Indústria
Revista da ESPM
|maio/junhode 2013
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de produção da indústria doméstica, uma vez que amaior
parte de sua estrutura é insensível às variações da taxa de
câmbio. Uma simulação realizada pela Fiesp/Decomtec
ilustra esse argumento. Considerando uma valorização
cambial de R$ 2,00/US$ para R$ 1,50/US$, o preço do
produto importado no mercado interno reduziria 25%,
enquantoopreçodoprodutonacional nomercado interno
reduz apenas 10%. O que significa que o preço do produto
importado ficou 17% mais caro que o produto doméstico.
Isso se deve ao baixo peso dos insumos importados nos
custos produtivos totais, pois, enquanto a valorização é
totalmente absorvida pelo produto importado, o produto
doméstico absorve apenas uma parcela dessa variação,
visto que componentes como salários, tributos e lucros
não são reduzidos com a valorização cambial.
Existeminúmerasmetodologiasparacálculodequanto
asmoedasseencontramvalorizadasoudesvalorizadas,ou
“desvio” de taxa de câmbio. Não há, todavia, unanimidade
quanto à metodologia mais adequada para a sua aferição.
Uma abordagem bastante utilizada é o índice Big Mac.
Sua metodologia é baseada na Teoria Paridade do Poder
de Compra, segundo a qual as taxas de câmbio devem se
ajustar para que o preço de uma cesta de bens seja o mes-
mo nos distintos países. O índice Big Mac divulgado em
janeiro de 2013 indica uma valorização de 29% do real em
relação ao dólar. Mesmo se considerarmos os resultados
apresentados pelo Estudo do Observatório do Câmbio da
FGV-Eaesp, observaremos um desalinhamento cambial
de 15% em julho/2012.
Assim,ficaevidentequeoproblemadacompetitividade
brasileira reside na falta de competitividade da economia.
Énesse contexto que o custoBrasil e a política de valoriza-
ção cambial se evidenciam, pois um custo Brasil elevado
encareceos custosdosprodutosdomésticos, fazendocom
que seus preços finais sejammaiores que os dos produtos
importados. Esse efeito é reforçado pela política de valori-
zaçãocambial,umavezqueocâmbiovalorizadobarateiaas
importações.Ouseja,pormaiscompetitivaqueaindústria
nacionalpossaser,afaltadecompetitividadedaeconomia
brasileira torna desigual a competição entre produtos na-
cionais e importados. Enquanto essas foremas condições
da economia brasileira, o produto importado terá maior
facilidadeparaconcorrercomoprodutonacionalesempre
haverá espaço paramedidas compensatórias.
André M. Rebelo
Assessor de assuntos estratégicos da presidência da Fiesp
O índiceBigMac divulgado em janeiro de 2013 indica
uma valorização de 29% do real emrelação ao dólar. Ele é
baseadona TeoriaParidade doPoder de Compra, na qual as
taxas de câmbio devemse ajustar para que o preço de uma
cesta de bens seja omesmo empaíses distintos
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