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janeiro/fevereirode2014|

RevistadaESPM

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social do coletivo, ainda que não esteja sendo enten-

dido explicitamente como um poder político na esfera

do consumo com impacto na esfera pública, tem ins-

pirado consumidores a assumir uma atitude de maior

vigilância e atenção quanto aos itens consumidos, seja

no seu sistema de produção, qualidade dos insumos

ou consequências para o bem-estar geral. Essa inspi-

ração tem se materializado com pouca efetividade no

comportamento de compra, porque nem sempre há

como substituir um produto ou marca por outra (que

é o sentido original do boicote). Além disso, o preço

competitivo e a conveniência ainda são muito valori-

zados nas relações de compra. Mas é importante desta-

car que já há entre os consumidores um sentimento de

alerta e reivindicação em relação às empresas, mesmo

quando não se trata de um problema particular, e sim

de uma ação da empresa que fere os princípios desses

consumidores.

As empresas ainda não sabem precisamente como

tratar esses casos, pelos seguintesmotivos: emgeral, os

ativistas não são seus clientes, logo o impacto nas ven-

das não é garantido. Trata-se de ações novas nummeio

novo. A maioria das empresas teme que, ao atender às

reivindicações, acabe por transferir um poder desme-

dido para os consumidores.

A reputação da marca toma uma importância e um

sentido singulares no século 21, bastante divulgado

pelas redes sociais, no tocante a temas que até então o

setor privado lucrativo não se dedicava tanto: cidada-

nia, sustentabilidade, responsabilidade social, ética,

bem-estar coletivo.

O consumidor moderno é resultado de lutas por

direitos, acesso e poder de escolha. As crises têm for-

mado um consumidor que, agora, pode ser sujeito no

consumo, quando acessa a cidadania plena nas rela-

ções de compra. A cidadania, por sua vez, assim como

o consumidor, também é permanentemente reconfi-

gurada pela sociedade. A luta então é constante. Pas-

samos de uma sociedade de consumo para uma socie-

dade de consumidores.

Como consumidores, estamos destinados a recla-

mar. A questão é como cada empresa lida com esse

conflito. O conflito é inevitável e envolve a crise. Mas

essa crise pode ser motivadora para a tomada de cons-

ciência e transformação, não do capitalismo para outro

sistema, mas para umcapitalismo justo. Neste sentido,

esse conflito é bem-vindo. Afinal, onde não há conflito

não há vida!

Fábio Mariano Borges

Especialista em pesquisa e comportamento do consumidor, é professor

na ESPM, FGV, FIA-USP e Faap, doutorando em sociologia do consumo

na PUC-SP, mestre em ciências sociais (PUC-SP), publicitário (ESPM) e

pós-graduado em marketing (ESPM) e ciências sociais (USP)

Passamos de uma sociedade de

consumo para uma sociedade de

consumidores. Como consumidores,

estamos destinados a reclamar

Internautas boicotamempresas emarcas no Facebook por

qualquermotivo: asmanifestações vão do consumismo

exacerbado à denúncia de preços abusivos e produtos de

baixa qualidade. Esse tipo demovimento deu origema sites

como oReclameaqui e oBoicotaSP