maio/junhode2014|
RevistadaESPM
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A agricultura tropical desenvolveu-se e convive com
cenários de grande variabilidade temporal dos parâme-
tros climáticos. Esse grau de adaptação às variações cli-
máticas interanuais, mensais e até diurnas varia entre
cultivos anuais, plurianuais ou perenes, e depende dos
sistemas de produção, da capacidade de investimento e
de uso de tecnologias dos produtores.
Em termos de adaptação, não existe tecnologia que
funcione sempre e emqualquer condição. Mas algumas
alternativas tecnológicas são capazes de aumentar a sus-
tentabilidade da produção ante as variações climáticas.
Sóque elas precisamser aperfeiçoadas tecnologicamente
e mais bem ajustadas em suas aplicações aos diversos
sistemas de produção. A ampliação da irrigação, da ele-
trificação, da mecanização rural, da armazenagemnas
fazendas, damelhoriada logísticaedosegurorural seriam
umenorme avanço diante das incertezas climáticas pre-
sentes e futuras. O seguro rural precisa garantir a renda
do agricultor e não apenas os danos de uma geada, de
um evento de granizo ou de seca. Essas ações de desen-
volvimento rural beneficiariam todos os agricultores. E,
comisso, nossa agricultura, já de baixo carbono, ajudaria
aindamais a salvar o planeta e alimentar a humanidade.
Uma coisa são as incertezas climáticas, outra é o risco
assumido por agropecuaristas ao optarem por investi-
mentos e mudanças tecnológicas. Eles se comportam
como qualquer investidor. Alguns por temperamento
e condição assumirão riscos maiores, buscarão maior
produtividade e adotarão certas tecnologias. Os mais
conservadores, em circunstâncias análogas, adotarão
outras tecnologias, perderão em produtividade e redu-
zirão os riscos e os impactos das variações climáticas.
Conclusão: não se enfrentamvariações de clima com
flutuações de preços, nem com aquecimento verbal. A
solução para o problema é investir em uma agricultura
menos sensível às variações climáticas. Alternativas tec-
nológicas já existem para aumentar a sustentabilidade
da produção ante as variações climáticas.
Aadaptação coordenada às incertezas climáticas está
apenas começando. Saltos tecnológicos estão a cami-
nho, graças a pesquisas inovadoras, como as previstas
pela Embrapa para o horizonte de 2034, em melhora-
mento genético, mudanças climáticas e gestão territo-
rial, por exemplo.
Ocenário climático para a agricultura tropical não é o
pior. Opróprio IPCC aponta globalmente a zona tropical
como a menos afetada. Alguns queremmudar o clima,
preocupam-se commitigação e pedempara a agricultura
ajudar a salvar o planeta em20, 30, 40 ou 50 anos. Os agri-
cultores concordam em ajudar, mas o que eles desejam
agora é salvar sua roça anual de hortaliças,milho, feijão e
outras trivialidades, ante as flutuações naturais do clima.
Evaristo Eduardo de Miranda
Doutor em ecologia, pesquisador da Embrapa e coordenador
do Grupo de Inteligência Territorial Estratégica (Gite)
Não se enfrenta oproblemado clima com
flutuações de preços, nemaquecimento
verbal. Asolução é investir emuma
agriculturamenos sensível às variações
Ousocrescentedetécnicasetecnologiasagrícolas,
comoasaplicadasnessafazendadoMatoGrosso,
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