Máriomarconini
PresidentedoConselhodeRelações Internacionais da
Fecomércio, Diretor deNegociações Internacionais da Fiesp
eProfessor AssociadodaESPM. Foi economistadaOMC.
Mesmice Internacional
Umadasverdadesquejácirculavamnosmeiosfinanceiros,
acadêmicoseempresariaisequeseconsolidoucomaatual
criseinternacionaléadequeasinstituiçõesinternacionais
dopós-Guerraesgotaramsuacapacidadedeordenar
,orga-
nizar,orientare“governar”omundo.Háhojeemdiaumclamor
quasepopularporumagovernançaglobalresponsável.Ideologias
podem até diferir sobre o lugar do capitalismono espectroque
seestendeentrecausaeefeito,maspragmáticosde todosos tons
políticosclamampor instituiçõesepolíticasquesalvemaecono-
mia internacionaleacoloquemdevoltanumrumoconsistentee
confiável.Umdesenvolvimento“sustentável”,ademais,pressupõe
instituiçõessustentáveis.
Críticas ao FMI não nasceram com o
debacle
financeiro norte-
americano. Os problemas do FMI em fazer o seu trabalho de
zelarpelaestabilidadedosistemamonetário internacional,assim
como as críticas advindas desses problemas, não
surgiram apenas com a queda de instituições
financeirasnocomeçodooutonodohemis-
férionortede2008. Basta constatarqueo
FMI só logrou influenciar políticas em
países que precisaram de seu dinheiro
(emdesenvolvimento), e não empaíses
que poderiam também fazer uso de
seus aconselhamentos (desenvolvidos).
CríticasaoBancoMundialtambémnão
nasceram do caos financeiro e sim de
políticas ruins, mal aplicadas, emmaus
momentos e em países errados. Críticas
àOMC, tão festejada desde seu advento em
1995por terfinalmente“completado”osistema
deBrettonWoods(considerado,nãoobstante,umsistemahámais
de50anos!),têmsidoasmaisamplas–tantoasquefazemsentido
comoasqueespantamporsuaestapafurdice.
A crise não fez nadamais do que aprofundar o que já era pro-
fundo emergulhar analistas, empresários, burocratas epolíticos
num estupor catatônico de igual profundidade. A questão que
sepropõe agora éoque fazer?Parece claroque “remendos”não
serãosuficientes.Tampoucoserãoasplatitudesconhecidascomoa
“necessidade”deconcluirumarodadadenegociaçõesmultilaterais
decomércio (comoaRodadadeDoha)paraajudara reformaro
sistemafinanceirointernacional–comogostariaGordonBrown,o
Primeiro-MinistrodoReinoUnido.Políticasfiscaisexpansivasno
mundointeiro,barreirasaocomérciointernacional–tarifáriasou
não-tarifárias,oumedidasqueprotegem indústriasnacionaisem
detrimentodeprodutosmaiscompetitivos, vindosde
outre-mer,
oferecemum falso alívio e precisam ser enquadradas numnível
adequadodedisciplina internacional.
A governança global tornou-se bemmais complicadadoque se
anunciavaapenasalgunsanosatrás.Ummundomultipolar,com
países “centrais”queaindaporalgum tempoconduziriamas re-
lações econômicasmundiais, porém jáacompanhadosdenovos
protagonistastaiscomoosBRICs,vislumbravanohorizontecomo
umacertezadefácilcompreensão.Oquenãoseesperavaeraquea
visívelfaltaderesponsabilidaderegulatórianosmercadosdo“Nor-
te” pudesse resultar numa catástrofe econômica de proporções
tãograndesmundoafora.Falharamaspolíticas,asregulações,as
autoridadesregulatóriasnacionais.Falharamtambém,noentanto,
as instituições eos burocratas internacionais que, apesar de sua
visãoavantajadadodramaeconômico,comercialesocial,fizeram
poucoparaprever,precaverouprotegeromundodesimesmo.
Umbompontodepartidaparaqualquernovosistemaseriauma
análise friadas insuficiênciasde suacontraparteantiga. Por que,
porexemplo,oFMIétão incapazdetratardeproblemastãocru-
ciaisdouniversomonetáriomundialtaiscomoovalordasmoedas
eseusefeitosnaeconomiamundial?Porqueocomércio interna-
cionalcresceucomonuncasemqualquerrodadabem-sucedidade
negociaçõesnaOMC,enquantoosproblemastaiscomoopreçodo
petróleoouacrisealimentarmundialsãosequeritensemagendas
detrabalhodaorganização?Porqueasfontesdefinanciamentoàs
exportaçõessecamnosquatrocantosdomundoenenhumadas
três instituiçõesdeBrettonWoodssabemporqueou,piorainda,
logram lançar iniciativas ou programas que contribuam para
resolver oproblema? Por que oplaneta se aquece cada vezmais
eoassuntoambiental não lograadentraro sistemamultilateral
de comércio? Por que, aindamais em épocas de crise, tememos
a invasãodeprodutosprovenientesdepaísesquenão respeitam
leisambientais, trabalhistasoudecomérciosemquehajamainda
instrumentosdedefesacondizentescomaameaça?
Grandepartedodesafioserápensaremtermos“cruzados”–ouseja,
emtermosderesponsabilidadescompartilhadasparaassuntosque
extrapolamosmandatosdecadainstituição.Assim,temasrelativos
àtaxadecâmbiopoderiamsertratadosporambosoFMIeaOMC,
enquantotemasambientaisdeveriamenvolverinstituiçõesespeciali-
zadasemmeioambiente,nomáximoemcoordenaçãocomaOMC.
Temastrabalhistas,aindadedifícilaceitaçãoparapaísesquetemem
maisoprotecionismodoNorte(EstadosUnidoseUniãoEuropeia)
doqueosabusosdoSul(ÍndiaeChina),sópoderiamsertratadosem
âmbitomultilateralsefundamentadosemnormasdaOrganização
InternacionaldoTrabalho(OIT).Aomesmotempo,temascomoo
etanol,quesequerrequeremum tratamentocruzadoemdistintas
organizações,mas quepermanecem semdisciplinasmultilaterais
deverãoser integradosaosistemadeumavezportodas.
Odesafioégigantesco.Aperpetuaçãodamesmicenasinstituições
internacionaisé inaceitável.
Acrisenão feznada
maisdoqueaprofundar
oque jáeraprofundoe
mergulharanalistas,
empresários, burocratas
epolíticosnumestupor
catatônicode igual
profundidade.
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