entrevista | Dickson Despommier
Revista da ESPM
|maio/junhode 2014
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interesse no país para saber mais
sobre essa tecnologia e desenvolver
a produção por lá também. A experi-
ência que eu posso relatar commais
propriedade é nos Estados Unidos.
Em Chicago há duas fazendas, além
de outras duas em Indiana, o que
mostra o desenvolvimento dessas
iniciativas no meio-oeste do país.
Arnaldo –
Qual desses experimentos
chamou mais a sua atenção?
Despommier –
A fazenda vertical
mais interessante que eu visitei foi
no centro financeiro de Tóquio. É
um edifício de nove andares chama-
do Pasona O2, onde são plantados
todos os tipos de verdura e vegetal.
O mais interessante é que as pes-
soas não estão ali para cuidar da
produção, mas para fazer o trabalho
de escritório mesmo. Os funcioná-
rios se revezam nos cuidados com
as plantas. A agricultura serve como
uma atividade de recursos humanos
para estimular o trabalho em equi-
pe e melhorar a comunicação.
Arnaldo –
A ideia de uma fazenda
vertical é economicamente viável, con-
siderando o custo da propriedade nas
cidades e toda a infraestrutura neces-
sária? O preço final dos alimentos não
é uma barreira?
Despommier –
Os melhores exem-
plos de fazendas verticais, além do
Pasona O2, é o aproveitamento de
velhos galpões abandonados, um
pouco mais distantes das áreas cen-
trais das grandes cidades. Claro que
o alto preço dos imóveis em cidades
como Londres, Nova York, São Paulo
ou até Brasília inviabiliza esse tipo
de produção. Mas, seguindo alguns
quilômetros adiante, você pode
construir uma fazenda sem estar
longe do centro. É perfeitamente
possível utilizar esses edifícios, a
baixo custo e começar a produzir.
Hoje já existem empresas que estão
se especializando na infraestrutura
necessária para as instalações; exis-
te, pois, todo um ambiente econômi-
co que pode surgir daí.
Arnaldo –
Quais seriam as formas
de viabilizar economicamente as fa-
zendas verticais? Isso demandaria um
apoio efetivo dos governos?
Despommier –
Bom, isso depende
de cada país. No Japão, onde as me-
lhores experiências têm sido feitas
até agora, eles tiveram uma enorme
catástrofe natural seguida de um
desastre nuclear. Com isso, várias
áreas agricultáveis foram compro-
metidas em Sendai, na região mais
afetada pelo tsunami. É fato que
Sendai é uma área montanhosa e só
representa 5% da produção agrícola
do Japão, mas o impacto foi sentido
em todo o país. Por esse motivo,
eles precisam buscar rapidamente
novas soluções e o governo do Japão
está eliminando todas as barreiras
para quem quiser começar a desen-
volver fazendas verticais. O Estado
acaba se tornando um facilitador.
Arnaldo –
Além do Japão, o senhor
vê uma ação do Estado mais efetiva
em outros lugares?
Despommier –
Se você observar a
Coreia, eles não têm terra suficien-
te, tanto que chegaram a avaliar a
compra de propriedades no Quênia
para a agricultura. Foi quando o
governo parou e disse: “Espere um
minuto, nós não precisamos fazer
isso, vamos olhar primeiro o que já
temos em tecnologias de estufas”.
A partir daí o país começou a estu-
dar as fazendas verticais e tenho
certeza de que eles, com toda a sua
capacidade, estarão à frente desse
movimento nos próximos anos. A
China já possui um dos maiores
índices de urbanização do mundo
e tem um modelo político muito
particular. Se o governo decidir
construir fazendas verticais, no dia
seguinte elas começarão a ser feitas.
Não serão perfeitas, mas entrarão
em funcionamento. No Ocidente
nós temos um sistema mais aberto,
multilateral, então depende muito
da iniciativa de cada país.
Arnaldo –
O que está sendo feito na
Europa?
Despommier –
Há dois anos, eu estive
em uma conferência na Alemanha
paraavaliar aviabilidadedesecriarem
fazendas verticaisnopaís. Nosegundo
dia do evento, eles já estavam calcu-
lando quantas fazendas deveriam ser
feitas. No ano passado, eu estive na In-
glaterra para inaugurar uma fazenda
Uma abelha ou uma formiga tema sua
parcela justa de alimento sem ter
de implorar por isso.Mas, se você é umser
humano, isso vai depender de onde vive