Mundo
Revista da ESPM
| janeiro/fevereirode 2014
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E o abismo entre ricos e pobres está aumentando a cada
ano, como aponta a reportagem especial “
For richer, for
poorer
”, publicada na
The Economist
, emoutubro de 2012.
Quando o mito da mobilidade social é derrubado, é
natural que o jovem se sinta desiludido e que o grau de
compromisso cívico despenque. É triste ver que, na Itá-
lia, Silvio Berlusconi é basicamente admirado — e amen-
sagem é: a pilantragem compensa!
Para que uma nação seja uma “democracia liberal”, é
preciso transparênciae, creioeu, bastante sortena loteria
histórica. FicopensandocomoseriaoBrasil se tivessesido
“descoberto”pelosinglesesefosseumanaçãoprotestante...
E, sim, ter esse jeito “malandro” — ou “furbo”, como
dizem na Itália — é mais a regra do que a exceção. Um
mau exemplo produz coisas ainda piores.
É interessante analisar a baderna atual pela ótica de
MonteiroLobato, cujavisãodoBrasil edos valoresdopaís
apresentavasempredois lados.Oescritorobviamenteata-
cava a corrupção e tudo omais — e defendia a industriali-
zação e a “modernidade”. Por outro lado, era basicamente
um protecionista, para quem o petróleo não podia ser
nada alémdoque “nosso”. Emcertos temas, era tidocomo
um “chato”, mas no
Sítio do Picapau Amarelo
, Pedrinho é
o bomcidadão, o homemmoderno. Já Emília, a persona-
gemfavorita de Lobato, é semdúvida amaismalandra de
todas, comomostrono livro
A literatura infantil deMonteiro
Lobato: uma pedagogia para o progresso
(Instituto Cultu-
ral ESPM, 2012). Apanóplia de personagens do autor tem
muito a ver como tema desta edição da
Revista da ESPM
.
Cenas da vida real
O perfil demográfico do país tambémpesamuito nessa
história. Emcertas nações, a população dobra a cada 12
anos emetade temmenos de 22 anos de idade. Algumas
— sobretudo aquelas nas quais a religião patriarcal e os
autocratas religiosos querem permanecer no século 7
e desfrutar ao mesmo tempo do século 21, desde que a
mulherada não possa dirigir — estão ideologicamente
condenadas (os sauditas obviamente achamque pilotar
um carro faz mal para nossos ovários).
Para completar, há o destino do qual compartilhamos
enquantohumanos — incluindo aí os luditas, que se recu-
sama aceitar que a Terra está se aquecendo e a turma do
“Agora eu!”, cuja atitudenão é boapara o futuro. Emgeral,
os mais velhos não dão a mínima para os jovens — seus
netos, talvez até seus filhos. O crescimento populacio-
nal na Rússia e na China é, na verdade, negativo, assim
como na Europa, no Japão e na Coreia.
EéaíqueaeducaçãoeaESPMentramemcena.Apesardos
pesares,vocêsaomenoseducamojovem.Seriamuitointe-
ressantesaberoqueesses jovensachamdo tema “valores”.
Afinal, ficar reclamando — como os italianos fazemo
tempo inteiro — só produz depressão, inação e acomoda-
ção.Éverdadeque,nomundotodo,asnovasgeraçõespare-
cemmeiopreguiçosas, razãopela qual desisti de lecionar
na Fordham University, emNova York. Não suportava a
indiferença e a falta de motivação e curiosidade intelec-
tual dos alunos — que se encaravam como consumido-
res, não estudantes. Na cabeça deles, estavam gastando