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janeiro/fevereirode2014|

RevistadaESPM

95

onde o consumidor exige sentido até mesmo da bebida

que se quer escolhida por ele.

Vivemosumturbulentomomentodetransiçãonaciviliza-

ção,quandoosindivíduossãodesafiadospormudançascada

vezmais aceleradas que dissolvematémesmo osmodelos

deconvívioquefundamentaramsociedadesporséculosou

milênios.Afamíliapatriarcal,queperdurounoBrasildesde

a chegada dos primeiros colonizadores que aqui se radica-

ram,estádesaparecendonocursoapenasdedécadas,enin-

guémaindapodesaber comoseráonovomodelo familiar.

As ideologias que incendiaram paixões no século 20

envelheceram, utopias ruíram.

Mundos desabam, novos mundos surgem de repente.

Vetustas instituições são questionadas. Valores tradicio-

nais se esfumam.Muitas pessoas estãoperplexas, outras

angustiadas,inseguras,ebuscamumapalavraqueasajude

a pensar. Sobre tudo isto que é tão relevante e desafiador

para o seu público, empresas que têm tanto poder sobre

os rumos domundo, o que dizemna fala de suasmarcas?

O que uma marca diz precisa ser significativo e rele-

vante para o consumidor. Só assim a comunicação

poderá ser contributiva para a marca. O consumidor

brasileiro está cada dia mais instruído, não apenas por

termos maior percentual da população frequentando

escolas. Hoje, o ensino já não acontece apenas nas salas

de aula. Ocorre a qualquer hora e on-line. Consumidor

mais instruído significa também cidadão mais ques-

tionador e exigente.

Recentemente, Philip Kotler disse que o marketing

precisa recorrer à antropologia, à sociologia, à psicolo-

gia. Isso é importante, mas não suficiente. Para que os

conhecimentos aportados por essas disciplinas possam

se tornar plenamente fecundos ao marketing, é pre-

ciso construir uma análise cultural, que supõe criar as

sinapses interpretativas entre as contribuições das três

disciplinas, para então chegar à compreensão do caldo

cultural em que se insere o consumidor. Essa síntese

interpretativa é tarefa da ciência do sentido, a filosofia.

Semumquestionamentosériodosentido, queéaessên-

cia do saber e da prática filosófica, o marketing corre o

risco de continuar chafurdando em chavões da moda.

Estratégia de marketing vai requerer cada vez mais pro-

fundidade e densidade de pensamento.

Tudo isso porque as marcas educam. E o fazem sem-

pre, independentemente de que o saibam ou queiram.

Deseducar é a frequente sina de quem educa sem refle-

tir sobre o que faz.

Para concluir, é preciso ressaltar que mesmo o que

possa aqui soar à primeira vista inusitado, na verdade

nada temde inaugural. Muito ao contrário. Não precisa-

mos ir longe para encontrar os precedentes. No Brasil,

mais de quatro décadas atrás, o presente artigo pouco

traria de novidade para Luiz Seabra, quando então fun-

dava a Natura, para Max Feffer, quando promovia cur-

sos de filosofia, arte e história para os gestores da Com-

panhia Suzano e para Roberto IrineuMarinho, quando

ainda jovem ressaltava a importância da filosofia e das

ciências humanas para a visãode comunicaçãodaGlobo.

Assim fazem os verdadeiros precursores. Eles sabem

enquanto muitos ignoram, e ignoram as incompreen-

sões que alguns então lhes dedicam. Eles ousam fazer

quando muitos duvidam, e seguem inovando quando

tantos passam a imitá-los.

Gustavo Pinto

Sócio da ConcretoBrasil, Inteligência de Mercado para Soluções de

Marketing

(www.concretobrasil.com.br)

, conferencista convidado nas

Universidades de Berkeley, Oxford, Calgary, Lausanne, Viena e Otani-Kyoto

Quemescolhe comunicar somente

pelo preço deveria refletir se essa

lhe parece ser amelhormaneira de

educar as futuras gerações

Comercial da Coca-Cola com jovens de diferentes etnias

cantando pela paz, veiculado durante a guerra doVietnã,

mostrou a crença damarca numa hora grave da história

divulgação