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Educação

Revista da ESPM

| janeiro/fevereirode 2014

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pessoas se apropriamda coisa pública nos vários níveis

de governo. Nada de inédito ou recente. Aqui se trata

de cultura herdada, ancorada nos costumes, mas antes

parecia haver um pouco mais de decência. O combate

legal e pela imprensa, nos últimos anos, foi vigoroso,

mas não parece ter produzido efeitos consistentes. Pelo

menos, não ainda. Nesse domínio, muita gente percebe

a última década como uma involução.

No campo dos direitos econômicos, para dar exem-

plo emevidência, vimos o seguro-desemprego se tornar

fonte vigorosa de gastos do Estado, item oneroso, que

representa duas vezes o orçamento do Bolsa Família,

no mesmo momento em que a economia alcança pleno

emprego. Como explicar que ummaior nível de emprego

leva amaior gastocomo seguro-desemprego?Simples: os

trabalhadores,tendoboasofertasdeemprego,começaram

a se demitir para acumular o seguro ao salário de outro

emprego, este informal. Uma fraude, tornada corriqueira.

A origem da crise

A lista de problemas é tão extensa que é preciso partir do

fatodeque issonãoé fenômeno recente. Temorigens pro-

fundas na formação da sociedade, na cultura das elites e

do Estado. E — é preciso admitir — também está na base

da população. A crise ética brasileira não tem classe. É

pior emais grave nos estratos superiores porque as res-

ponsabilidades são maiores, mas é ampla e irrestrita.

Quase todos os estudiosos da nossa cultura, de padre

Vieira a Joaquim Nabuco, de Raimundo Faoro a Darcy

Ribeiro,passandoporSérgioBuarquedeHolandaeGilberto

Freire,jásustentavamqueaformaçãoculturalbrasileiraera

problemática. Umacortecarcomidapor séculosdeestabi-

lidadesebastianistagovernaraascolônias,enviandooque

conseguissedeaventureiros. Poucas famíliasdominavam

todas as terras, compoder de impor sua vontade como lei.

Já foi notado que a palavra “brasileiro” exprime pro-

fissão ou atividade, não nacionalidade. É como ferreiro,

padeiro, fazendeiro e banqueiro, diferente de italiano,

inglês, alemão ou chinês. E profissão, sabe-se, organiza

atitudes emtorno de interesses, não de convicções. Essa

gente veio conquistar o país disposta a tudo, inclusive

matar e escravizar sua força de trabalho. Não nutriam

apreço por escolas, muito menos aqui, no além-mar.

Claudio de Moura Castro, sempre que pode, alerta que

nosso deficit educativo chega em um navio de Portugal,

Vista aéreada CasadeDetençãono Complexodo Carandiru,

durante ação realizada peloPCC (Primeiro Comando da

Capital), emfevereiro de 2001, que promoveuuma série

de rebeliões emdiversos presídios de SãoPaulo

mônica zarattini

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