janeiro/fevereirode2014|
RevistadaESPM
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um bom dinheiro para “comprar uma credencial” que
franquearia seu acesso aomundo “tecnofeudal”, no qual
essa credencial é sinônimo demobilidade social — ou, no
mínimo, que preservaria seu lugar na ordem social, evi-
tando assimo seu rebaixamento.
Se o aluno é um “consumidor”, o que passa a ser o pro-
fessor?Alguémobrigadoadar notaboa aos pupilos, ainda
que estes não mereçam, para não correr o risco de ser
reprovado pela turma e ir parar na rua?E, agora quemais
dametade do corpo docente das universidades america-
nas é “adjunta” — gente semcompromisso coma institui-
ção, semestabilidade, sembenefícios —, enquanto uma
turminha de administradores e de professores ganha
fortunas (e o custo de um diploma universitário sobe a
um ritmo espantosamente maior do que o da inflação),
mudou muito o perfil da universidade.
Não vou entrar numa arenga sobre o ensino a distân-
cia, pois minha opinião sobre o tema não é definitiva e
ninguém pode negar que o aluno com um diploma de
Harvard temvantagemsobre o colega comoutro tipo de
canudo,mesmooprimeiro tendosidoumalunomedíocre.
Enquanto isso, naÁsia, temalunoque se suicida senão
for admitido à escola secundária ou à faculdade certa e o
martíriodeexamesdeadmissãocriaumsistemaeducacio-
nal que premia o decoreba e inibe a expressão do talento.
Faltou dizer que o Brasil é o país mais democrático
dos Brics. E aí está a ironia — ser tão democrático no sen-
tido externo e ter um compromisso tão frágil com valo-
res cívicos e liberais na prática. Comefeito, o dilema ao
redor domundo émanter “eleições” e o aparato da demo-
cracia liberal desvinculados da realidade econômica e
sociocultural da nação.
Todomundo temo governo quemerece, incluindo os
EstadosUnidos. Emvezdecruzar osbraços, o jovemdevia
estar se lançandoàpolítica, criandouma alternativapara
o cenário atual. Veja tudo o que minha geração mudou:
direitos civis, movimento antiVietnã, e tudo embalado
pelo
rock’n’roll
e porWoodstock, pela cultura, pelamúsica
e muito mais. Sim, vocês podem, e devem fazer!
Rose Lee Hayden
Integrou o Corpo de Paz do governo de Jimmy Carter, foi professora,
divulgadora e produtora de TV para ensino de idiomas, e hoje é consultora
internacional, escritora, especialista na obra de Monteiro Lobato e autora
do livro
A literatura infantil de Monteiro Lobato: uma pedagogia para o
progresso
(Instituto Cultural ESPM, 2012)
É interessante analisar a baderna atual da
sociedade brasileira pela ótica deMonteiro
Lobato, que atacava a corrupção e tudo omais,
e defendia a industrialização e a “modernidade”
divulgação