brevemente.
doente. Mudar continuamente de corpo
ousimplesmente testaros limitesdocor-
po para além dos limites do orgânico é
uma forma astuta de sublimar a pulsão
de autodestruição que está intimamente
ligada ao desejo humano.
Bemvindoao
corpo-máquinae
aocorpo
fusional
Se as representações do corpo
doentesaíramumpoucodecena, foipara
dar lugar ao corpo-máquina, ou seja, a
compreensão do corpo como um cruza-
mento entre orgânico e maquínico. A
campanhamundial daPlayStation, ven-
cedoradoprêmiomáximodoFestivalde
Cannesde1999, éumbomexemplodes-
ta tendência. Ela traz a idéia do
corpo
como interface
que poderíamos mudar
comomudamosas interfacesdeumcom-
putador.Ocorpodeixade ser concebido
comoum
limite
entreo sujeito eomun-
dopara ser uma
interfacedeconexão.
A
questão da auto-identidade, tão ligada à
noção de integridade do corpo, modifi-
ca-se necessariamente. Alguns artistas,
como a francesa Orlan, o australiano
Sterlac e o cineastaDavidCronemberg,
levaram à exaustão esta lógica do corpo
comomáquina de interfaces.
Podemos mesmo pensar que
estecorpo-máquinaéumaespéciede res-
postaàambivalênciadodesejoqueapa-
recia com as representações do corpo
“Elanoscoloca
em lugaresenos
fazassumirpapéis
queacabampor
orientarnossa
conduta,
assimcomoos
processosde
autocompreensão.”
