janeiro/fevereirode2014|
RevistadaESPM
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país quemais tardiamente na Europa se preocupou com
a educação nacional.
Os povos nativos, totalmentedespreparados para opor
resistência à ocupação de suas terras, consumiram as
forças emnão ser escravizados. Os africanos, a quemos
europeus recorreram para expandir os negócios, foram
submetidos àmais violenta transumância da história da
humanidade, combinada àsmais cruéis formas de desa-
culturação. Jánãovinhamdeumcontinentepropriamente
estruturado, oque se constatano fatode que os portugue-
ses (e todos os outros) não embrenhavam o continente
para capturar seus escravos. Trocavam-nos por cachaça,
rum, açúcar e fumo em entrepostos costeiros. Aliás, a
qualidade dos produtos desse comércio é sugestiva da
perversidade do processo.
Mais tarde, os imigrantes, vindos de muitas origens,
deseducados, lutando tenazmente por uma emancipa-
ção econômica que lhes levaria reconhecimento social,
não puderam contribuir muito para a consolidação de
valores compartilhados, a não ser alimentando aquele
que talvez tenha se tornado o mais nobre traço do povo
brasileiro — a tolerância.
Esse
melting pot
, submetido àmarcha forçadamoder-
nizadora do século passado, tornou-se um caldei-
rão de tumultos éticos. Essa ausência das noções de
responsabilidade e dever como fundamentos da vida
política e profissional foi registrada porMonteiro Lobato
emJeca Tatu a propósito da Transladação da Corte; a pri-
vatização dos recursos do Estado, herança lusitana pro-
funda comomostrou Faoro; a incapacidade de planejar
seriamente, uma tendência à permanente desordem,
que tanto incomodava Sérgio Buarque de Holanda. Não
há ilustraçãomelhor que o tumulto do plenário do Con-
gresso Nacional: todos de pé conversando, enquanto os
oradores se sucedem, imagemquedeve sugerir aomundo
um país completamente esculhambado, se tiverem
palavra com significado semelhante nos seus léxicos.
O resultado histórico abrange uma extensa lista de
situações aberrantes: verbas para situações de emergên-
cia desviadas; merendas escolares transformadas em
uísque, equipamentos abandonados emhospitais, obras
inacabadas. Desleixo, desmazelo e negligência como tra-
ços palpáveis de um jeito de ser. Perdoem a dureza das
palavras,masoBrasil precisaenfrentar seudramamoral.
Não vamos avançar atenuando a gravidade do problema.
Tumultono plenário do CongressoNacional:
todos de pé conversando, enquanto os oradores
se sucedem. Esse tipo de cena deve sugerir ao
mundo a imagemde umpaís esculhambado
dida sampaio
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