comportamento
Revista da ESPM
|março/abril de 2013
68
E aí chegaram ao mesmo impasse instalado no debate
acadêmico da época. Os resultados eram inconsistentes
ounegavamasdiferençasentreempreendedores,gerentes
e a população em geral. Em 1998, no artigo
Cognitive me-
chanisms in entrepreneurship: why and when entrepreneurs
think differently than other people
, publicado no
Journal of
BusinessVenturing
(1998), R. A. Baroncitaumaconstatação
divulgada um ano antes por Hatten, que foi categórico ao
afirmar: “As conclusões de 30 anos de pesquisa indicam
quenãohácaracterísticasdepersonalidadequepermitam
prever quem será um empreendedor de sucesso”.
Quanto à alta necessidade de realização, a dúvida era
sobre o que viria primeiro: ela é que atraía o indivíduo
para empreender, ou seria desenvolvida como consequên-
cia do empreender? Assim, da década de 1990 para cá,
disseminou-se certo pessimismo sobre as pesquisas
das características individuais dos empreendedores não
serembem-vistas. Atualmente, oque predominanomeio
são as Teorias Cognitivas (sobretudo com o conceito de
autoeficácia, que representa a confiança do empreende-
dor emsua capacidadededesempenhar várias atividades
e tarefas frequentemente imprevistas).
Novo panorama
Hoje, está claro que a comparação dos resultados era di-
ficultada por cincomotivos: falta de uma definição geral
e amplamente aceita de empreendedor; diferenças nos
métodos e instrumentos utilizados paramedir os traços;
muitos estudos baseavam-se no envio de questionários
e os dados obtidos eram passíveis de questionamento;
amostras denão empreendedores concentradas emestu-
dantes, particularmente em alunos de administração; e
as amostras pequenas que dificultavama generalização
dos resultados encontrados, além de parte dos estudos
não apresentar análises estatísticas rigorosas.
Mas o cenário mudou. A psicologia da personalidade se
fortaleceu junto ametodologias de pesquisa e técnicas esta-
tísticasmaisrobustas.Epesquisadoreschamaramaatenção
para o fato de que se misturavam traços de personalidade
maisdiretamenteenvolvidoscomocomportamentoempre-
endedor, com traços menos envolvidos. Em 2007, A. Rauch
eMichael Frese abordaramo assunto no artigo
Let’s put the
person back into entrepreneurship research: Ameta-analysis on
the relationship between business owners’ personality traits,
business creation, andsuccess
,publicadono
European Journal
of Work and Organizational Psychology
,16:4, 353-385.
Eles jáhaviamapresentadoomodelodeGiessen-Amster-
dam mostrando como os traços de personalidade mais
gerais e os mais específicos se ligariam de maneira
diferente com os comportamentos empreendedores de
criaçãoe sucessononegócio. De acordocomessemodelo,
traços mais gerais, como a extroversão, estariam mais
distantes da criação e do sucesso do negócio do que, por
exemplo, o traço específicode autonomia, comomostra o
artigo
Psychological approaches to entrepreneurial success:
a general model and an overview of findings
, publicado
por Rauch e Frese, no ano 2000, na revista
International
Review of Industrial and Organizational Psychology
.
Assim, em 2007, a dupla escreveu outro artigo para
tirar a prova dos nove. Explico: queriammostrar como a
intensidade da relação e da possibilidade de previsão do
comportamento (de criar o negócio e fazer com que esse
tivesse sucesso) difere com a medição dos traços mais
diretamente relacionados (específicos) coma “atividade
empreendedora”. Para tanto, realizarama pesquisamais
ampla sobre a relação entre o comportamento empreen-
dedor e as características de personalidade de que tenho
notícia. Chegaram a varrer 200 anos de pesquisas, seis
periódicos acadêmicos, anais dos principais congressos,
mais as listas de referências dos estudos encontrados.
Não satisfeitos, contataram importantes grupos de
pesquisadores da área para levantar estudos, não publi-
cados, para contornar o viés de somente analisar dados
públicos. Tomaram uma série de cuidados e usaram as
pesquisas cujos dados poderiam ser transformados,
visto que usariam técnicas de meta-análise
–
o método
estatístico que permite combinar os resultados de vários
estudos sobre amesma questão, reduzindo os erros e vie-
ses, alémde ampliar a amostra e produzir resultados que
reduzem as incertezas, gerando sínteses mais válidas.
Depois dessa filtragem, Rauch e Frese selecionaram
104 artigos e 116 amostras independentes: 62 envolvendo
a criação de negócio; 54 envolvendo sucesso no negócio;
e 27 de fontes diferentes dos jornais acadêmicos filtrados
e examinados por pares. Desse modo, construíram uma
grande listade 51 características do empreendedor. Além
Na década de 1990, disseminou-se
certo pessimismo sobre as pesquisas
de as características individuais dos
empreendedores não serembem-vistas