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entrevista | Marcos Ambrosano

Revista da ESPM

|março/abril de 2014

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razões que não permitiram que a

loja tivesse êxito.

Alexandre –

A história do Walmart

no Brasil é, em alguma medida, de

integração de redes que já existiam.

Uma no Nordeste, outra no Sul e assim

por diante. Como foi a experiência, em

termos de logística, de integrar redes

diferentes, com procedimentos, proces-

sos e culturas próprios?

Marcos –

Na aquisição de duas

empresas que já tinham um porte

grande — Bom Preço no Nordeste e

as lojas do grupo Sonae no Sul —, já

encontramos uma infraestrutura

logística. E procuramos aproveitar

o melhor de cada uma delas. Por

exemplo, no centro de distribuição

do Bom Preço, na Grande Recife,

encontramos uma infraestrutura

espetacular, com tecnologia de

ponta e um ambiente superpropício

à produtividade. Quando trouxemos

as nossas práticas, foi uma conjun-

ção de fatores muito boa.

Alexandre –

Houve casos de opera-

ções que tiveram de ser unificadas?

Marcos –

Existem muitos Brasis

dentro do Brasil. No Nordeste, por

exemplo, você precisa do que cha-

mamos de

staple stock

. Ou seja, a

capacidade de armazenar produtos

no centro de distribuição (CD). Da-

das as distâncias entre muitos dos

fabricantes e as lojas, você precisa

ter uma capacidade de armazena-

mento maior do que no Sudeste,

onde pode ter circulação das mer-

cadorias sem parar no CD. Isso é o

que definimos por

cross docking

. Por

isso, os CDs do Walmart no Sudeste

foram concebidos de forma a arma-

zenar menos mercadorias. O

cross

docking

é um princípio que o Wal-

mart procuraria maximizar para

não deixar cargas paradas no CD.

Quando adquirimos o Bom Preço,

encontramos um CD com uma boa

estrutura de armazenagem. Só que,

se forçássemos o modelo de

cross

docking

, poderíamos ter falta de

mercadorias, porque as distâncias

são grandes e os prazos de entrega

são maiores.

Alexandre –

Você administrou a ope-

ração do Walmart no Nordeste. O que

aprendeu por lá?

Marcos –

Muitas coisas, eu fiquei

dois anos lá. A primeira é o conceito

de que existem muitos Brasis den-

tro do Brasil. Você tem de mapear

bem as particularidades de cada re-

gião e procurar utilizar os processos

do Walmart onde for viável. Aí, você

ganha a escala e a customização

do processo. Fazer isso em todas as

áreas te permite ser diferente onde

realmente é necessário. Eu tive de

exercitar muito esta filosofia no

Nordeste. Um dos meus papéis era

levar para lá uma série de conceitos

e processos do Walmart, sempre

respeitando as particularidades da

região. Essa questão do

cross docking

versus staple stock

provavelmente é o

melhor exemplo logístico.

Alexandre –

O varejo trabalha para

customizar a experiência do consu-

midor. Isso é verdade no e-commerce

e também nas lojas físicas. Há um

esforço para conhecer desde o perfil dos

clientes em cada horário até experiên-

cias em que câmeras mostram como

o consumidor se comporta diante das

gôndolas. Este processo cria desafios

para a logística?

Marcos –

Você tem razão. Hoje,

temos o compromisso de atender

aos hábitos de consumo de cada

localidade, com base nos dados da

Nielsen, que estuda, em cada mer-

cado e cada categoria, como está

dividido o consumo da população.

Além do preço baixo todo dia, temos

como premissa ter um sortimento

que cubra de forma relevante o

hábito de consumo de cada região.

Então, o somatório dos itens com

que eu lido é maior do que o número

de itens que tem num hipermercado

do Walmart. Preciso cobrir toda a

regionalidade de cada uma das uni-

dades. Isso faz com que a logística

seja muito mais abrangente, porque

temos de administrar essa customi-

zação que você mencionou.

Alexandre –

Qual é o futuro do varejo,

em termos de customização?

Marcos –

No futuro, ao entrar na

loja, você será reconhecido e vai re-

ceber dicas pelo smartphone.

Já temos algumas experiências emque o cliente

compra no site e retira na loja. Realizamos

alguns pilotos, porque isso é conveniente para

muitos consumidores no Brasil e nomundo