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janeiro/fevereirode2014|

RevistadaESPM

83

A

o preencher o recibo de pagamento de uma

corrida, o taxista me pergunta: “O senhor

quer que eu faça o recibo com esse valor

mesmo?”. Uma mulher corta a fila para

embarcar no voo e finge estar atenta ao celular, pois

ela mesma não consegue encarar a vergonha do seu

ato. Emum restaurante, desses commesas bemdispu-

tadas, um rapaz aguarda um casal pagar a conta para

sentar-se à mesa. Durante um instante de distração,

duas garotas tomam a frente e sentam-se, disfarçam

como se não soubessem o que tinha acontecido. Ao

observarem que o rapaz se afastou, elas riem da situa-

ção, pois forammais “espertas”.

Eu poderia citar vários outros exemplos que se apre-

sentam todos os dias diante dos nossos olhos, que

demonstramclaramente —muito claramentemesmo —

que estamos vivendo uma séria crise de valores. Mas é

preciso esclarecer umponto importante: a crise não se

dá pelo fato de não conhecermos os valores que regem

uma sociedade, uma família, uma empresa, e sim pela

nossa incapacidade de viver esses valores em nossas

vidas. Nos exemplos citados acima, posso afirmar que

todas as pessoas, sem exceção, sabiam o que era certo

fazer. Mas cortar a fila é mais fácil; roubar a empresa

(sim, isso é roubo!), solicitando um valor a mais no

recibo do táxi, é mais rentável; ignorar a existência

de alguém para sentar-se mais rápido à mesa é mais

cômodo. Fazer o que é certo dá trabalho.

Você pode pensar que esses são exemplos banais e que

não interferememnada na sociedade, mas permita-me

explicar. Quando alguémcorta a fila na sua frente, você

fica enfurecido e, se pudesse, brigaria, xingaria e faria a

pessoa repensar o que fez. Logo, o sentimento das pes-

soas quando fazemos isso é omesmo e, pouco a pouco,

quando esses pequenos exemplos acontecem, vamos

desacreditando do potencial do ser humano. Como se

já não bastassem as notícias de corrupção, violência

e pobreza que nos afetam diariamente, ainda somos

“presenteados” com comportamentos de completo

descaso com o ser humano, todos os dias, em qual-

quer ambiente.

Em face disso, algo ficamuito claro: estamos vivendo

uma crise de importância aos valores que regem uma

sociedade. Não precisamos mudar os valores, apenas

vivê-los de fato, em nosso cotidiano, seja nas organi-

zações, nas famílias, nas escolas, no lazer, enfim, em

todos os contextos que nos cercam.

A geração perdida

Enquanto você lê este artigo, certamente se questiona:

“como mudar isso?”. Eis a pergunta mais relevante de

todas. Os valores são fruto das nossas crenças — aque-

les ensinamentos e experiências que tivemos desde a

nossa infância e que são responsáveis pela formação

do nosso caráter e, como consequência, das nossas

intenções e comportamentos. As nossas crenças nos

acompanhampor toda a vida e determinam como pen-

samos, sentimos, agimos, enfim, quem somos. Mudar

uma crença é a mais desafiadora tarefa do desenvolvi-

mento humano, pois requer uma forte consciência dos

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