Background Image
Table of Contents Table of Contents
Previous Page  128 / 184 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 128 / 184 Next Page
Page Background

entrevista | Marcos Ambrosano

Revista da ESPM

|março/abril de 2014

128

Alexandre –

Você é responsável por

uma operação complexa e sofistica-

da num país com uma infraestrutura

logística, na melhor das hipóteses, in-

suficiente. Nesse sentido, sua vida é

mais complicada que a dos seus pares,

responsáveis por logística em outros

mercados importantes? É mais difícil

operar logística aqui?

Marcos –

A infraestrutura do Brasil

é reconhecidamente um desafio, mas

isso também não pode servir de des-

culpa, porque a gente já sabe. Então,

você consegue mapear e planejar

considerando essa infraestrutura.

A comparação com alguns países

mais desenvolvidos, sem dúvida, nos

desfavorece. Isso é um fato, mas não

pode ser uma escusa para um mau

trabalho, porque é previsível. A logís-

tica trabalha com a realidade, com

dados, e as restrições que temos, em

sua grande maioria, são conhecidas.

Dá para planejar e criar alternativas

para lidar comessas limitações.

Alexandre –

A história do Walmart,

desde o início, é de crescimento muito

rápido e de inovação constante. Os es-

pecialistas em varejo destacam alguns

pontos como chaves para entender essa

trajetória de sucesso desde a época do

SamWalton até os nossos dias. Mudan-

ças importantes em processos internos,

como o uso de tecnologias para con-

trolar estoques, derrubar o custo das

operações e, com isso, vender mais ba-

rato que a concorrência. A logística me

parece ser uma parte importante desse

processo. A diferença hoje é que existe

uma concorrência muito acirrada, tanto

no meio físico quanto no e-commerce, e

uma democratização da tecnologia, que

está ficando cada vez mais barata. Nes-

se cenário, quais são os novos desafios?

Marcos –

Na história do Walmart, a

logística teve papel fundamental. Foi

um facilitador para uma estratégia

maior, que era — e é — a do preço bai-

xo todo dia. O elemento tecnológico

é importantíssimo, mas o grande

diferencial foi a adoção do modelo

de preço baixo todo dia. Mesmo com

a melhor tecnologia do mundo, se a

sua estratégia comercial ainda for

calcada em picos e vales, em ações

promocionais de curto prazo, você

vai colocar uma pressão tanto na sua

estrutura logística quanto na estru-

tura do seu fornecedor. Sam Walton

inovou porque, ao empreender com

a estratégia de preço baixo todo dia

e um nível de colaboração superior

com os seus provedores, criou as

condições para que as eficiências,

tanto do lado do Walmart quanto do

lado do fornecedor, fossem traduzi-

das empreço.

Alexandre –

Como é isso na prática?

Marcos –

Desde 2011, temos traba-

lhado com o conceito de preço baixo

todo dia aqui no Brasil e notamos

uma diferença enorme na relação

com o fornecedor. Compartilhar in-

formação com os fornecedores levou

a um nível de colaboração que se

traduziu em previsibilidade nas duas

pontas. Quando a indústria temmais

previsibilidade, ela consegue planejar

a produção com antecedência. Com

menos surpresas, ela tem menores

custos. Quando alocamos recursos

na logística e programamos as rotas

com menos surpresas, ganhamos

eficiência. Esta eficiência de ponta a

ponta é que permitiu ao Walmart ala-

vancar a sua escala. Muitas vezes, não

negociamos o melhor custo da mer-

cadoria, mas o custo de transportar

o item da fábrica do nosso fornecedor

até a prateleira de uma loja é menor

que o da concorrência. Isso permitiu

ao Walmart construir o seu modelo

de preço baixo comêxito.

Alexandre –

Por que esse custo do

ponto A para o ponto B é menor?

Marcos –

Exatamente por essa pre-

visibilidade. O varejo é conhecido

por suas promoções de curto prazo.

Isso faz com que você tenha uma

alavancagem nos volumes num curto

espaço de tempo. Então, a produção

do fornecedor acaba não sendo tão

linear. Para atender àquela demanda

comercial de curto prazo, você coloca

um estresse em toda a cadeia. Com

o preço baixo todo dia, você tem um

compromisso mais estável, e essa es-

tabilidade se reflete em toda a cadeia,

desde a produção do fornecedor até

a sua distribuição. Isso lhe permite

reduzir estoques, e lembre que o cus-

to do dinheiro parado é alto. O preço

baixo todo dia, ao longo do tempo e

em todas as categorias das lojas, foi se

Muitas vezes, não negociamos omelhor custo

damercadoria, mas o custo de transportar o item

da fábrica do nosso fornecedor até a prateleira

de uma loja émenor que o da concorrência