março/abrilde2014|
RevistadaESPM
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Alexandre –
Isso cria mais complexi-
dade para a operação logística?
Marcos –
Não, o consumidor é que
vai enxergar os vários canais de venda
como uma coisa só. Os atos de comprar
pela internet ou numa loja física vão
acabar convergindo. Vai chegar ummo-
mento em que você poderá, por meio
do seu smartphone, tomar decisões de
compra dentro da loja e encomendar a
entrega na sua casa. As experiências
vão ser convergentes.
Alexandre –
Pensei nisso quando soube
que a operação de e-commerce do Wal-
mart é independente. Se o caminho é
apagar as fronteiras entre o físico e o eletrô-
nico, qual é a lógica por trás dessa divisão?
Marcos –
Há um movimento de cres-
cimento do e-commerce que, neste
momento, nãopode semisturar comas
nossas prioridades para as lojas físicas.
É um momento único na história, de
crescimento e expansão, de ocupar
espaços e desbravar caminhos. Se
você coloca isso dentro de uma estru-
tura que tem hoje 500 lojas, envolvida
com um processo de integração e com
sua própria expansão, pode-se perder
velocidade. Temos de ser ágeis e, para
que haja essa agilidade na tomada de
decisões, temos um time trabalhando
de forma separada [no comércio eletrô-
nico]. Foi uma decisão global da com-
panhia. Não só noBrasil, mas emtodos
os países, o e-commerce atua de forma
independente. Só que a colaboração
existe. Tem alguém governando para
ver se o todo faz sentido, porque em al-
gummomento essa convergência virá.
Alexandre –
A ideia, então, é ter duas
operações (a física e a eletrônica) acele-
rando com independência, mas que vão
se encontrar lá na frente?
Marcos –
Exatamente. Já temos al-
gumas experiências em que o cliente
compra no site e retira na loja. Realiza-
mos alguns pilotos, porque isso é con-
veniente para muitos consumidores.
Por exemplo, se uma pessoa tem uma
loja no caminho do trabalho para casa
onde compra seus produtos perecíveis,
ela pode aproveitar para retirar um ele-
trodoméstico que comprou no site, se
o time do e-commerce enviá-lo para lá.
Em algummomento, vamos poder uti-
lizar o estoque da loja. Hoje, ainda não,
porque o suprimento do e-commerce
é bastante abrangente, enquanto a
loja tem um limite físico. Eu não tenho
dúvida de que essa convergência virá.
Alexandre –
O varejo como conhecemos
é uma criação dos anos 1960. Sam Wal-
ton é um protagonista importante dessa
história. Desde o fechamento da Sears, há
um questionamento importante: será que
o modelo tradicional de varejo ficou velho?
Gostariade conhecer avisãode vocês sobre
o que parecem ser sinais de esgotamento
dessemodelo tradicional. Sãomesmo?
Marcos –
É ummodelo em constante
transformação. Desde que foi criado,
nunca ficou estanque. Você tem lojas
grandes, de vizinhança, premium,
lojas
hard discount
, que são extrema-
mente austeras, comuma participação
enorme damarca própria.
Alexandre –
Daqui a dez anos os hiper-
mercados continuarão existindo?
Marcos –
Sim, o Brasil vive um fenô-
meno de interiorização. Tem cidades
crescendo dentro do país que não têm
hipermercados ou estão recebendo
essemodelode loja só agora.
Alexandre –
Mas esse novo consumidor
vai querer lojas físicas?
Marcos –
O futuro é a convergência.
Tem produtos que vou comprar da mi-
nha casa, pelo smartphone, enquanto
assisto TV e recebo estímulos. Agora,
tem outros que quero pegar na mão,
ver a qualidade. O hábito de compras
tem o elemento objetivo do consumo,
mas também tem o prazer de olhar os
produtos, entender a seleção, ver ten-
dências, conhecer marcas. Então, não
haverá uma ruptura, e sim uma mu-
dança, que, aos meus olhos, é a con-
vergência de plataformas e formatos.
Alexandre –
E qual será o papel da lo-
gística neste novo cenário do varejo?
Marcos –
Crucial. Que bom que a
tecnologia cresce num ritmo expo-
nencial. O bom da logística é que ela
vive de informação. E a disponibili-
dade da informação, assim como seu
tratamento, estão cada vez mais so-
fisticados. Vai chegar na ponta quem
conseguir acessar e tratar dados da
forma mais eficiente.
O futuro é a convergência. Temprodutos que
vou comprar daminha casa, pelo smartphone,
enquanto assisto TV e recebo estímulos. Agora,
temoutros que quero pegar namão, ver a qualidade