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REV I STA DA ESPM–
J A N E I RO
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F E V E R E I RO
D E
2005
Compra
por Impulso
sobre as três etapas que influenciam
a comprapor impulso.
As experiências de espaço, vividas
pelo sujeito criaram fortes lembranças
de sensações de aperto, de percep-
ções, de falta de privacidade, de
idéias relativas à pobreza e à ri-
queza representadas pelo espaço
dos imóveis. A valorização dessas
experiências (istoé, suas fortes lem-
branças) somada a uma vida finan-
ceira de privação e a uma caracte-
rística de personalidade de não se
ater aos limites (no sentido de ser
empreendedor, ou viajante, como
se definiu o sujeito), constituem o
pano de fundo do qual brota a
compra por impulso.
Neste pano de fundo emergiram as
expectativas sobreomododemorar
no futuroeo lugar (espaço) que sua
família atual ocuparia. O discurso
do sujeito é bastante claro sobre o
conteúdo dessa expectativa. Tinha
de ser um espaço amplo, aberto,
só seu, ondea liberdadedemudan-
ça fosse completa.Ocasionalmente
o sujeito visitava imóveis que
atendiam a alguns desses parâme-
tros, mas não havia se aventurado.
A expectativa, criada por oposição
à vida passada e presente do su-
jeito, contém elementos que levam
à compra por impulso. O processo
padrão implicaria, conforme dis-
semos, numa certa congruência
comoquadropassadoeatual, com
mudança progressiva do sujeito.
Em outras palavras, o padrão es-
perado para esse casal jovem, sem
filhos, sem renda fixa, seria com-
prar um imóvel simples, de 1 dor-
mitório, depois tentar passar para
um de dois dormitórios e assim por
diante, coerente com o passado e
presente da vida, incluindo a parte
financeira e os riscos de não se po-
der pagar prestações de imóveis.
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Com as expectativas sobre omodo
de morar no futuro, o sujeito rea-
lizou o processo de alternativas de
umamaneira não padronizada. Em
primeiro lugar, seu tempo dematu-
ração foi curto, pois entre a visita
eaassinaturadocontratopassaram-
se apenas três dias. Normalmente,
no ramo imobiliário, a procura de-
morameses e a negociação demo-
7. Lembrando que são os pressupostos domodelo explicativo que definem a noção de padrão, ou normalidade, não havendo, pois, juízo de valor sobre
as pessoas “terem de ser conformistas”. Estamos apenas no plano teórico dos processos decisórios. Se uma pessoa decide por uma compra sem ter
base de informação e sem ter base financeira, indica uma quebra do padrão. Os contratos imobiliários são claros: se a pessoa deixar de pagar as
prestações perde o imóvel e tudo o que foi pago. Uma vez assinado esse contrato...
Opreçodocondomínio, ruídodoselevadores, problemasde infiltração
dapiscina, etc.) enão foi atrás, oquedeveocorrer noprocessopadrão.
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Fotos: Corbis/Stockphotos