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janeiro/fevereirode2014|

RevistadaESPM

93

Bemoumal,

asmarcas

educam!

Deseducar é a frequente sina de quemeduca semrefletir sobre o que faz. Considerando que

todamarca transmite algumensinamento, as estratégias demarketing irão precisar termais

profundidade e densidade de pensamento para amensagem fazer sentido aos consumidores

Por Gustavo Pinto

D

efinir o sentido dos termos a seremusados é

a primeira tarefa a que deve se dedicar quem

deseja se fazer entender. Em seu título, o

artigo afirma que marcas educam, logo é

preciso aclarar o significado do verbo “educar”. Apalavra

vemdo latim

educere

,

ex

(fora) e

ducere

(conduzir, levar).

Em sua origem etimológica, educar então descreve um

movimento do interior em direção ao exterior, isto é,

expressa o desenvolvimento de aptidões, a capacitação,

a tarefa de ajudar alguéma se aprimorar. Educação tam-

bém implica instruir, termo que emsua origemdescreve

ummovimento em direção oposta, do exterior ao inte-

rior, no prover de conhecimentos. Nume noutro caso, a

educação envolve sempre o compartilhamento de valo-

res que estruturam e dão sentido ao que se desenvolve

e ao que se adquire. A educação ajuda a formar um ser

humano íntegro, capaz de, por toda a vida, tornar ativos

e eficazes seus potenciais, para assimser contributivo a

si mesmo, à sociedade e aos seus semelhantes. Os valo-

res são as fundações de sentido sobre as quais o prédio

da educação deve se apoiar.

No passado, os valores eram transmitidos primeiro

pela família e, emseguida, pela escola. Ambasmudaram

muito. A visão humanista do ensino foi atropelada pelo

pragmatismo de resultados, que passou a pressionar as

escolas para a prioridade da transmissão de conheci-

mentos que, ao final do ciclo escolar, capacitemo aluno

ao vestibular, restando cada vez menos espaço para os

valores. É significativo que tantas escolas hoje apresen-

tem o sucesso de seus ex-alunos nos vestibulares mais

disputados, como evidência de excelência. Nas famílias

modernas, todos osmembros corrempara cumprir agen-

das sobrecarregadas. Nas horas livres, o on-line exerce

seu poder de fascínio e resta cada vez menos espaço no

cotidiano das famílias ao diálogo sobre os valores.

É nesse cenário que se insere a comunicação dasmar-

cas. A necessidade comercial que move marcas a comu-

nicar é algoóbvio e que todos desde sempre sabem. Aevi-

dênciasimplesdessamotivaçãonatural induzàsuposição

deque aquestãodo sentidoda comunicaçãodemarcas se

esgote aí. Uma dimensão implícita e sutil, mas de crucial

relevância, tende a ser ignorada.

Toda a comunicação de marcas transmite valores,

mesmo quando ignora que o faz. Valores transmitidos

inconscientemente numa comunicaçãomassiva podem

gerar desastres. Quase quatro décadas se passaram, a

marca já não existe, mas os brasileiros que assistiram

ao comercial em 1976 ainda hoje recriminam a frase

que não se quer esquecida: “Gosto de levar vantagem

em tudo, certo?”.

Quem transmite valores exerce uma parte vital da

educação. Vejamos mais umexemplo de valores que são

transmitidos não intencionalmente, mas que nem por

isso têmmenos poder de influência: quando alguns

pri-

vate labels

restringemsua comunicação à informação do

preço, comoditizam tudo o que oferecem. A mensagem

implícita numa comunicação que se restringe apenas a

preço é que no interior daquela categoria nada se distin-

guedemaisnada senãopelopreço.Mais grave ainda, esta

mensagem no fundo induz à conclusão de que preço é a

medida que determina o valor de tudo.

Quem escolhe a estratégia de comunicar somente

preçodeveriaantes refletir seessa lheparece ser amelhor

maneira de educar as futuras gerações, se é assim que

queremos que nossos filhos vejamomundo e façamsuas

escolhas de vida. Deveríamos nos perguntar se dessa