Revista ESPM - maio-jun - Brasil Assombrado. Que caminho seguir. - page 41

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te capacidade de inovação e geração
de bem-estar. Mas é frágil do ponto
de vista político, por ser uma ditadu-
ra. Ditaduras não têm ingredientes,
como a liberdade de imprensa, para
detectar erros.
Alexandre –
Do ponto de vista ins-
titucional, estamos até melhor que a
concorrência?
Ma í lson –
Olhando o Brasil da
perspectiva dessas transforma-
ções, não há nenhuma razão para
não ser otimista. No passado, os
maus governos tiravam o país do
rumo. Agora, o Brasil perde opor-
tunidades por conta de uma gestão
medíocre. Em vez de crescer 5% ou
6% ao ano, vai crescer 2% ou 3%.
Mas é improvável que um governo
desande e descarrile o país.
Alexandre –
O senhor fala num
processo de evolução nos últimos 30
anos, marcado por um movimento de
desregulamentação da economia, que
culmina na crise de 2008. Esse proces-
so é suficiente para sustentar a ideia
de que o mercado não pode funcionar
tão livremente quanto gostam de pen-
sar os liberais?
Maílson –
Nenhum liberal aceita o
mercado totalmente livre. Essa ideia
não tem apoio em nenhuma corren-
te responsável. O mundo começou
a prosperar com o fortalecimento
do Estado, a partir dos séculos 14 e
15. O que temos visto são ondas de
crises, que fazem repensar o papel
do Estado. Não existe economia
próspera sem um Estado forte.
Alexandre –
Os críticos do liberalismo
têm razão em demandar papel maior
para o Estado?
Maílson –
Depende do que faz o
Estado. Estado bom é Estado institu-
cionalmente forte, com capacidade
de regular. Nenhum liberal aceita
um banco central sem dentes, um
sistema financeiro livre, que é pro-
penso a crises, à assunção irrespon-
sável de riscos. É preciso ter o Esta-
do com capacidade de estabelecer
normas prudenciais. Muita gente
associa a crise de 2007 e 2008 à des-
regulamentação. Isso é um exagero.
Se você olhar o que foi desregulado,
nada justifica o restabelecimento
das regras antigas. Ninguém está
pregando isso.
Alexandre –
E o que explica a crise?
Maílson –
O sistema financeiro é
propenso a crises. Ele opera alavanca-
do, assume riscos e há momentos de
euforia, relaxamento, má regulação e
incentivos que, embora involuntaria-
mente, terminam por criar um am-
biente de irresponsabilidade. A forma
de remunerar os executivos é um
dos maus incentivos que tivemos no
período. As instituições financeiras
têmmaior capacidade de atrair e reter
talentos do que os reguladores. Então,
os reguladores não têm capacidade
de perceber os riscos que estão se for-
mando equivalentemente à compe-
tência dos participantes do mercado
financeiro para contornar restrições.
Acobiça, típica do sistema capitalista,
termina gerando assunção irrespon-
sável de riscos.
Alexandre –
Depois do que aconteceu
nos Estados Unidos, a economia chine-
sa virou inspiração em várias partes do
mundo. Esse modelo é uma alternativa
razoável para o Brasil?
Maílson –
Não. Os regimes autori-
tários que tomam decisões corretas
costumam dar certo. O Brasil é
um exemplo. Entre 1968 e 1973,
crescemos a um ritmo chinês. Em
média, 11,1% ao ano. Em 1973, o
PIB brasileiro cresceu 14%. Se você
olhar a China, é um pouco isso. É
um regime autoritário que caminha
para um capitalismo de Estado.
O ambiente político é previsível e
estável. Há uma forte migração do
campo para a cidade. Para usar um
linguajar marxista, tem um exército
de reserva gigantesco.
Alexandre –
Neste grande supermer-
cado de ideias e modelos econômicos
do pós-crise de 2008, temos hoje, para
simplificar bastante, três prateleiras
principais: capitalismo de Estado à
chinesa, economia keynesiana ao estilo
dos Estados Unidos de Obama e um
modelo neoliberal, focado em austeri-
dade fiscal, como na Europa. Quem vai
sair melhor e mais rápido da crise?
Maílson –
Os Estados Unidos, sem
dúvida. É uma economia muito flexí-
vel e inovadora, 17 das melhores uni-
versidades domundo são americanas.
A produção científica americana é
igual à do resto do mundo. É um país
Provavelmente, a China se tornará umpaís de
amplo consumo de massas, com forte capacidade
de inovação e geração de bem-estar. Mas é frágil
do ponto de vista político, por ser uma ditadura
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