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entrevista | JOHN HOWKINS

Revista da ESPM

| setembro/outubrode 2014

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Arnaldo

— O senhor defende que a cria-

tividade não é um talento especial, mas

algo que todos nós possuímos e precisa

ser estimulado. Na vida prática, porém,

a maioria das pessoas é cobrada para

realizar tarefas repetitivas ou seguir os

padrões estabelecidos, na escola e no tra-

balho. Como a economia criativa pode

contribuir para romper esse ciclo?

Howkins

— A criatividade é uma

qualidade básica do ser humano. Toda

criança nasce comuma atitude criati-

va que se expressa ao longo do tempo

na forma como ela pensa, se veste e,

lá adiante, trabalha. Já o talento é algo

mais especial, porque implica habili-

dades específicas para realizar uma

determinada tarefa. Mas, em linhas

gerais, algumas pessoas irão escrever

muito bem, só que qualquer um será

capaz de escrever o essencial. Por

isso, para obter sucesso, é preciso

trabalhar duro, aprimorar suas habili-

dades e manter a determinação exata

de onde se quer chegar, independen-

temente do seu talento. Parte desse

processo depende da criatividade em

atingir seus objetivos e em como o

ambiente está apto a recebê-la.

Arnaldo

— Mas as empresas, escolas e

universidades estão mais atentas a esta

questão e estimulando a criatividade

entre as pessoas?

Howkins

— Algumas, sim. Temos

vários exemplos de empresas que

estão dando alta prioridade à cria-

tividade e inovação em seus negó-

cios. Isso não quer dizer que agora

são criativas o tempo todo. Muitas

companhias já perceberam que para

ser mais competitivas e continuar

crescendo, dependem de processos

mais criativos. Por outro lado, há

milhões de pessoas que não encon-

tram as circunstâncias sociais, de

educação ou profissionais, para esti-

mular seu lado criativo. E a verdade

é que muita gente está apaziguado e

confortável a realizar um trabalho

repetitivo, que desempenha bem, e

não vê necessidade de mudança.

Arnaldo

— O fato é que muitas ativi-

dades, de fato, não agregam um grau

elevado de criatividade...

Howkins

— Vale destacar que, mes-

mo no pico da Revolução Industrial

na Europa, não mais do que 40% da

população trabalhava na indústria.

Então, eu acredito que teremos o

mesmo paralelo com a economia

criativa. Em um cenário muito oti-

mista, estaremos falando de 40% ou

50% da força de trabalho nesse perfil

de atividade.

Arnaldo

— Sua teoria contempla algo

em torno de 20 setores relacionados à

economia criativa. Podemos citar pro-

paganda, arquitetura, artes, artesanato,

design, moda, cinema, música, mercado

editorial, pesquisa e desenvolvimento,

software, jogos e TV, entre outros. De

que maneira a evolução da tecnologia

e o desenvolvimento de sistemas como

aparelhos móveis e computação em

nuvem estão acelerando o conceito de

economia criativa?

Howkins

— Como você mencionou,

há 20 profissões que eu considero o

coração da economia criativa, onde

a concentração de criatividade e

inovação é muito alta. E muitas ati-

vidades concernentes à tecnologia,

como desenvolvimento de software

e jogos, estão conquistando um pa-

pel de destaque nesse contexto. Mas

a questão não é tecnologia, assim

como a criatividade vai muito além

Hoje, é extremamente difícil competir comuma empresa como oGoogle,

cujo carátermonopolista dificulta a entrada de novos competidores

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