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R E V I S T A D A E S P M –
J U L H O
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A G O S T O
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lica existe um líder inconteste, o
Papa, que determina as regras dos
rituais. O Papa João Paulo II, por
exemplo,é lembradocomo“opapa
dacerteza”, por sua firmezanas re-
gras tradicionais da igreja. Sem dú-
vida, JoãoPaulo II foi umdospapas
maispróximosdopovo. Fezviagens
por todos os cantos daTerra, beatifi-
cou 1.288 pessoas e canonizou
463 santos. Manteve imutável a
doutrina da igreja e conseguiu
aproximarmuitas nações.Dentro
docatolicismoéapreciadopor to-
dos. Seu índice de rejeição é
baixíssimo, e sua influência so-
cial émostrada em todas as suas
aparições.
Além desse líder máximo, a Igreja
Católica conta com outros líderes,
cardeais, bispos, padres, descendo
na hierarquia, até chegar aos gru-
pos menores das comunidades lo-
cais.Na grandemaioriadas vezes,
o bispo realiza o papel do papa
dentro de regiões determinadas.
Essas regiões chamam-sedioceses,
que seguem as determinações do
Vaticano. Os padres são as autori-
dades católicas mais próximas da
população.Sãoelesos responsáveis
por todoocontroledas comunida-
deseparóquias.Determinamalgu-
masaçõeseculturaspopulares, se-
guindo, é claro, as exigências dos
bispos diocesanos. Quase sempre
é o maior responsável pelo jul-
gamento favorável ou desfavorá-
vel que as pessoas realizam so-
bre a igreja.
O padre pode ser ajudado pelos
coordenadores, que levamacabo
as ações comunitárias da igreja,
aspastorais, tais comoada juven-
tude, a da comunicação. Essas
pessoas exercemmuita influência
em suaspastorais, com regrasque
têm como conseqüência ações
sociais tangíveis.
Alémdoscoordenadores,aindaexis-
temoutras fontesde influências, tais
comoosmúsicosqueparticipamdos
rituais, os assistentes das missas, e
líderes comunitários.
Omodelode influência social, por-
tanto, consegue explicar sem gran-
desdificuldadesaadoçãodareligião
católica pelas pessoas, visto ofere-
ceruma identidadeeum sentidona
vida, oque é extremamente impor-
tante para as pessoas. Comooutros
gruposdeapoio, taiscomo famíliae
escola, vêm-se transformando rapi-
damente, tornando-se frágeis (do
pontodevistade referência); a igre-
ja, com sua tradição, parece ser um
porto seguro para pessoas que têm
dificuldades de enfrentar indivi-
dualmente os desafios da vida.
Imersa num grupo (religioso, por
exemplo), a pessoa perde sua indi-
vidualidade,mas tambémsuaangús-
tia de ter que decidir, já que as re-
gras estãoprontas.
CON
CLUSÕES
Oobjetivodesteartigo foidesenvol-
ver algumas reflexões sobre o
alcance de três modelos básicos
sobre o comportamento do con-
sumidor, quando aplicados ao
comportamentodaspessoas cató-
licas. Cada um deles revelou as-
pectos ainda pouco explorados
pela literatura. O modelo das
tipologias mostrou que há um
consumidor típico fiel, comcarac-
terísticas demográficas bem
marcadas, com um estilo de vida
regrado.O interessantenaaplica-
çãodessemodelo foi verificarque
háumpúblico secundário, jovem,
com outro estilo de vida, que po-
deria ser desenvolvido.
Aaplicaçãodomodelodeprocesso
em etapas mostrou que os pontos
críticos do processo de escolha es-
tariam no levantamento de alterna-
tivas, no julgamento e na avaliação
pós-compra. No levantamento de
alternativas,apessoacontacomum
leque razoável deopções religiosas
e outras tantas não religiosas que
podem levaraosmesmos resultados
(ou satisfação das expectativas). O
momento do julgamento é crítico
porqueasnovasgeraçõesvêem (jul-
gam) a Igreja Católica como muito
ultrapassada, com regrasque são in-
compatíveis com as exigências da
vidamoderna.Assim,arenovaçãode
público torna-se difícil. Finalmente,
a etapa de avaliação pós-uso é im-
portantenamedidaemquepessoas
têmtrocadoareligiãocatólicaporou-
tras. Que critérios utilizariam para
fazê-lo?Comooartigoéreflexivo,fica
comoumcampode investigação.
A aplicação do modelo de in-
fluência social revelouque o siste-
made regrasda religiãocatólicaser-
ve aos propósitos de oferecer uma
identidadeeumsentidoparaavida
daspessoas; tãonecessáriosparao
equilíbriomental.Essemodelopos-
sivelmente é o quemais tem estu-
dos, emciências comoSociologia,
Antropologia, Psicologia; mas a
maioria deles não está orientada
parao sentidopráticodoqueos lí-
deres religiosos devem fazer para
obteremmais fiéis. Nesse sentido,
omodelo da tipologia, mais fraco
teoricamente, é o quemais contri-
bui para ações demercado, já que
existe boa literatura emmarketing
sobrecomodesenvolver umpúbli-
co secundário.
Já omodelo de processo em eta-
pas é rico em investigações em
Q
RodrigoD.DeSalvi &ErnestoM.Giglio