Julho_2002 - page 20

Revista daESPM – Julho/Agosto de 2002
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de?E, ainda, seráquede fatoexistealgo
de científico em tais conceitos ou ape-
nas há um emprego de tais idéias como
uma roupagem diferente, isto é, a cria-
ção de um neologismo semântico?
Para responder a essa indagação ini-
cial, irá se recorrer a um estudo mais
aprofundado da teoria clássica da socio-
logia e da antropologia, bem como a
idealização (tipo ideal) e contestação do
chamadomarketing social.
Como metodologia para se realizar
este trabalho, foi adotada pesquisa do-
cumental e, sobretudo, aanálisedecon-
teúdo, com suas três fases (BARDIN,
apudGODOY, 1995:24), e também será
utilizada a recente obra de FREITAS
(2000)queabordaeste tema: “
Autiliza-
ção da análise de conteúdo prevê três
fases fundamentais: pré-análise, explo-
ração domaterial e tratamento dos re-
sultados
.”
A hipótese baseia-se no fato de que
odiscurso relatadopor empresasou ins-
tituições que se auto-intitulam, ou são
reconhecidas por algum órgão, respon-
sáveis sociais estão, de fato, colaboran-
domaisparaamanutençãodo
statusquo
do que realmente estimular a solidarie-
dade.
da, são decididas com base em indica-
ções da atual equipe de gestores?
• tem tido um comportamento sério
noquediz respeito a itens de segurança
e preocupação com o lazer emeio am-
biente?
Seguramente, asquestõesacimanão
esgotam sequer esta primeira fase de
verificação do problema central.
Boas práticas de responsabilidade
social são receitadasdiariamenteparaas
empresas. Tais tentativas são exibidas
comoumaverdadeirapanacéia, istoé,um
remédio contra todos osmales. Só com
esse propósito, tal remédio sucumbiria
a uma crítica científica, isto porque a
sociedadeédinâmicaepossui compor-
tamentos,muitasvezes, impossíveisde
ser padronizados.Apasteurizaçãopode-
ráexibir, inclusive, uma faceta terrível: a
pseudo-hegemoniadeumsistemaem re-
laçãoaooutro,ou, atémesmodeumgru-
po em relação ao outro.A antropologia,
desde MALINOWSKI até LÉVI-
STRAUS,vemprovando, sucessivamen-
te, que não se pode concluir que tal so-
ciedade émelhor oupior que outra.As-
sim, porque imaginarqueumaempresa
queadotauma“cartilhasocial”estámais
integrada com omovimento da respon-
sabilidade social?
Dentre as principais práticas apre-
goadas pelas empresas podem ser des-
tacadas:
• ISO 14000 (GestãoAmbiental);
• Padrão BS 8800 e OHSAS 18000
(Segurança e Saúde noTrabalho);
•SA8000 (CondiçõesdeTrabalho);
• Balanço Social (Demonstração
Contábil).
O passo seguinte deste artigo será o
de explorar cada um dos itens acima,
conceituando-os e realizar uma
contraposição teórica com autores liga-
dos às ciências sociais.
2–Justificativas
Demodoacomplementar a introdu-
ção deste trabalho, e também com o in-
tuito de remeter os interessados no as-
sunto para uma discussãomais profun-
da, este capítulo irámostrar a atualida-
de em torno do tema central.
Inicialmente, poder-se-ia perguntar
se tais empresas, que volta emeia estão
sendoprestigiadascomassuasaçõesso-
ciais, conseguem realizar um bom tra-
balho de casa. Ou seja, será que a orga-
nização:
• tem proporcionado um desenvol-
vimento profissional para seus funcio-
náriosqueospermitamserpromovidos?
• tem de fato oferecido oportunida-
des para a ascensãona escalahierárqui-
ca de forma transparente, ou estas, ain-
3–Fundamentação
Teórica
3.1 – Conceitos Iniciais
3.1.1 – OPositivismo
Comoconsideração inicialpoder-se-
iaadmitir opensamentodomaior expo-
ente dessa fase que é Augusto Comte
(1798-1857). Comte nasce em plena
efervescência de uma busca de explica-
ções para as dúvidas que assolam a hu-
manidade através demétodos baseados
nas ciências naturais.
Segundo Comte, o positivismo ca-
racteriza-se pela subordinação da ima-
ginação e da argumentação à observa-
ção.Cadaproposição enunciadadema-
neira positiva deve corresponder a um
fato, seja particular, seja universal. Isso
não significa, porém, queComtedefen-
da um empirismo puro, ou seja, a redu-
ção de todo conhecimento à apreensão
exclusiva de fatos isolados. Comte foi
um conservador, e característicos dessa
atitude sãoos seuselogiosàordemcató-
lica e feudal da IdadeMédia. Atacou o
protestantismo, considerando-o uma re-
ligião negativa e anárquica intelectual-
mente.OpositivismodeComte exerceu
larga influêncianosmaisvariados círcu-
los.Enquantodoutrina sobreoconheci-
mento e sobre a natureza dopensamen-
tocientífico, incorporou-seaoutrascor-
rentes análogas, queprocuraramvalori-
zarasciênciasnaturaisesuasaplicações
práticas. Junto a essas outras correntes,
“Emoutras
palavras,nãose
podeconsiderar
umaação
plenamente
solidáriaquando
umadestaspartes
tenhaprejuízosde
qualquer
natureza.”
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