maio/junhode2014|
RevistadaESPM
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Ofuturoévertical
Por Arnaldo Comin
Foto: Divulgação
O
microbiologista Dickson Despommier é um apaixonado pela natureza e
por números. E consegue tirar conclusões inquietantes com esses dois
elementos. Professor de saúde pública e doenças ambientas na Univer-
sidade de Columbia, é um acadêmico respeitado por seus trabalhos vin-
culados a enfermidades relacionadas ao parasitismo. Nos últimos anos, porém, ficou
mais conhecido em todo omundo pela sua controversa teoria da agricultura urbana.
No livro
The vertical farm: feeding the world in 21st century
(
A fazenda vertical:
alimentando o mundo no século 21
), publicado em 2010, ele defende a tese de que as
cidades precisam responder por uma parte de sua demanda alimentar, deixando
assim de funcionar como um “parasita” do planeta. A solução é utilizar as tecnolo-
gias já disponíveis, como a hidroponia, para construir edifícios autossustentáveis
capazes de produzir alimentos dentro das metrópoles.
A ideia, que em princípio parece ficção científica, tem caráter urgente. Até 2050,
80% da população viverá em cidades, o que colocará em risco a segurança alimentar
em escala global. O professor tem números convincentes para dar o alerta. Os sete
bilhões de seres humanos precisam hoje de nada menos que o território inteiro da
América do Sul para satisfazer sua demanda por comida. Em 2050 teremos mais três
bilhões de pessoas, o que vai exigir outro “Brasil” nessa conta. Considerando a área
ainda disponível para se plantar, vai faltar alimento.
Para complicar o cenário, 70% da água limpa da Terra são usados hoje para a
agricultura, o que poderia ser reduzido drasticamente em ambientes fechados,
eliminando ainda o uso de pesticidas. Nesta entrevista à
Revista da ESPM
, o pro-
fessor Dickson Despommier cita diversas experiências em andamento no mundo
e garante que a agricultura urbana é muito mais factível do que se pensa, poden-
do facilmente suprir pelo menos 10% do que as grandes concentrações urbanas
consomem. “Esqueça essas imagens futuristas de fazendas verticais que você vê
na internet. Podemos usar galpões abandonados nas cidades e aplicar as técnicas
que já conhecemos para produzir alimentos a custos acessíveis.”