Agribusiness
Revista da ESPM
|março/abril de 2014
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péssimas instalações, armazenagem e infraestrutura.
O segundo ponto é melhorar a comunicação entre pro-
dutores e consumidores, com a evolução de processos e
métodosde resfriamentoe embalagens. Emterceiro lugar
aparece a educaçãonamesa, compequenas porções euso
inteligente das sobras. Depois vêm uma organização e
uma legislação para a doação de comida excedente para
entidadesdecaridade,alémdeumalogísticaparaodespejo
de resíduos orgânicos em aterros sanitários e estações
processadoras de adubos. A FAO orça em mais de US$
750 bilhões o valor jogado fora, com base em preços de
produção. Mas, se considerarmos os produtos acabados,
embalados eprocessadosnumadimensãodedois bilhões
de toneladas, alcançaremos, sem dúvida, ummontante
superior a uma vez emeia oPIBde umpaís como oBrasil,
ouatédezvezeso total de todooagronegócionacional por
ano jogado no lixo.
Movimentoscomoodocapitalismoconscientesurgem,
eas iniciativascomoasdeMichael Porter, criandooÍndice
de Progresso Social, agregam “infraestrutura para o con-
ceitodevalor compartilhado. Essa ideia, basicamente, diz
que quando pensamos em resolver problemas sociais ou
econômicos, precisamos reconhecerquegovernoseONGs
nãosãoasúnicasinstituiçõesquepodeminfluenciarnessas
questões. O setor privado tem uma profunda capacidade
de impactar problemas sociais como moradia, nutrição e
cuidadoscomasaúde.Osnegóciosnemsempreconseguem
enxergar essas oportunidades e atender às necessidades
econômicasconvencionais”.Porteracrescentaainda:“Com
otempo,osnegócioscomeçaramaterpreocupaçõesdeque,
seasociedadenãofossesaudável,osnegóciosnãopoderiam
sersaudáveisemlongoprazo.Então,asempresaspassaram
a focarnoqueéconhecidocomoresponsabilidadessociais
corporativas (CSR), e isso temsidoumavanço. Asmaiores
oportunidades de crescer e aumentar a lucratividade não
estãonasnecessidadesquejásãoatendidas,masemresolver
essas necessidades não satisfeitas na sociedade”.
Nessenovojogologísticoedemonitoramento,baseadono
paradigmadaagrossociedade,omovimentocooperativista
tende a se expandir, pois não será possível competir sem
antes cooperar. Um exemplo é o próprio saldo da balança
comercial das cooperativas brasileiras, que atingiu US$
5,68 bilhões em2013. Açúcar, soja, carne de frango, farelo
de soja, café em grão, etanol, carne suína, óleo de soja e
algodão em bruto foram os destaques. Nessa busca pela
agrossociedade, vale registrar o trabalho de líderes como
MarioLanznaster,daAurora(SC),comcercade70milfamí-
liascooperadasereceitasdaordemdeR$7bilhões;Antonio
Chavaglia, daCooperativaAgroindustrial dos Produtores
Rurais do Sudoeste Goiano (Comigo), emRio Verde (GO),
commais de seis mil associados e faturamento de R$ 2,2
bilhões; e JoséAroldoGalassini, daCoamoAgroindustrial
Cooperativa,doParaná,com26milmembroseR$8bilhões
anuais. Temos aindaoutros exemplos cooperativistas sig-
nificativos no país, como a centenária Cooperativa Santa
Clara,emCarlosBarbosa(RS),asparanaensesCooperativa
de Cafeicultores de Maringá (Cocamar), Agrária, Batavo
e Coopavel, a mineira Cooperativa de Cafeicultores de
Guaxupé (Cooxupé), incluindo o Sicredi, em crédito atu-
ante pelo agrointerior brasileiro. O cooperativismo tem
como essência a orquestração logística, desde o acesso à
tecnologia, passando por armazenagem, transporte e até
omarketing dos próprios produtos na agregaçãode valor.
Em 2014, o conceito de agrossociedade ganha força
no Ano Internacional da Agricultura Familiar (AIAF),
conforme declarado pela Assembleia Geral das Nações
Unidas. O problema desses pequenos produtores rurais,
que no Brasil somamcerca de quatromilhões, passa por
umadramáticaplanificaçãode logística, na qual o acesso
aosmercados e omarketing reverso comrastreabilidade,
educação e inclusão formam o eixo da questão. Em seus
textos,ojornalistaJoséCarlosPedreiraabordaestaquestão
revelandoque66% dosestabelecimentosruraisbrasileiros
representamapenas 3,27%da renda bruta. Odinamismo
do agronegócio brasileiro é representado por 500 mil
produtores (11% do total), significando 86,60% do valor
bruto da produção. Um trabalho de Eliseu Alves e Rocha
aponta os fatores decisivos para o progresso econômico
dos produtores rurais: tecnologia (68%), trabalho (22,7%)
e terra (9,3%). Esses dados realistas impactam a visão da
logísticanoagronegócioenaagrossociedade, ondeaaces-
sibilidade da tecnologia paramicros, pequenos emédios
produtores assume um papel definitivo e decisivo nessa
novaquestão econômica, social, ambiental e sustentável.
Não haverá terra agricultável,
fertilizantes, água, processamento,
distribuição e sustentabilidade semum
novo padrão logístico da agrossociedade