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entrevista | antonio roque dechen

Revista da ESPM

|maio/junhode 2014

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Arnaldo –

A agropecuária brasileira

passou por transformações profundas

nas últimas décadas, com impacto não

só na produtividade, mas também em

toda a reorganização do interior do

país. Que mudanças o senhor destaca-

ria como as mais importantes?

Dechen –

Eu tenho 40 anos de pro-

fissão, me formei em 1973, e teste-

munhei todas essas transformações

pelas quais passou o campo brasilei-

ro. Naquela época, a imagem que se

tinha era de uma forte evolução na

agricultura, mas não era verdade. Es-

távamos muito atrasados. Vimos um

avanço muito grande, uma mudança

de sociedade rural, de eficiência na

produção. O crescimento populacio-

nal foi enorme nessa época e demos

início, de fato, à “revolução verde”

à qual se referia Norman Borlaug

[agrônomo e pesquisador americano,

Prêmio Nobel da Paz em 1970]. Esse

foi um marco para o país, porque

tínhamos de aumentar a eficiência

no campo, a fim de melhorar a qua-

lidade de vida, caso contrário seria

impossível abastecer a crescente

população urbana. Borlaug deu início

a esse movimento com o plantio de

milho em áreas degradadas da Índia.

Depois, como ele próprio atribuiu,

tivemos uma segunda “revolução ver-

de” aqui no Brasil, com a conquista

do cerrado, onde estavam as últimas

fronteiras agrícolas. E isso aconte-

ceu por meio da transferência de

tecnologia e de pesquisas no campo.

Vivemos uma revolução cultural que

está culminando hoje nesse conceito

de integração da lavoura, pecuária e

floresta. Essamudança foi enorme.

Arnaldo –

Foi nesse período que conso-

lidamos também as técnicas de plantio

direto no Brasil. Qual foi o impacto disso

na produtividade?

Dechen –

Essa revolução, que comple-

ta agora 40 anos, foi importantíssima.

É a agricultura que chamamos de

água e ar limpos. O plantio direto sur-

giu no Paraná a partir da necessidade

de se conter a erosão do solo, que, do

jeito que estava ocorrendo, tornaria

a produção impraticável. Foi quando

Herbet Bartz (produtor do norte do es-

tado) e sua equipe foram aos Estados

Unidos conferir o sistema de revol-

vimento mínimo do solo, tecnologia

que trouxeram para cá. Hoje, mais de

90% da soja cultivada no Brasil são

com plantio direto. É uma técnica que

reduz a perda de terra, o consumo de

água e garante maior fertilidade do

solo. Essa mudança embutiu pela pri-

meira vez o conceito de sustentabili-

dade na agricultura, que temos hoje. A

maior apoiadora do plantio direto hoje

no Paraná é a Usina de Itaipu. Eles

reconhecem que, se não fosse isso, o

assoreamento dos rios e barragens

Amaior apoiadora do plantio direto no Paraná é a

Usina de Itaipu. Se não fosse isso, o assoreamento dos

rios e barragens faria comque a usina não tivesse

água suficiente para amovimentação das turbinas

Mais de 90% da soja plantadanoBrasil são cultivados complantio direto