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História

Revista da ESPM

| janeiro/fevereirode 2014

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Movimento jovem

EmNietzsche, a ideia do “martelo” ouno caso domartelo

“sagrado” de Thor representa uma declaração de guerra,

uma luta semquartel, contra amoral cristã e os erros da

filosofia e das ideias presentes no mundo atual. O espí-

rito de luta pode ser observado no subtítulo da obra, pois

a palavra “martelo” deve ser entendida como um tipo de

marreta capaz de eliminar e destroçar os ídolos. Colo-

candoos juízos de valor sobre a vida como imbecilidades,

o autor nos demonstra que tais valores nemsequer exis-

tem. Esses valores, tratados pela religião como um todo,

são apenas sintomas da doença da ilusão da realidade.

Nas mensagens da juventude brasileira transmitidas

durante o mês de junho do ano passado, em São Paulo,

temos a expressão de uma insatisfação crescente da

política partidária e seus atores, que são corruptos e

não representamesses jovens. Ohomemnão quer viver

melhor para suprir uma falta, mas simplesmente para

positivar seu desejo, que, sendo positivado, é insaciável.

OEstado, que deveria ser o tutor do bemcomume dis-

tribuí-lo de forma equitativa, acaba sendo o defensor do

bem comumdas minorias. A defesa dos direitos huma-

nos é uma causa justa, mas o Estado, que deveria levar

adiante essa causa, é um dos principais violadores dos

direitos humanos.

A felicidade para os jovens não consiste simplesmente

na concretizaçãododesejo,mas emsua contínuamarcha

(leia-se procura), pois tal realização abre caminho para

outro desejo, que cessará apenas com a morte. O desejo

adquire,portanto,umcarátersempreprovisório,insaciável

e inesgotável, já que “o fatode odesejo localizar-se, neces-

sariamente,numobjetoausente(edeosfinsseremsempre

provisórios)eliminaapossibilidadedaidentificaçãodafeli-

cidadecomoummododeagireintroduz,inevitavelmente,

uma lógica de resultados. “Tudo o que os homens fazemé

emnome da aquisição de algo que julgamumbempara si

próprios”, comomostraYaraFratteschi, em

A físicadapolí-

tica: Hobbes contra Aristóteles

(Unicamp, 2008).

Para tratar do aspecto moral do estado de natureza,

ThomasHobbes objetivamente define que bomé oobjeto

desejadoemau, oobjetodaaversão.Nessecaso (osdesejos

dos jovens), os sujeitos estão submetidos ao subjetivismo

dos valores (daí a enorme variedadede reivindicações em

seumovimento), estabelecendoosujeito (a ser alcançado)

como critério avaliativo. A partir dessa determinação,

pode-se concluir que não existe uma moral absoluta ou

universal, pois o objetodesejado é definido como bomou

mau, de acordo como sujeito desejado.

Paranossos jovens, que comseusdedos ágeis correndo

pelos tecladosde seus celulares comunicaram-se, saíram

às ruas em muitas cidades do mundo, explica-se esse

fenômeno sociológicocomouma identidade emsi napro-

curademutações dentrode uma ação global demultidão.

Pedindoo impossível eobtendoopossível, coma redução

da tarifadoônibus, o sonhoutópicodesses jovens levanta

Cenas de

A lista de Schindler

(à esquerda) e

A vida é bela

(à direita), filmes que nos dão pistas

para entender osmistérios damente humana,

capaz de produzir episódios como oHolocausto

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