Heni Ozi Cukier
Professor de RI da ESPM e consultor, graduado nos Estados
UnidosemFilosofiaeCiênciasPolíticas,mestreem
International
Peace & Conflict Resolution
pela American University, emWa-
shington D.C. Trabalhou na ONU, no Conselho de Segurança,
dentre outras organizações internacionais e
think-tanks
ameri-
canas. E-mail:
A queda domuro de Berlim trouxe o fim da
ameaçaSoviéticamilitarecomunistaaomundo
e favoreceua consolidaçãodaUniãoEuropeia
(UE)eexpansãodaOTAN
, ecom issosolidificou
estruturas multilaterais. Já os ataques terroristas
de 11 de setembro elevaram o status de grupos
subnacionais, como a Al Qaeda, a atores globais.
Concomitantemente, o aumento do comércio
mundial e os avanços tecnológicos, representa-
dos pelos fenômenos da Globalização e da Era
da Informação, favorecerammultinacionais e
organizações não governamentais a conquistar
espaço e poder na ordemmundial.
Acombinaçãodesseseventoshistóricoscontribuiu
para a ascensãode outros atores no sistema inter-
nacional.Comoresultado,vínhamospresenciando
odeclíniodoEstado-nação comoo ator principal
do sistema internacional. Entretanto, os dias de
declíniodoEstadocomoatorprincipaldo sistema
acabaram.Doiseventosem2008 interromperama
tendênciadequedana relevânciadoEstado-nação
nasrelações internacionais.AofensivamilitarRussa
àGeórgiaeacrisefinanceiraglobalcolocaramnova-
menteoEstadono topodahierarquiamundial.
A respostadoOcidente ao ataque russo àGeórgia
mostrou claramente quantodividida está aUnião
Europeia e quão perdida está a OTAN. Apesar
da declaração conjunta dos 27membros da U.E.,
condenando o ataque russo, a diferença de posi-
cionamentoentreospaíseseuropeuséenorme.De
um lado,vimosaGrãBretanha,Polônia,República
Checa, Estónia e Letônia adotando uma postura
dura e furiosa, enquanto a Alemanha semostrou
cautelosaedependente; e, emoutravertente, ainda
vimosumaFrançadura,masmediadora.
O ataque russo revelou algoque está implícitohá
algumtempo:quãodivididoseenfraquecidosestão
aOTAN em geral, e os europeus em particular. A
incapacidadede responder demaneiraunificada a
umaameaça externa em seuquintal, com impacto
devastadorpara todososseusmembros, colocaem
dúvida a essência daUniãoEuropeia e a utilidade
daOTAN.No casodaOTAN, seu funcionamento
consensual expõe sua disfunção operacional. É
impossívelumaaliançamilitar funcionar seumde
seusmembros principais (Alemanha) seposiciona
A ascensão
ao lado do invasor (Rússia) para assegurar que o
processodeadmissãodenovosmembros (Geórgia
eUcrânia) seja suspenso.Aperguntaqueficanoar
é: emque sentidoosEuropeus existem comouma
União, exceto como Estados-nações individuais, e
atéquepontoaOTAN é capazde funcionar?
Damesmamaneira, a crisefi-
nanceiraglobal revelouas
fraquezasdos sistemas
multilateraiseconfir-
mou a supremacia
do estado sobre os
outros atores do
sistema. Asúnicas
entidades capazes
de responder às
demandas da crise
foram os Estados-
naçõescomseupoder
soberanoecredibilidade
baseada na capacidade de
gerar receita pela cobrança de impostos. Apesar
das diversas tentativas de coordenação coletiva
entre Europeus, G-8 e G-20, as decisões não
foramunificadas eno fim cadapaís adotou sua
política financeira individual baseada nos seus
interesses e necessidades.
O ano de 2008 trouxe oEstado-nação ao topo da
hierarquia global, alterando o equilíbrio de poder
entreoEstado eoutros atoresdo sistema. Aomes-
mo tempo,oconflitonaGeórgiamostrouofimdo
monopólio americano do uso de força militar, o
ressurgimentodaRússia,afragmentaçãodaEuropa
e a fraqueza da principal aliançamilitarmultina-
cional - aOTAN. Ummundo no qual oEstado é
a entidade suprema é ummundomais anárquico
uma vez que cada Estado é a autoridademáxima
na proteção e condução dos seus interesses. Esse
mundoanárquico émais instável eperigoso.
Apesar das diversas
tentativas de
coordenação coletiva
entreEuropeus,
G-8 eG-20, essesnão
conseguiramunificar
as decisões.
doEstado-Nação
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cadernoespecial