Ambiente corporativo
Revista da ESPM
| janeiro/fevereirode 2014
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Estamos vivendo uma crise. Não precisamosmudar os valores,
apenas vivê-los de fato, emnosso cotidiano, seja nas
organizações, nas famílias, nas escolas, no lazer, enfim,
em todos os contextos que nos cercam
seus atos e consequências, alémde umgrande desejo e
muita determinação para transformar uma realidade.
E quanto mais o tempo passa, maior se torna o desa-
fio, pois a dificuldade aumenta, ao passo que as cren-
ças sãomais internalizadas com as experiências, notí-
cias e sensação de que o mundo é assim e precisamos
fazer parte do jogo.
Por mais doloroso que possa ser, serei direto, sem
romantismo: a geração atual jamais viverá os valores
que acreditamos vitais para uma sociedade mais justa
e digna. Estou me referindo àqueles que já estão con-
taminados e que insistem em abdicar do que é certo
em prol do que é mais fácil e vantajoso para si. Para
essas pessoas, existem as leis, as normas, as regras,
que são impostas para substituir a falta de bom-senso
e respeito aos valores. Além disso, existe a maior de
todas as armas: o contraponto comportamental — ou
seja, a indignação daqueles que insistem em fazer o
certo, que dizem “NÃO” ao jeitinho, que reprimem a
injustiça, que praticam a gentileza, que, por incrível
que pareça, respeitam o próximo. E a boa notícia é que
existemmuitas pessoas com valores firmes e capazes
de lutar por essa conscientização. E isso já tem acon-
tecido com uma certa frequência. As pessoas já têm
se indignado e externado isso com mais afinco, pois
estão mais conectadas e encontram alternativas para
serem ouvidas.
A geração influenciada
É fato que essa crise de importância aos valores trouxe
graves consequências, que prefiro não enumerar aqui,
pois quero trazer a discussão para omundo corporativo,
foco deste artigo, e salientar um problema vivenciado
pormuitos líderes: a influência dessa crise na nova gera-
ção de profissionais. Muitos deles, rotulados pelo mer-
cado de geração Y, nasceram e foram educados nesse
contexto. Com isso, apresentam algumas caracterís-
ticas que frequentemente valido emminhas atuações
no mundo corporativo e que estão ocasionando sérios
conflitos na relação profissional-empresa. Denominei
tal situação como os “3 ‘Is’ da nova geração”. É impor-
tante enfatizar que não estou rotulando, apenas exter-
nando a angústia de muitos líderes que se veem perdi-
dos diante da inconstância de diversos jovens talentos.
Semmais delongas, vamos a eles:
Impaciência
— “Ou me satisfaz imediatamente, ou
não quero!” Essa é a sensação transmitida por muitos
jovens dessa geração. “Ou a empresa me oferece opor-
tunidade de crescimento rapidamente, ou estou fora,
procuro outra.” Esse pensamento de curto prazo pode
prejudicar (emuito) a carreira dos jovens profissionais.
Nesse caso, é preciso distinguir muito bem pressa de
ambição. Ter ambição é saudável, mas a pressa para
conquistar aquilo que se deseja, sem pensar nas con-
sequências a longo prazo, é perigoso.
Inconsistência
— Este, infelizmente, é outro com-
portamento presente emmuitos jovens dessa geração.
Apesar da enxurrada de informações a que somos sub-
metidos diariamente, a incapacidade crítica de alguns
jovens é assustadora. As redes sociais, que podem ser
uma rica fonte de informação e troca de visões sobre
diversos temas, têm sido, a meu ver, pouco exploradas.
Basta analisarmos quem são as pessoas mais seguidas
no Twitter ou ainda perguntar a um jovem quais veícu-
los de comunicação ele acessa com frequência. E não
precisa ir muito longe para identificar esse comporta-
mento: ao final de uma palestra, pormelhor que ela seja,
abra para perguntas e calcule o percentual das pessoas
que se manifestam. Não chegaremos a 5%! Talvez esse
seja o comportamento mais preocupante dessa nova
geração, pois a cada dia os atos de julgar, criticar, inovar
e decidir estão nas mãos de poucas pessoas. E quando
ouço umempresário dizer que o quemais lhe preocupa
para o futuro da sua empresa é a falta de profissionais