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maio/junhode2014|

RevistadaESPM

19

14% das pessoas vivemna zona rural.

E, mesmo assim, nossa produtivi-

dade agrícola aumentou no mínimo

três vezes em todas as culturas, sem

exceção. Isso significa que precisa-

mos de menos gente no campo para

produzir uma quantidade muito

maior de alimentos. É difícil haver

uma reversão dessa tendência, por-

que normalmente a qualidade de

vida na cidade é maior. Isso se aplica

em um estado de alta concentração

populacional como São Paulo. Natu-

ralmente, o mesmo não acontece nas

regiões Norte e Nordeste, mas a mi-

gração para a cidade também é mui-

to forte. Somente quando pegamos

o cenário agrícola de Mato Grosso

ou Goiás, onde a população é menor,

aí sim temos um nível de qualidade

de vida maior nas vilas. Então são

situações muito distintas dentro do

Brasil. E a pessoa que vem do campo

sabe que não conseguirá a melhor

escola ou o melhor atendimento de

saúde no interior. Por isso, em regi-

ões já concentradas como São Paulo,

essa tendência de migração acaba

sendo inexorável.

Arnaldo –

O que mudou na menta-

lidade do produtor rural brasileiro?

Pode-se dizer que as novas gerações,

os filhos desses fazendeiros, são mais

preparadas?

Dechen –

Imaginar que o produtor

não gosta de tecnologia é balela.

Porque, acima de tudo, ele quer ser

produtivo para estar no mercado.

Por isso, sem dúvida, há uma gran-

de evolução. Na própria Sociedade

Rural Brasileira, o Gustavo Diniz

Junqueira, presidente que assumiu

recentemente, é um menino, com

menos de 40 anos, que não temmais

aquela visão do passado. E temos

um número cada vez maior de agrô-

nomos e profissionais qualificados

desbravando as novas fronteiras

agrícolas. As empresas estão absor-

vendo uma boa parte dessa moçada

que está saindo das universidades.

É um mundo completamente novo.

Vemos hoje a sofisticação das má-

quinas, a agricultura de precisão. É

preciso ter preparo para lidar com as

novas tecnologias.

Arnaldo –

Quais são as novas oportu-

nidades de carreira dentro da agricultu-

ra que vão alémdas disciplinas clássicas,

como agronomia e zootecnia?

Dechen –

A parte da biologia vem

ganhando muita importância, prin-

cipalmente nos aspectos ligados à

biotecnologia. Outra área promissora

é a de bioenergia. O volume de produ-

ção de qualquer cultura cresceu pelos

menos três vezes nas últimas déca-

das, dentro da mesma área plantada,

por conta da genética e da biologia. É

um ganho fantástico de produtivida-

de. O valor real da cesta básica hoje

no Brasil é a metade do que custava

na década de 1970, o que representa

um salto gigantesco. Passamos por

um ganho brutal de eficiência e con-

seguimos colocar comida na mesa de

muita gente. Neste ano, em algumas

regiões do Mato Grosso, a produtivi-

dade da soja superou a dos Estados

Unidos. Mas temos muito que avan-

çar ainda. O banco de variedades

de soja de Illinois é imenso se com-

parado com o nosso. No campo da

genética, há grandes possibilidades

de intercâmbio científico e desenvol-

vimento na nossa agricultura.

Arnaldo –

O que o Brasil deveria fa-

zer para tornar-se mais competitivo e

eficiente no campo, além de criar uma

classe trabalhadora rural cada vez mais

próspera?

Dechen –

Em primeiro lugar, preci-

samos ter união da classe produtora

e valorização do profissional. Por

incrível que pareça, o produtor rural

não tem o reconhecimento da socie-

dade. Se ele é um grande produtor,

é visto como empresário. Se não é,

passa como um indivíduo de menor

importância. As pessoas não têm

ideia do trabalho que dá para fazer

chegar um mamão sadio, ovos de

qualidade e hortaliças frescas na

sua mesa. Para muita gente isso pa-

rece que cai do céu. O produtor tem

um papel fundamental na seguran-

ça alimentar do nosso país. Por tudo

que já avançamos até hoje, a fome

no Brasil não persiste por falta de

comida, mas pela má distribuição.

Nós precisamos valorizar a figura

do homem do campo. Como dizia [o

escocês John Boyd Orr] o primeiro

diretor-geral da FAO [Organização

das Nações Unidas para Alimenta-

ção e Agricultura]: “Não se constrói

a paz com estômagos vazios”.

Oprodutor temumpapel fundamental na segurança

alimentar do nosso país. Por tudo que já avançamos

até hoje, a fome no Brasil não persiste por falta de

comida, mas por suamá distribuição