Poiētikē,
orenascimento
dotrabalhocriativo
Na Itália do séculoXIV, umdos fundadores do humanismo, Francesco Petrarca, cria uma
ordemde pensamento e uma forma poética que alterama histórica cultural doOcidente.
Avida de Petrarca talvez contenha a tão procurada chave da indução ao trabalho criativo
Por Hermano Roberto Thiry-Cherques
D’après
Étienne Gilso
D
ia 6 de abril de 1327. Sexta-feira Santa. Fran-
cesco Petrarca, um clérigo ainda não orde-
nado, mas que já havia recebido a tonsura,
indo cumprir suas obrigações matinais na
Igreja de Sainte-Claire d’Avignon se apercebe de uma
jovemainda adolescente.
EraaprimeiravezqueFrancescoaviae,peloqueconsta
nacrônicadaépoca, apenasde relance. Noentanto, entre
asmatinas e as nonas, ele se apaixona perdidamente por
estamulher, a quemdará o nome de Laura.
Um jovemque se apaixona é um acontecimento pro-
saico, nada temde extraordinário. Oque distingue esse
momento é que ele marca o lugar, o dia e a hora do nas-
cimento, oumelhor, do renascimento do trabalho cria-
tivo, da
poiētikē
na forma que a conhecemos desde então.
Para os gregos, a
poiētikē
era uma ciência produtiva, a
derivaçãode
poein
,aaçãodecriarecompor,defazernascer
e dar coerência. A
poiētikē
techne
era a arte aplicada, o tra-
balhocriativo,oesforçodedaràluzalgonovoourenovado.
Lamentavelmente, perdeu-se grande parte do tratado de
Aristótelesdevotadoaestemodoparticular deagir, como
descrito no livro restante da
Poética
(tradução e notas de
AnaMariaValente,FundaçãoCalousteGulbenkian,2004).
Talvezporisso,atéhojenãosaibamosaocertooseumóvel.
Aquilo que precede e desperta a edificação do inédito. Só
sabemos da sua vivência e dos seus resultados.
Aos22anos, Petrarca seenamoradeLaura. Naocasião,
ele já eraumletradoque escrevia convencionalmente em
latim.Domomentoemqueaencontraemdiante, oclérigo
Laura imPark vonVaucluse
,
1864, pintura deAnselm
Feuerbach (1829-1880)
Petrarca foi umgrande poeta, um
poeta para ser lido. Cria uma poesia
que se propaga facilmente porque o
soneto é, ou parece ser, quase intuitivo
Filosofia
Revista da ESPM
|março/abril de 2014
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