ponto de vista
Revista da ESPM
|maio/junhode 2014
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José Luiz TejonMegido
Agrossociedade: a nova
fronteira do agronegócio
E
sta edição éummarcohistórico. Avisãode cadeia
produtivanascida emHarvard, por RayGoldberg,
no pós-guerra, ofereceu muitos benefícios ao
mundo, pela compreensão da dimensão de que nenhum
elo isolado da cadeia de negócios gerados a partir das
matérias-primas do campo poderia ter vida “solo”.
Hoje, surge uma nova dimensão. E essa dimensão só
poderia ser interpretada numpaís que consegue misturar
tudo e realizar, em apenas 20 anos, o que outros levaram
cerca de 200. Grande usuário de tecnologias, em duas dé-
cadas, o Brasil alcançou o posto de quarto maior produtor
de alimentos domundo e viveu uma verdadeira revolução
sociológica, que começou no seu interior e ficoumais visí-
vel no Cerrado. Plantamos uma nova dimensão, uma nova
fronteiradoagronegócio, que exige aderrubadadosmuros
que separam cidade de campo, commodities da ausência
de conhecimento, com o objetivo de colher um futuro em
que o cidadão e a cidadania levama vida rural para dentro
das cidades. O desafio de produzir alimentos, energia,
fibras, com mais qualidade de vida, obrigará o mundo a
exterminar o desperdício de comida, hoje avaliado pela
FAO em 30%. Produzir com estética, ética e excelência,
gerando experiências sensoriais, fará cada vezmais parte
da jornada humana na terra: dignidade.
As cidades são vitais para atrair inteligência, qualida-
de de vida, reter talentos e reverter fluxos migratórios,
alémde proteger e preservar os atuais cerca de 1,3 bilhão
de agricultores do mundo. O empreendedorismo da
agrossociedade já é realidade. Jovens voltam seus olha-
res para um novo campo, para as cervejas especiais, a
sidra das montanhas da Europa, as riquezas do Alentejo
e do Douro, só para ficarmos entre Espanha e Portugal.
Nesse cenário de agrossociedade, o cooperativismo
contemporâneo é um vital protagonista. Exemplos mar-
cantes como Aurora Alimentos, Coamo, Santa Clara,
Comigo, Cotrijal, Coopavel, Agrária, Coopnatural, Batavo,
Holambra e cooperativa C.Vale revelam a diferença dos
impactos nas sociedades de suas cidades, em função dos
ideais cooperativistas presentes.
Thomas Piketty, em seu livro
Capital in the twenty-
first century
(Editora Belknap Press/Harvard University
Press, 2014), afirma que, quando os ganhos de capital são
maiores do que os ganhos da economia como um todo,
a desigualdade recrudesce. Nessa nova dimensão, não
basta mais ter um agronegócio evoluído apenas dentro
das porteiras, não adianta mais ficar restrito ao nível ex-
clusivo de cadeias produtivas. A coisa agora envolve todo
o entorno, o contextourbano-rural, numa só integração. A
agricultura verticalmoldaumanova arquiteturaurbana, o
local farming
eocombateaodesperdício tomamas cidades,
enquanto a tecnologia, a comunicação e a comodidade
urbana invadem o campo. O turismo rural, a natureza e a
discussão da ética da ciência pedempassagem, e cidade e
campo se reúnem numa nova sinfonia híbrida.
Onde campo e cidade não conjugaremomesmo verbo,
asmudanças significarão sempre conflitos, a riqueza será
sempre isca da desarmonia, e as novas drogas, do crack
até asmais sofisticadas, substituirão a antiga cachaça dos
trabalhadores rurais e das periferias. Nesse caso, contabi-
lizaremos prejuízos, perdas e falta de competitividade. Já
não basta saber produzir, agora é preciso transmitir e lide-
rar. Esse é o princípio da agrossociedade, a nova fronteira
do agronegócio. E o que isso tem a ver com marketing?
Tudo. No Núcleo de Estudos do Agronegócio ESPM, eu e o
professor CoriolanoXavier trabalhamos baseados na tese
de que não existimos apenas para atender necessidades
de consumidores. Existimos para inspirar pessoas e para
dar visibilidade ao invisível dos negócios, da ciência e
da evolução socioeconômica. Esse é o maior diferencial
do profissional de marketing vinculado ao agribusiness.
Agora, a ESPMamplia aindamais a sua territorialidade
educacional. Estamos num
double degree
com a Universi-
dade de Nantes, na França, para realizar um master em
agronegócio. Afinal, agrossociedade pressupõe educação!
José Luiz TejonMegido
Coordenador acadêmico do núcleo de agronegócio da ESPM
divulgação