Revista daESPM – Setembro/Outubro de 2002
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O livro“APropagandanoBrasilAtra-
vés do Cartão-Postal:1900-1950”, de
Samuel Gorberg, reúne perto de 2.000
exemplares da arte brasileira do cartão-
postal.Hádoisanos,Gorberg,umdosprin-
cipais cartofilistas do País (como se cha-
mamoscolecionadoresepesquisadoresde
cartões), já nos tinha dado outra preciosi-
dade:o livro“EstampasEucalol”,umapa-
nhado de todo omaterial produzido pela
PerfumariaMyrta,doRio,dosanos30aos
60–milhares de figurinhas que traziamo
Brasil eomundoparaoBrasil, numaépo-
ca em que a oferta visual era quase zero
em comparação comhoje.
ras fábricas, as lojas elegantes, os ho-
téisàbeira-marquesubiamrumoaocéu,
oRio colonial sendoposto abaixo e re-
nascendofrancês,osprodutosfarmacêu-
ticos, os pioneiros times de futebol e as
grandes figuras (ou figurinhas) dapolí-
tica, da literaturaedamúsica.A resolu-
ção gráfica (toda a cargo do próprio
Gorberg, com seu equipamentode últi-
mageração) éexcepcional ou, pelome-
nos, condizentecomaqualidadedoori-
ginal. E comumdetalhe: em sua quase
totalidade, cadacartãoestampadono li-
vro é uma peça única, de propriedade
do colecionador que o cedeu a
Gorberg–nãoseconhecemdu-
plicatas.
Mas este livro dos cartões-postais é
ainda melhor. Pelo desfile de suas ima-
gens, viaja-se a um país que, com a Re-
pública ainda de fraldas úmidas, lutava
pela modernização. Ali estão as primei-
O livro só foi possí-
vel graças à colaboração
desses colecionadores: 29
dedicados farejadoresde rari-
dades, todosmembrosdaAsso-
ciação de Cartofilia do Rio de
Janeiro (Acarj, a única instituição
do gênero no País), entre os quais
Elysio de Oliveira Belchior, Yolanda
Roberto e Marília Carqueja Vieira. O
acervo deles é algo, literalmente, sem
preço:umcartão raropoderiacustar,por
exemplo, R$1.000na feira semanal do
gêneroque se realizanoPasseioPúbli-
co, no centro do Rio, se fosse posto à
venda – o que não acontece. Nem é o
dinheiro que está em jogo entre eles,
mas o prazer em completar uma série,
em ter o que ninguém nomundo tem.
Não quer dizer também que qualquer
cartãoantigovalhamuito–dependeda
série,donúmerodeexemplares impres-
sos ou em circulação. Mas não deixa
de ser irônicoqueumobjeto, feitoori-
ginalmente numa tiragemdemilhares,
de repente se valorize porque
se transformou, pela passa-
gem do tempo, num obje-
to único (Walter Benja-
min não contava com
isso).