janeiro/fevereirode2014|
RevistadaESPM
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Overdadeirosítio
dopicapauverde-amarelo
Aobra infantil deMonteiro Lobato explica a baderna atual emque vive o Brasil.
Na teoria, é o paísmais democrático dos Brics. Já, na prática, apresenta um
dosmais frágeis compromissos comvalores cívicos e liberais
Por Rose Lee Hayden
I
magino que você tenha tomado conhecimento da
reportagemsobre oBrasil que a revista
The Econo-
mist
publicou no dia 28 de setembro de 2013. “
Bra-
zil’s future. Has Brazil blown it?
” não é o primeiro
artigo a falar do protecionismo, da corrupção e de outras
mazelas brasileiras.
Mas o fato é que, analisando o panorama mundial, é
fácil concluir que o Brasil não está sozinho — embora,
infelizmente, o país não esteja fazendo jus a seu poten-
cial. Talvez vá sempre ser “o país do futuro”, enquanto os
Estados Unidos, temo, sejam “o país do passado”, dados
o impasse político e a crescente desigualdade social.
Ao que parece, a raça humana entrou numa nova fase.
Éoque chamode “tecnofeudalismo”: quemnão está onde
o dinheiro ou a informação trocam de mãos é classifi-
cado como “servo”. Alémde limitada, amobilidade social
depende, cada vezmais, doberçoouda educação. Amaio-
riadospaíses, incluindoa Itália, regrediuparaumsistema
de “castas” — que, embora não reconhecido abertamente
como tal, é, ameu ver, uma realidade.
Nessecenário, há, ainda, ocrescimentodo “capitalismo
de Estado” versus o “capitalismo liberal”. O capitalismo
de Estado tem graus distintos de autocracia, opressão
e protecionismo. Tal fato é apontado em outra grande
reportagem publicada pela
The Economist
, em janeiro
de 2012, que recebeu o título de “
The visible hand
”. Rús-
sia e China são, na prática, o que chamo de “cleptocra-
cias”. Ali, a nação é despojada de seus recursos e o país
é governado por autocratas que não só se apossam da
riqueza nacional, como tambémimpõemtodas as regras
e se certificam de que praticamente não haja imprensa
livre,mobilidade pessoal, liberdades etc. Nessa categoria
entram também os países africanos com abundantes
recursos naturais —países cujos líderes se perpetuamno
poder, cujo povo é verdadeiramente pobre e oprimido,
enquanto uma riqueza obscena vai parar nas mãos das
truculentas máfias no comando.
Preciso lembrar domundoárabe, doOrienteMédioede
outros lugares abençoados como petróleo? Contar com
recursosnaturaisnessa escala estámaisparaumamaldi-
çãodoqueuma vantagemcompetitiva. Bastadizer queos
países africanos desprovidos dessa dádiva tendema ser
umpoucomais livres do que as nações domundo árabe.
Já a “democracia liberal” pode se tornar selvagem à
medida que o fosso entre “ricos” e “pobres” aumenta.
Segundo Nicholas Kristof, do
The New York Times
, em
termos estatísticos, a distribuição de renda nos Estados
Unidos é praticamente igual à da Nigéria e à da Guiana.
”
Brazil’s future. HasBrazil blown it?
”, artigo da revista
The Economist
aborda o protecionismo, a corrupção
e outrasmazelas brasileiras