janeiro/fevereirode2014|
RevistadaESPM
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A
o preencher o recibo de pagamento de uma
corrida, o taxista me pergunta: “O senhor
quer que eu faça o recibo com esse valor
mesmo?”. Uma mulher corta a fila para
embarcar no voo e finge estar atenta ao celular, pois
ela mesma não consegue encarar a vergonha do seu
ato. Emum restaurante, desses commesas bemdispu-
tadas, um rapaz aguarda um casal pagar a conta para
sentar-se à mesa. Durante um instante de distração,
duas garotas tomam a frente e sentam-se, disfarçam
como se não soubessem o que tinha acontecido. Ao
observarem que o rapaz se afastou, elas riem da situa-
ção, pois forammais “espertas”.
Eu poderia citar vários outros exemplos que se apre-
sentam todos os dias diante dos nossos olhos, que
demonstramclaramente —muito claramentemesmo —
que estamos vivendo uma séria crise de valores. Mas é
preciso esclarecer umponto importante: a crise não se
dá pelo fato de não conhecermos os valores que regem
uma sociedade, uma família, uma empresa, e sim pela
nossa incapacidade de viver esses valores em nossas
vidas. Nos exemplos citados acima, posso afirmar que
todas as pessoas, sem exceção, sabiam o que era certo
fazer. Mas cortar a fila é mais fácil; roubar a empresa
(sim, isso é roubo!), solicitando um valor a mais no
recibo do táxi, é mais rentável; ignorar a existência
de alguém para sentar-se mais rápido à mesa é mais
cômodo. Fazer o que é certo dá trabalho.
Você pode pensar que esses são exemplos banais e que
não interferememnada na sociedade, mas permita-me
explicar. Quando alguémcorta a fila na sua frente, você
fica enfurecido e, se pudesse, brigaria, xingaria e faria a
pessoa repensar o que fez. Logo, o sentimento das pes-
soas quando fazemos isso é omesmo e, pouco a pouco,
quando esses pequenos exemplos acontecem, vamos
desacreditando do potencial do ser humano. Como se
já não bastassem as notícias de corrupção, violência
e pobreza que nos afetam diariamente, ainda somos
“presenteados” com comportamentos de completo
descaso com o ser humano, todos os dias, em qual-
quer ambiente.
Em face disso, algo ficamuito claro: estamos vivendo
uma crise de importância aos valores que regem uma
sociedade. Não precisamos mudar os valores, apenas
vivê-los de fato, em nosso cotidiano, seja nas organi-
zações, nas famílias, nas escolas, no lazer, enfim, em
todos os contextos que nos cercam.
A geração perdida
Enquanto você lê este artigo, certamente se questiona:
“como mudar isso?”. Eis a pergunta mais relevante de
todas. Os valores são fruto das nossas crenças — aque-
les ensinamentos e experiências que tivemos desde a
nossa infância e que são responsáveis pela formação
do nosso caráter e, como consequência, das nossas
intenções e comportamentos. As nossas crenças nos
acompanhampor toda a vida e determinam como pen-
samos, sentimos, agimos, enfim, quem somos. Mudar
uma crença é a mais desafiadora tarefa do desenvolvi-
mento humano, pois requer uma forte consciência dos
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