

Ninguémsabe quemfoi Laura.
Especula-se que se tratadeLaurade
Nova, umafidalgadeAvignon. Épossível
que sejauma alusão ao lauroda glória
passa a ser umdospaisdohumanismo, coma valorização
do saber crítico que disseminará em prosa e em poesia.
Mais do que isso: talvez nesse momento lhe tenha vindo
àmente a forma soneto, que estabeleceu.
Petrarcafoiumgrandepoeta,umpoetaparaserlido.Cria
umapoesiaquesepropagafacilmenteporqueosonetoé,ou
pareceser,quaseintuitivo,eeleescrevenasuapróprialíngua,
oitaliano.NinguémsabequemfoiLaura.Especula-sequese
tratadeLauradeNova,umafidalgadeAvignon.Masépossí-
velqueonomeoutítuloquelhetenhasidodadoporPetrarca
sejaumaalusãoao
lauro
daglóriaouà
l’aura
,ofulgor,ovento,
a aragemque despertou no poeta essa necessidade espiri-
tual decriar, deengendraronovoededar-lhepublicidade.
Umimperativoquepersevera. Laurapersistenamemó-
riadePetrarca.Oencantamentonão foi fugaz, emboranão
tivesse resultados imediatos. Somente ao fim de alguns
anos, o
Il Canzoniere
(www.letteraturaitaliana.net) uniuos
sonetos do aniversário do seu encontro com Laura. A pri-
meira dessas peças é de 6 de abril de 1334:
XXX:
Giovene donna sotto un verde lauro
...ché, s’al contar non erro, oggi ha sett’anni
che sospirando vo di riva in riva
la notte e ‘l giorno, al caldo ed a la neve.
XXX:
Uma jovemsob um loureiro verde
...porque, se nãome engano, há sete anos
que a suspirar vou de costa a costa,
dia e noite, no calor e na neve.
Quando escreveu o soneto, havia sete anos que Petrarca
já suspirava sob o calor e a neve por esta jovem senhora
coroada de verde louro. Ele a via. Talvez tenha mesmo
falado comela. Mas não se aproximava. Quando a conhe-
ceu, os dois ainda erammuito jovens, mas Laura já era
casada. Nos anos que se seguem ao encontro, a cada
Semana Santa, Petrarca canta, às vezes commelanco-
lia, às vezes com fervor, mas nunca com esperanças a
sua sedutora Laura, como neste soneto de sexta-feira,
10 de abril de 1328:
LXI:
Benedetto sia ‘l giorno, e ‘l mese, e l’anno
...tante ch’io
chiamando il nome de mia donna
LXI:
Bendito seja o dia, omês e o ano...
...tanto que eu
chamando o nome daminha senhora...
Passados 14 anos de intenso esforço intelectual para a
construçãodohumanismo, domovimento renascentista
que valorizou o saber sobre o homem, Petrarca ainda
chama por Laura.
LXXIX:
S’al principio risponde il fine e ‘l mezzo
del quartodecimo anno ch’io sospiro,
più non mi pò scampar l’aura né ‘l rezzo;
LXXIX:
Se ao começo correspondemo fime omeio
do décimo quarto ano que eu suspiro,
já não possomais fugir da luz, nemda sombra
Na Semana Santa de 1342, 15 anos depois daquele encon-
tro, Laura, ainda deslumbra o poeta:
latinstock
março/abrilde2014|
RevistadaESPM
167