entrevista | antonio roque dechen
Revista da ESPM
|maio/junhode 2014
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dos pelo Incra. Além disso, tem uma
estrutura mais organizada de coo-
perativas. Deixando de lado as polê-
micas políticas, que futuro o senhor
enxerga nessas várias tendências?
Estamos conseguindo transferir toda
essa produtividade para o pequeno
produtor?
Dechen –
Nós ainda somos mui-
to ineficientes nesse quesito. O
indivíduo acha que ter terra é a
solução. Terra demanda trabalho
e muito investimento. Não se pode
ganhar a vida com um hectare de
milho ou dez hectares de cana.
Você precisa de máquinas e não é
capaz de colher sozinho. Lá fora
há sistemas de cooperativas que
funcionam muito bem, o país in-
veste para manter o trabalhador
no campo e muitas vezes até paga
para que o agricultor não plante, a
fim de estimular o turismo e pre-
servar a paisagem. Para dar certo,
nós precisamos ter uma política
específica, voltada a culturas que
agreguem mais valor.
Arnaldo –
Não existe uma política
governamental eficiente para a agricul-
tura de baixa escala?
Dechen –
Vou dar um exemplo.
Certa vez conheci um grande pro-
dutor de flores de Holambra (SP) que
mantinha 1,5 mil funcionários em
suas estufas, sem nenhum tipo de
apoio do governo. Ele comentou que
se, em vez de produzir flores, abris-
se uma fábrica de automóveis com
500 trabalhadores, teria todo o tipo
de subsídio, até o terreno. O trata-
mento é muito diferente. É por isso
que o trabalhador rural em algum
momento migra para a cidade. Mes-
mo em condições desfavoráveis, ele
terá uma qualidade de vida melhor
do que no campo. Não adianta ter
terra sem oferecer condições de
produção.
Arnaldo –
O Brasil passou por um
grande movimento migratório do cam-
po para a cidade a partir dos anos1970.
Com o crescimento intenso do agrone-
gócio, não é possível, então, enxergar
uma reversão nesse cenário?
Dechen –
Esse é um ponto interes-
sante. Nos anos 1950, a população
brasileira era dividida meio a meio
entre campo e cidade. Hoje, somente
NoBrasil, somente14%daspessoasvivemnazona rural. E,mesmoassim, nossaprodutividadeagrícolaaumentou trêsvezes
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