Educação
Revista da ESPM
| janeiro/fevereirode 2014
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Nas escolas, onde as gerações se formam, a desestru-
turação moral alcança níveis alarmantes. É possível
dar como exemplo inúmeros episódios mais oumenos
escabrosos, escolhidos a gosto no cotidiano das escolas
do país, envolvendo alguma forma de desrespeito, inti-
midação e violência. Fiquemos coma notícia publicada
nos jornais no dia em que escrevi este artigo: um terço
dos estudantes já sofreu alguma forma de violência den-
tro das escolas. O número de professores agredidos se
aproxima dessa proporção e, se a agressão for apenas
moral, a incidência dispara. A violência nas escolas é
problema crescente e não está perto de ser revertida.
O nível de absentismo dos professores revela desejo
de fuga do ambiente de trabalho, a categoria se sen-
tindo, mais que desmotivada, acuada, aviltada, des-
respeitada. Alunos os desafiam, às vezes com audácia
inaudita, numa reversão lamentável do
ethos
histórico
da escola, desde sempre fundado no respeito aomestre.
Pais frequentemente reagema repreensões emnota ou
comportamento dos filhos agredindo professores. A
desorganização transparece na degradação material
das escolas, na falta de zelo como ambiente físico. Gra-
des cercamos bens de valor, cercas elétricas alteiamos
Escolas virampalco de violência entre estudantes, que
utilizamcelulares para registrar confrontos e postá-los
na internet. Estudo revela que umterço dos alunos já
sofreu alguma forma de violência dentro da sala de aula
muros. Existe coisamais patética do que uma televisão
enjaulada no teto da sala de aula?
Aulas tumultuadas, métodos e técnicas ultrapassa-
dos, a escola termina por se divorciar de umambiente de
esforço e produtividade. A lassidão se impõe ao ímpeto
educativo. Comcerteza, o problema da escola brasileira
não é apenas de ordemmoral, mas eu sugiro uma hipó-
tese: esse deficit técnico não tem apenas fundamento
técnico, tem tambémdimensãomoral. A criação de um
ambiente moralmente mais denso não pode, não tem
como ser prejudicial à escola brasileira.
Aquestãonãoseriasedevemosounãodarmaisespaço,
tempo e estatuto aos temas éticos, isso poderia ser con-
siderado resolvido. O verdadeiro problema é metodoló-
gico. Como fazer isso?Como criar (a expressão “recriar”,
como vimos, não seria pertinente) a atmosfera de uma
sociedade ética? Como manter o diálogo em tom refle-
xivo para que os debates não desandem para agressões
precipitadas? Como preparar professores, líderes e ges-
tores para essenovocampode reflexão, fazendocomque
compreendamseu papel de orientadores, e não de juízes
donos da verdade?
Cultivar a atitude tolerante como base do diálogo,
celebrar o trabalho bem-feito, o zelo, o esmero e a per-
severança é um caminho. Praticar a atitude prudente
(como somos imprudentes!) e o conceito de responsa-
bilidade para construir uma ponte entre a vida profis-
sional, a vida política e a vida privada. Transformar o
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