março/abrilde2013|
RevistadaESPM
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responsabilidadepessoalpelodesempenho:preferênciapor
situaçõesquepermitamseresponsabilizarpelosproblemas
esoluçõesevenceràcustadoprópriodesempenho;tendên-
ciaparaestabelecermetasdesafiadoras,porémmoderadas,
correndoriscoscalculados.Nessassituações,oempreende-
dor percebe amelhor chance demaximizar sua realização
pessoal edeterminar seosucesso foi devidoaoseuesforço;
necessidadedefeedbacksobreodesempenho:desejasaber
quãobemestáseudesempenho,ouseja,prefereassituações
emquerecebe feedbackdiretoe imediatosobresuasações.
Para McClelland, os empreendedores encaram o di-
nheiro como uma evidência concreta da excelência de
seus desempenhos, não sendo a razão primeira de seus
esforços; têm mais iniciativa ao pesquisar o ambiente
(proatividade): mostrando-se mais inclinados a rastrear
o ambiente, testar coisas novas, procurar alternativas
para atingir seus objetivos e buscar oportunidades para
utilizar e testar suas habilidades; e são persistentes:
persistem em tarefas em que haja probabilidade de su-
cessomediano. Énessa faixa que a tarefa possuimáxima
atratividade para eles. Aprobabilidade alta os desmotiva,
pois lhes parece fácil demais. Já a baixa probabilidade
não os impulsiona, por parecer que seu esforço não re-
verteria o resultado; e inovação: mostram-se inquietos,
estão sempre buscandomaneiras diferentes,mais fáceis,
rápidas ou econômicas, de fazer as coisas; enfimbuscam
eficiência. Indagam-se sobre o custo-benefício e evitam
fazerdamesma forma, ouseja, inovam.McClellandchega
a dizer que, de fato, poder-se-ia renomear amotivação de
realização para motivação de eficiência.
Oenfoque da Teoria de Traços de Personalidade predo-
minou fortemente nas pesquisas sobre empreendedores,
até o final dos anos 1980, com um grande acúmulo de es-
tudos e resultados. Muitas listas de características foram
geradas. Uma delas é a de JeffryA. Timmons, apresentada
no livro
Newventure creation
, escritopor ele, juntocomL. E.
Smolen eA. L. M. Dingee Jr. (R.D. Irwin, 1985). Baseada em
50pesquisas científicas, a listadeTimmons relatoucarac-
terísticas ligadas à realização, alémde seis outros pontos:
baixa necessidade de status e poder; comprometimento,
determinação e perseverança; integridade e confiabili-
dade; lócus interno de controle; realismo com relação à
avaliação de si mesmo e de seus sócios; e senso de humor.
Mesmo distante da unanimidade, no passado havia
muito interesse em fomentar o desenvolvimento econô-
mico. Assim, entre os anos de 1983 e 1984, com suporte
da United States Agency for International Development
(Usaid),McClellandeosprofissionaisdesuaempresaMcBer
encabeçaram uma grande pesquisa internacional sobre o
assunto (
Research on entrepreneur identification and deve-
lopment: project assistance completion report
. APRE/SMIE:
Project n.936-5314. Washington. D.C., 1991). Realizado na
Índia, no Equador e emMalawi, o estudo procurou respon-
derquaiscaracterísticas,alémdajáprovadanecessidadede
realização, eramchave para distinguir umempreendedor,
de desempenhomediano, daquele que atingiu o sucesso.
Identificaramnovecaracterísticas:iniciativaeassertivi-
dade (relacionadas à proatividade), percepção e ação sobre
oportunidades, orientação para a eficiência, preocupação
comaaltaqualidadedotrabalho,planejamentosistemático
emonitoramento(todasrelacionadasàrealização),compro-
metimentocomotrabalhocontratadoereconhecimentoda
importânciadosrelacionamentosdenegócios(emrespeito
ao comprometimento comos outros).
Esses traços, suplementados por outros apontados
na literatura acadêmica com mais frequência
–
como
assumir riscos, estabelecimento demetas, persistência,
independência
–
, serviramde base para umtreinamento
do comportamento empreendedor. Foi testado, inicial-
mente em Malawi, por outra consultoria. Mais tarde,
esse treinamento veio a se disseminar com o nome de
Empretec, sendo coordenado pelaUnitedNationsConfe-
rence onTrade andDevelopment (Unctad). NoBrasil,esse
treinamentoécoordenadopeloServiçoBrasileirodeApoio
às Pequenas eMédias Empresas (Sebrae), como aponto em
minha dissertação de Mestrado em Psicologia Social e do
Trabalho (
Avaliação de resultados de um programa de trei-
namento comportamental para empreendedores
–
Empretec,
Instituto de Psicologia, USP. São Paulo, 1999).
A revisão dos resultados, feita por pesquisadores inde-
pendentes, foimenosotimistaquantoao fatodequeesses
traços pudessem prever o sucesso dos empreendedores
e de que o treinamento naqueles comportamentos, de
fato, provocasse melhoria no desempenho da empresa.
Todavia, não conseguiram ter base sólida para negar a
influência dos traços no sucesso do negócio.
Oempreendedor é umeventometaeco-
nômico, que nãopode ser explicadopela
economia. Daí anecessidade de recorrer
às outras áreas de estudo