maio/junhode2014|
RevistadaESPM
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Hoje, em qualquer estrada de terra,
que você passar, tem uma estufa. Em
qualquer supermercado compra-se
uma hortaliça feita com hidroponia.
Há um mercado enorme de flores
hidropônicas, por exemplo. As
small
farms
se baseiam nessas técnicas
de alta produtividade e têm alcance
muito grande em países como o Ja-
pão e a Holanda, onde uma grande
propriedade é impraticável.
Arnaldo –
Na Europa, as políticas de
proteção à agricultura favorecem os pe-
quenos produtores, mas no Brasil o mo-
delo que conta com mais apoio parece
ser o das grandes empresas do agrone-
gócio. Estamos perdendo oportunidades
de inovação nesse sentido?
Dechen –
Concordo plenamente.
Mas já há empresas se estruturando
para oferecer toda a infraestru-
tura tecnológica para a pequena
propriedade. É claro que ninguém
vai investir numa
small farm
para
produzir soja. Por isso, o desafio é
estimular a geração de valor agre-
gado na agricultura, fortalecendo
outros tipos de produto. Nós pre-
cisamos ver as oportunidades que
existem nos dois modelos. No ano
passado, já havia sete produtores
no Brasil plantando em áreas com
mais de 500 mil hectares (cinco mil
quilômetros quadrados). Trabalhan-
do com alta tecnologia, isso é uma
oportunidade de escala fantástica.
Por outro lado, precisamos pensar
na logística da produção e, por isso,
é mais inteligente termos produtos
de maior valor agregado em pro-
priedades menores, próximas aos
grandes centros de consumo.
Arnaldo –
Como o país pode, então,
agregar mais valor à sua agricultura?
Dechen –
Esse é um passo importan-
te que precisamos dar. O Brasil expor-
ta café em sacas de 60 quilos à Suíça,
Itália, França, para depois importar
sachês de dois gramas. Você produz,
corre todo o risco para outro ganhar.
O país precisa ter uma política agrí-
cola capaz de apoiar a agroindústria,
estimular tecnologias e facilitar a
compra de máquinas. Vários dos nos-
sos produtos agrícolas estão sendo
vendidos pelo valor nutricional. Na
hora de vender a cana, o preço pago
é pelo nível de sacarose. Logo, vamos
vender soja pelo teor de nitrogênio,
que é a proteína do grão. Por isso é
preciso encarar a produção como qua-
lidade, e não como quantidade.
Arnaldo –
Para equilibrar sua balan-
ça comercial, o Brasil depende cada
vez mais do volume de produção de
monoculturas como o milho e a soja, ou
da cana na geração de energia no mer-
cado interno e açúcar na exportação.
Não se fala em geração de valor. Não é
um paradoxo?
Dechen –
Com certeza. E aí você
mencionou duas coisas. Culturas da
soja e do milho são grandes commo-
dities de exportação. Na cana, nós
exportamos o açúcar, que já agrega
algum valor. Mas, no caso do etanol,
estamos passando por uma crise nas
usinas. Semdúvida, nós dependemos
e precisamos de estímulos à produ-
ção de grãos e cana. Mas se pudésse-
mos agregar valor nesses produtos,
daríamos um impulso importante à
nossa balança comercial.
Arnaldo –
Em paralelo às grandes
propriedades agrícolas, o Brasil vem
fazendo, nas últimas décadas, sua
maior redistribuição da terra por
meio dos assentamentos patrocina-
Oagricultor brasileiro precisa aprender a agregar valor à sua plantação
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