Background Image
Table of Contents Table of Contents
Previous Page  167 / 184 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 167 / 184 Next Page
Page Background

Ninguémsabe quemfoi Laura.

Especula-se que se tratadeLaurade

Nova, umafidalgadeAvignon. Épossível

que sejauma alusão ao lauroda glória

passa a ser umdospaisdohumanismo, coma valorização

do saber crítico que disseminará em prosa e em poesia.

Mais do que isso: talvez nesse momento lhe tenha vindo

àmente a forma soneto, que estabeleceu.

Petrarcafoiumgrandepoeta,umpoetaparaserlido.Cria

umapoesiaquesepropagafacilmenteporqueosonetoé,ou

pareceser,quaseintuitivo,eeleescrevenasuapróprialíngua,

oitaliano.NinguémsabequemfoiLaura.Especula-sequese

tratadeLauradeNova,umafidalgadeAvignon.Masépossí-

velqueonomeoutítuloquelhetenhasidodadoporPetrarca

sejaumaalusãoao

lauro

daglóriaouà

l’aura

,ofulgor,ovento,

a aragemque despertou no poeta essa necessidade espiri-

tual decriar, deengendraronovoededar-lhepublicidade.

Umimperativoquepersevera. Laurapersistenamemó-

riadePetrarca.Oencantamentonão foi fugaz, emboranão

tivesse resultados imediatos. Somente ao fim de alguns

anos, o

Il Canzoniere

(www.letteraturaitaliana.net

) uniuos

sonetos do aniversário do seu encontro com Laura. A pri-

meira dessas peças é de 6 de abril de 1334:

XXX:

Giovene donna sotto un verde lauro

...ché, s’al contar non erro, oggi ha sett’anni

che sospirando vo di riva in riva

la notte e ‘l giorno, al caldo ed a la neve.

XXX:

Uma jovemsob um loureiro verde

...porque, se nãome engano, há sete anos

que a suspirar vou de costa a costa,

dia e noite, no calor e na neve.

Quando escreveu o soneto, havia sete anos que Petrarca

já suspirava sob o calor e a neve por esta jovem senhora

coroada de verde louro. Ele a via. Talvez tenha mesmo

falado comela. Mas não se aproximava. Quando a conhe-

ceu, os dois ainda erammuito jovens, mas Laura já era

casada. Nos anos que se seguem ao encontro, a cada

Semana Santa, Petrarca canta, às vezes commelanco-

lia, às vezes com fervor, mas nunca com esperanças a

sua sedutora Laura, como neste soneto de sexta-feira,

10 de abril de 1328:

LXI:

Benedetto sia ‘l giorno, e ‘l mese, e l’anno

...tante ch’io

chiamando il nome de mia donna

LXI:

Bendito seja o dia, omês e o ano...

...tanto que eu

chamando o nome daminha senhora...

Passados 14 anos de intenso esforço intelectual para a

construçãodohumanismo, domovimento renascentista

que valorizou o saber sobre o homem, Petrarca ainda

chama por Laura.

LXXIX:

S’al principio risponde il fine e ‘l mezzo

del quartodecimo anno ch’io sospiro,

più non mi pò scampar l’aura né ‘l rezzo;

LXXIX:

Se ao começo correspondemo fime omeio

do décimo quarto ano que eu suspiro,

já não possomais fugir da luz, nemda sombra

Na Semana Santa de 1342, 15 anos depois daquele encon-

tro, Laura, ainda deslumbra o poeta:

latinstock

março/abrilde2014|

RevistadaESPM

167