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janeiro/fevereirode2014|

RevistadaESPM

97

Overdadeirosítio

dopicapauverde-amarelo

Aobra infantil deMonteiro Lobato explica a baderna atual emque vive o Brasil.

Na teoria, é o paísmais democrático dos Brics. Já, na prática, apresenta um

dosmais frágeis compromissos comvalores cívicos e liberais

Por Rose Lee Hayden

I

magino que você tenha tomado conhecimento da

reportagemsobre oBrasil que a revista

The Econo-

mist

publicou no dia 28 de setembro de 2013. “

Bra-

zil’s future. Has Brazil blown it?

” não é o primeiro

artigo a falar do protecionismo, da corrupção e de outras

mazelas brasileiras.

Mas o fato é que, analisando o panorama mundial, é

fácil concluir que o Brasil não está sozinho — embora,

infelizmente, o país não esteja fazendo jus a seu poten-

cial. Talvez vá sempre ser “o país do futuro”, enquanto os

Estados Unidos, temo, sejam “o país do passado”, dados

o impasse político e a crescente desigualdade social.

Ao que parece, a raça humana entrou numa nova fase.

Éoque chamode “tecnofeudalismo”: quemnão está onde

o dinheiro ou a informação trocam de mãos é classifi-

cado como “servo”. Alémde limitada, amobilidade social

depende, cada vezmais, doberçoouda educação. Amaio-

riadospaíses, incluindoa Itália, regrediuparaumsistema

de “castas” — que, embora não reconhecido abertamente

como tal, é, ameu ver, uma realidade.

Nessecenário, há, ainda, ocrescimentodo “capitalismo

de Estado” versus o “capitalismo liberal”. O capitalismo

de Estado tem graus distintos de autocracia, opressão

e protecionismo. Tal fato é apontado em outra grande

reportagem publicada pela

The Economist

, em janeiro

de 2012, que recebeu o título de “

The visible hand

”. Rús-

sia e China são, na prática, o que chamo de “cleptocra-

cias”. Ali, a nação é despojada de seus recursos e o país

é governado por autocratas que não só se apossam da

riqueza nacional, como tambémimpõemtodas as regras

e se certificam de que praticamente não haja imprensa

livre,mobilidade pessoal, liberdades etc. Nessa categoria

entram também os países africanos com abundantes

recursos naturais —países cujos líderes se perpetuamno

poder, cujo povo é verdadeiramente pobre e oprimido,

enquanto uma riqueza obscena vai parar nas mãos das

truculentas máfias no comando.

Preciso lembrar domundoárabe, doOrienteMédioede

outros lugares abençoados como petróleo? Contar com

recursosnaturaisnessa escala estámaisparaumamaldi-

çãodoqueuma vantagemcompetitiva. Bastadizer queos

países africanos desprovidos dessa dádiva tendema ser

umpoucomais livres do que as nações domundo árabe.

Já a “democracia liberal” pode se tornar selvagem à

medida que o fosso entre “ricos” e “pobres” aumenta.

Segundo Nicholas Kristof, do

The New York Times

, em

termos estatísticos, a distribuição de renda nos Estados

Unidos é praticamente igual à da Nigéria e à da Guiana.

Brazil’s future. HasBrazil blown it?

”, artigo da revista

The Economist

aborda o protecionismo, a corrupção

e outrasmazelas brasileiras