Revista ESPM - maio-jun - Brasil Assombrado. Que caminho seguir. - page 43

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primário. É quase uma estupidez,
porque o processo é tão transparente
que qualquer pessoa comummínimo
de formação sabe que a meta não foi
cumprida. O governominou a credibi-
lidade da políticafiscal, por nada.
Alexandre –
O país abriu mão tanto
da âncora monetária quanto da fiscal.
Maílson –
Além disso, o câmbio
deixou de ser flutuante. Todo mundo
sabe que o governo tem uma meta.
Quando o dólar se aproxima de R$
1,95, o Banco Central entra venden-
do. Quando se aproxima de R$ 2,05,
o Banco Central entra comprando.
Só que aprendemos no passado, a
duras penas, que o melhor regime
cambial é o flutuante.
Alexandre –
Temos intervenções nos
setores elétrico e financeiro, por meio
dos bancos estatais. A ingerência do
Estado tem aumentado em estatais,
como a Petrobras. O BNDES escolhe
empresas campeãs, que acabam sendo
beneficiadas com recursos em con-
dições privilegiadas. Tudo isso junto
sugere que essa guinada na política
econômica nos afasta da receita do
mais do mesmo, e nos leva para o ca-
minho do capitalismo de Estado?
Maílson –
Acho que estamos fa-
zendo essa mudança. Ninguém tem
mais dúvida.
Alexandre –
Curiosamente, a empre-
sa que mais sofre com este novo ce-
nário é a Petrobras, uma companhia
estatal, muito sujeita a intervenções
do governo. E a empresa que mais se
valorizou na bolsa, no último ano, é a
Ambev, um paradigma de companhia
meritocrática, distante de governos,
sem participações de fundos de pen-
são estatais ou dinheiro do BNDES.
Maílson –
A diferença entre uma e
outra é muito clara. A Petrobras é
vítima de uma intervenção estatal
e a Ambev opera num ambiente de
pouca intervenção tópica do Esta-
do. A ação do Estado para a Ambev
é a formação de um ambiente em
que o consumo cresce. No máximo,
a Ambev enfrenta o custo de um
sistema tributário caótico, ou seja,
também sofre os efeitos dessa nova
política econômica e do abandono
das reformas estruturais.
Alexandre –
Para onde este novo ar-
ranjo de política econômica nos levará?
Maílson –
Para ser justo com a pre-
sidente, tem de se conceder a ela
o benefício da dúvida. Quem sabe
Dilma Rousseff não está certa? Até
hoje, esse tipo de política econômi-
ca não deu certo, mas pode ser que
dê. O efeito dessa política, já que
ela não atua na grande deficiência
deste momento, que é a produtivi-
dade, não é nenhum desarranjo.
O Brasil não vai ser uma Argenti-
na, menos ainda uma Venezuela e
muito menos Cuba. Estamos longe
disso. Já estamos noutro patamar.
O efeito dessa política vai ser a per-
da de oportunidades. Isto é, baixo
crescimento. O Brasil entrou numa
quadra em que dificilmente conse-
gue crescer 3% ao ano de maneira
permanente. A tendência é crescer
abaixo de 3% e, aqui ou acolá, numa
mudança das condições internacio-
nais, chegar um pouco acima disso.
Mas, se for muito acima, vai gerar
pressões, seja do lado da inflação,
seja do lado do balanço de paga-
mentos.
Alexandre –
O que se colheu, objetiva-
mente, com essa mudança de política
até agora?
Maílson –
Inflação teimosamente
acima da meta. Um governo se con-
formando que neste ano a inflação
será maior que a de 2012. A deterio-
ração do balanço de pagamentos.
O deficit em conta corrente está
subindo, e isso está associado a
uma mudança de sentimentos em
relação ao país. Os investidores
olham cada vez mais para o México.
Os fluxos de recursos para o Brasil
estão caindo. O investimento es-
trangeiro não cobre mais o deficit
em conta corrente e isso sinaliza
uma situação de risco. Dificilmente
o Brasil vai ter uma crise de balanço
de pagamentos, como a dos anos de
1980 ou 1990. O país tem reservas
internacionais muito sólidas, ro-
bustas, e instrumentos para agir na
hora em que for preciso. Mesmo que
o governo os esteja desprezando,
eles estão à disposição. A política
monetária, a política cambial, a po-
lítica fiscal, está tudo aí. Portanto, o
Brasil tem mecanismos para conter
uma deterioração mais grave. Até
porque não fazê-lo é suicidar-se
politicamente.
O governo promoveu umquase desmonte
institucional ao usar a contabilidade criativa
para fazer crer que está cumprindo meta de
superavit primário. É quase uma estupidez
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